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‘Senhora X, Senhorita Y’ propõe subversão do clássico de Strindberg e dá voz ao protagonismo da mulher

Online – Tendo como ponto de partida a peça A Mais Forte, de August Strindberg, SENHORA X, SENHORITA Y propõe uma subversão do clássico e dá voz ao protagonismo da mulher. A montagem estreia em ambiente virtual com apresentações gratuitas de 22 a 27 de abril, de quinta a terça-feira, às 20h, no canal do YouTube da Damas Produções. Nesta adaptação, as artistas Ana Paula Lopez, Camila Couto e Sol Faganello, juntamente com a diretora Silvana Garcia, realizaram um estudo a partir da peça encenada, potencializando as dinâmicas existentes para a linguagem audiovisual.

Em SENHORA X, SENHORITA Y duas atrizes (Ana Paula Lopez e Sol Faganello), e uma performer sonora (Camila Couto), se lançam em um jogo pelo qual intercambiam diversos papéis, explorando com humor ácido as construções heteronormativas do feminino sugeridas por Strindberg. Indo mais longe: elas desafiam o autor pela exposição de um disparador imprevisto: o corpo lésbico reivindicando o protagonismo da cena.

Senhora X, Senhorita Y (Foto: Maria Fanchin)

Com direção geral e dramaturgia de Silvana Garcia, a versão online –  contemplada pelo Edital ProAC Expresso Lei Aldir Blanc, do Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa – criada pelas artistas da Damas, tem direção audiovisual de Sol Faganello e conta com a direção de movimento de Ana Paula Lopez, dramaturgia sonora de Camila Couto, criação de luz de Sarah Salgado e direção de fotografia de Vitor Vieira.

Para Silvana Garcia, o formato audiovisual e online, garantem a continuidade do trabalho e abre a perspectiva de estimular a reflexão sobre gênero e sexualidade em um público ainda maior através do alcance das redes. “Faz tempo que o teatro não é só a caixa preta e a poética da peça nos trouxe discernimento para transpor o trabalho para o audiovisual”, explica a diretora e dramaturga.

A cargo da direção audiovisual a atriz e videomaker Sol Faganello conta que o maior desafio de adaptar o espetáculo para a linguagem audiovisual foi transformar o texto da peça em um roteiro que conduza o olhar do espectador de forma dinâmica e mantenha o interesse vivo. “A prioridade é compartilhar com o espectador as diversas camadas que o trabalho já oferece, como o jogo vivo e por vezes performativo entre as atrizes que mudam de papéis de forma rápida e transportam o espectador para dentro da linguagem metateatral; o desenho de movimento que agora pode ser potencializado pelos enquadramentos da câmera e a pesquisa sonora, que trouxe um aspecto ainda mais sensorial na camada audiovisual, pontuando, ressaltando ou contrapondo o que está no foco.”

Outro desafio foi o de realizar o trabalho de forma remota, com cada artista em sua casa, garantindo a segurança da equipe em meio a pandemia. “Nossa investigação foi no sentido de ampliar a escuta para que, apesar da distância, o jogo se estabeleça, e também de adaptar muitas cenas que acontecem entre nós no presencial, para uma nova proposição que funcionasse através da câmera”, afirma Sol Faganello.

A adaptação audiovisual também manteve a linguagem metateatral presente em SENHORA X, SENHORITA Y e assume o set de gravação instalado na casa das artistas. As luzes, a coxia, a equipe audiovisual são assumidas ao longo da encenação, trazendo o movimento que acontece no espetáculo: elas são as personagens e estão em um café, elas são as atrizes e estão em suas casas, que agora é também set, interagindo pela rede.

Os papéis das mulheres

Na peça A Mais Forte, Strindberg põe em confronto duas mulheres, a Senhora X e a Senhorita Y, porém dá voz apenas a uma delas, à mulher do lar, àquela que, mesmo supostamente traída, sai vitoriosa porque tem a seu favor a solidez da instituição do casamento; é ela quem serve e, ao mesmo tempo, domina o marido. Ambas são atrizes, porém, no texto, limitam-se aos papéis de mulher e amante, e só existem porque estão referidas a um homem.

Por ser um coletivo de mulheres, com convicção feminista, a Damas Produções se dispôs em confronto com a ficção strindberguiana. SENHORA X, SENHORITA Y não é a peça de Strindberg, e sim de uma paráfrase dela. A situação é similar, um mesmo cenário, uma mesma situação de início, mas, desta vez, Senhorita Y tem voz. Senhora X e Senhorita Y são duas mulheres que se opõem e se combinam, trocam constantemente de papéis, atravessando o tempo, falando delas na intimidade, mas também delas no mundo.

