Herança para Todos – Uma ‘herança’ de 120 mil euros para todo jovem de baixa renda ao completar 25 anos. Essa é uma das propostas do economista francês Thomas Piketty, que é diretor de estudos da École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, École d’économie de Paris, para combater a desigualdade mundial.

Piketty (foto luiz munhoz – fronteiras do pensamento – ccl)

Em artigo publicado no ‘Le Monde‘, que teve tradução de Aluisio Schumacher, para a Carta Maior, o economista autor de ‘O Capital do Século 21’ defende que renda básica, garantia de emprego e herança para todos está ganhando força em vários locais do mundo. “Essas propostas são complementares e insubstituíveis. Em última análise, todas devem ser colocadas em prática, em etapas e nessa ordem”, escreveu.

Uma das propostas que chama a atenção é a que propõe uma espécie de herança aos jovens quando completarem 25 de idade. Veja o que ele diz:

“O último mecanismo que poderia completar o conjunto, em complemento à renda básica, à garantia de emprego e de todos os direitos associados ao mais amplo Estado de bem-estar (educação e saúde gratuitas, aposentadorias e fundo desemprego fortemente redistributivos, direitos sindicais, etc.), é um sistema de herança para todos.

Quando se estuda a desigualdade no longo prazo, o mais impressionante é a persistência da hiperconcentração da propriedade. Os 50% mais pobres quase nunca possuíram algo: 5% do patrimônio total na França hoje, em comparação com 55% para os 10% mais ricos. A ideia de que basta esperar que a riqueza se espalhe não faz muito sentido: se fosse este o caso, já teríamos percebido há muito tempo.

A solução mais simples é uma redistribuição da herança permitindo que toda a população receba uma herança mínima, que para fixar ideias poderia ser da ordem dos 120.000 euros (ou seja, 60% da riqueza média por adulto). Transferida a todos aos 25 anos, seria financiada por uma mistura de impostos progressivos sobre riqueza e herança, rendendo 5% da renda nacional (montante significativo, mas atingível em determinado prazo). Aqueles que atualmente não herdam nada, teriam 120.000 euros, enquanto aqueles que herdam 1 milhão de euros receberiam 600.000 euros após impostos e dotações. Estamos, portanto, ainda longe da igualdade de oportunidades, princípio muitas vezes defendido em nível teórico, mas do qual as classes privilegiadas desconfiam como uma peste assim que se considere o início de sua aplicação concreta. Alguns desejarão restringir seu uso; porque não, desde que se apliquem a todas as heranças.

A herança para todos visa aumentar o poder de negociação daqueles que não têm nada, permitir lhes recusar certos empregos, adquirir moradia, lançar-se em projetos pessoais. Esta liberdade tem tudo para assustar empregadores e proprietários, que perderiam docilidade, e para deliciar os outros. Estamos saindo dolorosamente de uma longa redoma. Mais uma razão para começar novamente a pensar e esperar. (Veja artigo completo AQUI)