.Por Susiana Drepeau.

Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Fiocruz e a Rede Covid-19 Humanidades mostra que cerca de 20% dos médicos brasileiros poderiam receber punições ou mesmo ter seus diplomas cassados em países mais sérios por defenderem tratamentos sem comprovação científica e que colocam em risco o paciente. Segundo o levantamento, 22,2% dos médicos brasileiros defendem o uso do kit Covid, que são medicamentos sem comprovação científica, tem forte indícios de serem ineficazes para o Covid-19 e que podem prejudicar a saúde dos pacientes.

(foto ilust. gustavo fring – pxl)

A expressiva quantidade de médicos que defende essa prática mostra que o bolsonarismo penetrou culturalmente nas camadas médias da sociedade e tem agido como uma vendaval em todas as áreas e profissões, devastando e bagunçando as normas e padrões estabelecidos historicamente como a ética, boas práticas e condutas. Ele gera uma sensação de impunidade geral e irrestrita para prática de irregularidades e crimes em todos os setores. Vai do empresário ao policial, passando pelo médico e pelo professor.

Gabriela Lotta, pesquisadora de administração pública e coordenadora do Núcleo de Estudos da Burocracia da FGV, diz que a narrativa criada no país em torno da defesa do tratamento precoce, seja pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), seja pelo Ministério da Saúde, deu sustentação aos profissionais de saúde que defendem tratamento ineficaz e perigoso.

Os dados são da quarta fase da pesquisa. Foram feitas entrevistas virtuais com 1.829 profissionais da saúde pública no Brasil, incluindo médicos, profissionais de enfermagem, agentes comunitários, fisioterapeutas, dentre outros, entre os dias 1 e 20 de março de 2021. (veja mais sobre a pesquisaAqui)