Neste trabalho as artistas se debruçaram sobre alguns dos papéis que a mulher desempenha na sociedade contemporânea, investigando aspectos muitas vezes contraditórios de sua inserção social e política, de seus investimentos afetivos e dos agenciamentos simbólicos que a cercam. O foco é a construção do feminino – o feminino domesticado, subalterno – do modo como ele se revela por meio da relação entre mulheres. “Para desafiar o autor ainda mais, rompemos o padrão da heteronormatividade trazendo para a cena o corpo lésbico: o universo da cena se amplia, já não são mais apenas duas, ou três, mas muitas vozes”, conta Silvana Garcia.

Reflexões em tempos de pandemia

Ao acompanhar Senhora X, que traz consigo o imaginário feminino conservador, e Senhorita Y, com a construção de uma mulher independente e feminista, numa sobreposição dialética de vozes, o público vê-se num caleidoscópio de mulheres, em sua pluralidade e sem julgamentos. Ainda se depara com um imprevisto impensado por Strindberg, a afirmação por parte de uma das atrizes de que é lésbica e a mudança de perspectivas a partir desta afirmação: como continuar o jogo performativo e metateatral, falar sobre as expectativas sob o feminino depois de um corpo lésbico pedir o protagonismo na cena?

“Vale dizer que a liga do espetáculo é o humor. Ao contrário do que se imagina, ao invés de apequenar, o riso dá mais dimensão ao problema. Alerta-nos para aquilo contra o qual devemos lutar. O humor é paródico, debochado, irônico, ácido, mas também ingênuo, preservando a simplicidade dos palhaços que apontam os defeitos com malícia e engenho”, revela a diretora e dramaturga.

SENHORA X, SENHORITA Y trata de diversos temas que rodeiam a realidade da mulher em suas diversas fases de vida: expectativas de comportamento, maternidade, sexualidade, violência de gênero, entre outros. Leva para a cena o debate de questões relevantes relacionadas à ampliação dos direitos da mulher e da lésbica, da perspectiva de como a construção do feminino se dá na relação entre mulheres, com a sedimentação de valores (sociais, estéticos, filosóficos) que impedem o pleno desenvolvimento da consciência do ser mulher e preservam para ela um lugar de subalternidade, reflexões tão importantes em tempos de pandemia em que os índices de feminicídio e violência doméstica, infelizmente, cresceram.

SENHORA X, SENHORITA Y

De 22 a 27 de abril, de quinta a terça-feira, às 20h, no canal do YouTube da Damas Produções [http://bit.ly/Damasproducoes]. Duração – 60 minutos. Recomendado para maiores de 14 anos. GRÁTIS. Após as apresentações acontece bate-papo da equipe com o público.

Direção Geral e Dramaturgia – Silvana Garcia. Direção Audiovisual e montagem – Sol Faganello. Texto e Roteiro – Silvana Garcia, Ana Paula Lopez e Sol Faganello. Elenco – Ana Paula Lopez, Sol Faganello e Camila Couto. Dramaturgia Sonora – Camila Couto. Direção de Movimento – Ana Paula Lopez. Direção de Arte – Sol Faganello. Performance Sonora e Operação de Som – Camila Couto. Concepção de Luz – Sarah Salgado. Direção de Fotografia – Vitor Vieira. Operação de Câmera – Vitor Vieira e Camila Picolo. Captação de Som – Eric Vasconcelos. Teaser e Edição – Sol Faganello. Assistência de edição – Camila Couto. Edição e Mixagem de Som – Daniele Dantas. Transmissão – Dita Produtora. Arte Gráfica – Sol Faganello e Camila Couto. Fotografia do Espetáculo – Maria Fanchin. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Mídias Sociais – Camila Couto. Produção Audiovisual – Dita Produtora. Produção e Realização – Damas Produções

Sinopse – Sob o pretexto de representar a peça A mais forte, de August Strindberg, duas atrizes e uma performer sonora se lançam em um jogo pelo qual intercambiam diversos papéis, explorando com humor ácido as construções heteronormativas do feminino sugeridas pelo texto. Indo mais longe: elas desafiam o autor sueco pela exposição de um disparador imprevisto: o corpo lésbico reivindicando o protagonismo da cena. O que diria Strindberg disso tudo?

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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