Em São Paulo – Na comemoração aos 90 anos de Augusto de Campos, a Biblioteca Mário de Andrade recebe a exposição TRANSLETRAS, com a exibição de obras inéditas do artista-poeta produzidas entre 1974 e 1985.

TRANSLETRAS tem curadoria de Daniel Rangel e reúne toda a produção que Augusto de Campos realizou utilizando fontes de letraset entre 1974 e 1985. Cerca de cinquenta cartazes, dos quais 90% inéditos, serão exibidos em conjunto com estudos e manuscritos, além de obras expandidas criadas a partir dos poemas em letraset. Vídeos, esculturas e objetos poéticos são alguns dos suportes que Augusto utilizou para expandir seus poemas para além do papel.

O período revelado na exposição representa a fase de transição dos meios analógicos para os digitais na produção de Augusto. “Foi como encontrar uma caixa de pandora, por isso escolhi o não recorte-curatorial como caminho”, afirma Daniel Rangel. “O que vi era tão precioso que deu vontade de exibir para o público toda a produção em letraset desse período.”

Concretizada por meio do edital de exposições do PROAC, a mostra TRANSLETRAS acontece no Espaço Tula Pilar Ferreira e fica aberta à visitação até o dia 11 de maio.

Como parte da exposição, ocorrerá, ainda, um ciclo de palestras e apresentações ao longo de 2021, para celebrar a obra e o legado de Augusto de Campos.

Além dessa exposição, continua em cartaz na Mário de Andrade “Poema cidadecitycité pela cidade” até o dia 23 de abril de 2021. A mostra gira em torno do poema “cidadecitycité”, que Augusto de Campos definiu como “o maior poema de uma única palavra já escrito”.

O grande destaque é a versão audiovisual – um painel de led com 10 metros de comprimento instalado na fachada principal da Biblioteca Mário de Andrade, na rua da Consolação, 94. A exposição reúne, ainda, no hall de entrada, distintas versões do poema, criado em 1963, desde os primeiros experimentos gráficos até as versões audiovisuais posteriores, além de registros e documentos históricos.

A versão em led foi desenvolvida para a exposição REVER – Augusto de Campos, realizada em 2016 no SESC Pompeia, como resultado de um processo de composição coletiva entre o poeta e o curador Daniel Rangel, que também assina a curadoria das homenagens na Biblioteca Mário de Andrade. De acordo com Rangel, “a instalação em led de cidadecitycité é uma tradução intersemiótica multimídia pensada para o espaço público que ganha aqui uma maior potência por estar exposta no centro de São Paulo, cidade diretamente conectada com o poema e com a própria trajetória da poesia concreta de Augusto de Campos e de seus companheiros.”

O poema cidadecitycité foi concebido em 1963 e trata-se de uma obra prima da poesia concreta brasileira. Sua composição é uma reunião de vários prefixos de palavras terminadas com “cidade, city ou cité” , cuja escrita coincide nesses três idiomas: português, inglês ou francês em uma única palavra. “No entanto, o resultado foi regido pelo acaso, como em “un coup de dés”, de Stepháne Mallarmé, no readymade de Marcel Duchamp, ou, sobretudo, a partir das composições de John Cage, todos importantes referências para Augusto”, reflete Rangel.

A exposição “Poema cidadecitycité pela cidade” reúne as distintas versões do poema, desde 1963 até a atualidade, incluindo aquelas impressas em papel, em adesivo vinil de recorte, além das distintas gravações sonoras do poeta recitando o poema como a realizada em meados dos anos 1990, em conjunto com seu filho e músico Cid Campos, que serviu ainda de base para edição do vídeo que o artista-poeta realizou posteriormente.

Com uma trajetória caracterizada pela interdisciplinaridade, Augusto de Campos, que completou 90 anos no dia 14 de fevereiro, é um dos maiores poetas e tradutores do país.

Poeta, ensaísta, tradutor e crítico de literatura e música, Augusto de Campos nasceu em São Paulo em 1931 e publicou seus primeiros poemas na Revista Brasileira de Poesia em 1949. Desvencilhando-se das correntes tradicionais da poesia da época, uniu-se ao seu irmão Haroldo de Campos e ao também poeta Décio Pignatari e criam o grupo “Noigandres”, com uma revista de mesmo nome, dedicados à experimentação de novas formas e atraindo jovens poetas inclinados para essa linha de experimentação.

Em 1953, produziu a série de poemas em cores, “Poetamenos”, primeira manifestação da poesia concreta brasileira. Em 1956 participou da organização da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna, em São Paulo, lançando oficialmente o manifesto literário da poesia concreta.

Desde então, a força poética de Augusto de Campos passa a ganhar múltiplas derivações e materialidades por meio de produções que situam seu trabalho na fronteira com as artes visuais, instalando sua presença na cena da poesia concreta internacional.

Seus trabalhos foram incluídos em diversas exposições nacionais e internacionais de poesia concreta e visual e em antologias editadas no exterior. Como as publicações “Concrete Poetry: an International Anthology”, organizada por Stephen Bann (London, 1967), “Concrete Poetry: a World View”, por Mary Ellen Solt (University of Bloomington, Indiana, 1968), “Anthology of Concrete Poetry, por Emmet Williams” (NY, 1968) entre outras. Sua produção poética, iniciada em 1951, com o livro “O Rei Menos O Reino”, está reunida principalmente em “Viva Vaia” (1979), “Despoesia” (1994) e “Não” (2003), além de “Poemóbiles” e “Caixa Preta”, coleções de poemas-objetos em colaboração com Julio Plaza publicados em 1974 e 1975, respectivamente. Em 2017, também com curadoria de Daniel Rangel, o artista-poeta realizou REVER, a maior exposição organizada sobre sua produção, no SESC Pompéia. Em 2018 recebeu os prêmios internacionais de poesia Pablo Neruda, do Chile, e Jannis Pannonius, da Hungria.

Sua trajetória reúne parcerias com compositores como Caetano Veloso e Arnaldo Antunes, além de relevantes contribuições à crítica literária brasileira e traduções para o português de autores como Ezra Pound, e.e. Cummings, Mallarmé, Joyce e Maiakovski.

Exposição TRANSLETRAS – Augusto de Campos
Curadoria: Daniel Rangel
Idealização: N+1 Arte Cultura
Local: Sala Tula Pilar Ferreira – Biblioteca Mário de Andrade
Período: 12 de fevereiro a 11 de junho de 2021.
Horários: Segunda a sexta (13h às 16h) – horários podem alterar conforme decretos relacionados à Covid-19.
Classificação indicativa: livre

(Carta Campinas com informações de divulgação)