.Por André Henrique.

Jair Bolsonaro é um indivíduo típico do neoliberalismo radicalizado (que poderia ser classificado como anarcocapitalismo ancorado pela ideia de ampliar a “liberdade individual” e a “liberdade econômica” a pontos extremos).

(foto andré banyai – ccl)

Em várias situações Jair Bolsonaro coloca o indivíduo acima do bem-comum. Nota-se isso em seus discursos, a saber: “não uso máscara, meu direito”; “tomo vacina se eu quiser”; “e a minha liberdade de aglomerar, tá ok?”.

Apesar de reacionário e de reproduzir comportamentos e linguagens fascistas, Jair Bolsonaro bebe no individualismo militante da extrema-direita norte-americana. Inclusive a sua campanha recebeu apoio do bandido Steve Bannon, colegão do Olavo de Carvalho e ex-assessor do Donald Trump.

Uma das expressões mais asquerosas desse comportamento é tratar o indivíduo como empresário de si mesmo e o único responsável por suas desventuras pessoais.

Ou seja, se a Ford foi embora e você ficou desempregado, problema seu. Se você é inteligente, esforçado, mas ganha mal como professor, problema seu. Se mora na favela e não tem dinheiro para cursar faculdade ou para se preparar para entrar em uma universidade pública, idem, problema seu. E por aí vai.

A causa estaria no indivíduo, não nas estruturas sociais e de classe. O neoliberal despreza o Estado (na prática, quando convém, sobretudo à classe dominante) e a mobilização política. O neoliberalismo quer indivíduos comportados, não deseja confronto de classe, porque para ele não existe classe nem sociedade, mas indivíduo.

O extremista de direita vai mais longe: odeia a racionalidade e os parâmetros. Por isso Jair Bolsonaro ataca a ciência, as universidades, a imprensa e cortou verbas do IBGE. Estatística e conhecimento organizado para quê? Manda no WhatsApp que ivermectina cura covid e dá ereção, e está tudo certo.

Com o desmantelo do Estado de bem-estar social, o desenvolvimentismo deu lugar ao neoliberalismo e a sociabilidade mudou. Com menos Estado para dar socorro à maioria, os indivíduos vão atrás do que têm à mão para resolverem questões pessoais.

Por conseguinte, cresceram as literaturas de autoajuda, misticismos, a demanda por psiquiatra, explodiu a profissão do coaching e o surgimento de gurus com fórmulas mágicas para o sucesso individual. A partir daí cria-se uma massa crítica que acha que o destino do indivíduo depende exclusivamente de suas escolhas. Patético, mas essa boçalidade existe, e tem força.

Jair Bolsonaro é uma expressão perversa dessa radicalização da indiferença social e isso fica claro em várias situações, inclusive na mais recente: o genocida esnobou uma admiradora que queria lhe entregar uma carta contando das dificuldades que tem passado com a mãe. Jair Bolsonaro alegou que não iria ler porque recebe muitas cartas, e completou: “por dificuldades, todo mundo passa”.

Certamente não a sua família: o filho 04, um tal de Renan, com interferência do governo federal, avança como “empresário” na área de games. Flávio Bolsonaro, o da rachadinha, comprou mansão de mais de 06 milhões em Brasília. Jair Bolsonaro mama nas benesses do Estado há décadas e prospera materialmente na presidência junto com seus familiares.

Enquanto isso os indivíduos atomizados são abandonados ao “cada um por si’ neoliberal, com cada vez menos direitos sociais e serviços públicos para atenderem às suas necessidades. Mas, “todo mundo tem dificuldades” e, “cada um arque com a sua, como é mesmo?, autorresponsabilidade”.

Jair Bolsonaro foi insensível e grosseiro? Sim, mas não se espantem: muitos concordam com a atitude do presidente, porque tal como ele são frutos da sociabilidade neoliberal e anarcocapitalista da extrema-direita.

André Henrique, cientista político e jornalista. Editor dos canais de política Rede Popular e Independente