Joe Biden, do Partido Democrata, acaba de ser eleito nas urnas o 46º presidente dos Estados Unidos. A confirmação do resultado veio após a virada nos estados da Georgia e Pensilvânia, que permitiram ao candidato superar o número de 270 delegados, mínimo necessário para a vitória eleitoral.

(foto rs – fp)

O candidato derrotado Donald Trump, do Partido Republicano, não reconheceu a derrota até o momento e, em discurso na última quinta-feira (5), sinalizou que recorrerá à Suprema Corte alegando uma suposta fraude eleitoral. Ou seja, o novo presidente só deve ser nomeado oficialmente após a judicialização do caso.

A apuração dos votos continua, mas Trump não tem mais chances de reverter o resultado nas urnas. A única possibilidade de virada seria por meio de uma autorização para recontagem ou anulação de parte dos votos feitos por correio, questionados pelo republicano nos últimos pronunciamentos.

Trajetória

Joseph Robinette Biden Jr. tem 77 anos e foi vice de Barack Obama nas duas passagens pela Casa Branca. Entre 1973 e 2009, exerceu seis mandatos consecutivos como senador pelo estado de Delaware.

Porta-voz do setor “moderado” no partido, Biden venceu as prévias após Bernie Sanders, da ala progressista do Partido Democrata, retirar sua candidatura em meio ao processo de escolha interna da sigla.

A trajetória pessoal do novo presidente possui episódios dramáticos. Em 1972, perdeu a esposa e a filha mais nova, de um ano e um mês, em um acidente de carro. Em 1988, passou por duas cirurgias de emergência para retirada de aneurismas com vazamentos no cérebro. Em 2015, outro filho do político faleceu, desta vez em decorrência de um câncer.

Como senador, Biden votou a favor da invasão estadunidense no Iraque. O democrata estava presente quando o então presidente George Bush assinou o decreto autorizando o uso da força no território iraquiano. Alguns anos após a invasão, Biden mudou de posição e hoje se refere àquele voto como um erro.

Outro episódio negativo da sua trajetória foram as denúncias de assédio sexual que vieram à tona em 2019. Quatro mulheres afirmaram que o democrata as havia tocado de uma forma inapropriada no passado.

Biden se defendeu das acusações afirmando que deu “inúmeros apertos de mão, abraços, expressões de afeto, de apoio e de consolo. Nem uma só vez, nunca, pensei ter atuado de maneira inapropriada. Se é sugerido que este é o caso, vou escutar respeitosamente. Mas jamais foi a minha intenção.”

Trunfos

Biden foi eleito com a promessa de restaurar “tudo o que se perdeu” com a gestão atual e de oferecer respostas aos impactos da pandemia baseadas na ciência. O desemprego alcançou níveis recordes em meio à crise sanitária nos Estados Unidos e atinge cerca de 16 milhões de pessoas. O país também é o primeiro colocado no ranking de mortes por coronavírus.

A escolha da senadora Kamala Harris como vice é considerada um dos trunfos da candidatura, na esteira dos protestos antirracistas que sacudiram o país entre maio e outubro.

Filha de mãe indiana e pai jamaicano, Harris é senadora pela Califórnia e atuou como procuradora-geral estadual desde 2011. Ela é a primeira senadora filha de imigrantes e tem interlocução tanto com o campo “moderado” democrata quanto com personalidades progressistas.   

A eleição foi marcada por uma diferença profunda entre os votos das grandes cidades e regiões metropolitanas, em sua maioria pró-democratas, e a zona rural, que vota em peso por Trump.

Cumpriram papel determinante em vários estados as mobilizações contra o racismo e a violência policial, especialmente após o assassinato de George Floyd, em maio. Na Georgia, por exemplo, um estado rural e conservador, Biden venceu de virada após 28 anos de domínio republicano.

Relação com o Brasil

Embora Jair Bolsonaro (sem partido) e seus filhos tenham apoiado declaradamente a eleição do candidato republicano, as relações econômicas entre Brasil e Estados Unidos não devem sofrer alterações profundas, segundo analistas. Afinal, mesmo com Trump, as trocas não são tão favoráveis ao país quanto o governo costuma propagandear.

Biden e sua equipe não sinalizaram em nenhum momento a pretensão de romper ou se afastar do país sul-americano. A indicação mais clara feita por assessores do democrata é que uma boa relação dependerá das iniciativas do Brasil para garantir a preservação da Amazônia. (Daniel Giovanaz – Brasil de Fato)