No aumento de casos de covid-19, mais uma vez Bolsonaro deixa o povo brasileiro no escuro

.Por Alexandre Padilha.

A pandemia da covid-19 no Brasil é uma grande e violenta onda, semelhante ao fenômeno natural chamado “pororoca” característico da região amazônica, onde mar e rio se encontram e formam permanentemente grandes oscilações e elevações na água. Somos o único país do mundo que registrou por mais de 14 semanas mais de mil óbitos pela doença por dia, tivemos redução no número de mortes, mas nunca chegamos ao patamar de países da Europa, por exemplo, permanecemos na marca de 400 ou 500 mortes diárias e há duas semanas esses números vem crescendo.

(foto andréa rêgo barros – pcr – fp)

Voltamos a taxa de transmissão, que mede o risco de uma pessoa contaminada transmitir a doença para mais pessoas, registrada no mês de maio, quando tivemos o forte crescimento do número de casos, ou seja, vivemos um momento muito preocupante.

Dados mais recentes do governo do estado de São Paulo apontam 22% de aumento das internações em UTIs por covid-19 e especialistas avaliam que neste cenário o ideal é endurecer as medidas de isolamento e inclusive retornar a fases mais restritivas do plano do governo do estado de reabertura das atividades.

O que revolta é a atitude do governo Bolsonaro em manter estocado em um depósito cerca de sete milhões de testes que poderiam estar sendo utilizados para diagnosticar a doença. O governo federal deixa, mais uma vez, o povo brasileiro no escuro, sem lanterna nenhuma para alento em meio a maior tragédia humana que nosso país já enfrentou, com mais de seis milhões de infectados e 170 mil mortes.

Se esses testes estivessem sendo executados, ajudariam a identificar os casos, onde estão essas pessoas, para traçar o que chamamos na área da vigilância em saúde de perfil epidemiológico, que é quando é feito o rastreamento da doença para identificar, monitorar e evitar mais transmissões.

Nesta semana, nós, deputados e deputadas que compomos a comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha as ações de combate à pandemia de Covid-19, convocamos os representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Saúde para explicarem porque essa grande quantidade está parada em meio ao crescimento do número de casos em um país que é o segundo no mundo em número de mortes, o terceiro em número de casos, o 10º em mortes por um milhão de habitantes e o 103º em número de testes por milhão de habitantes.

Cobrei dos representantes transparência sobre a compra de todos os testes para covid-19, o governo federal anunciou meta de realização, até dezembro deste ano, de 24 milhões de exames para diagnostico, qual a meta do Ministério da Saúde, já que há denúncias de compras e reincidência de estoque de testes parados. Além disso, questionei o que será feito daqui para a frente pelo governo diante do crescimento do número de casos para enfrentamento desta situação.

É urgente a necessidade de revisão da retomada do fortalecimento do sistema de saúde público para enfrentamento da covid-19, das medidas de reabertura das atividades, reforçar as precauções e ampliar o número de testagem.

Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP.