Desde o último dia 10 de outubro, o Sesc Campinas retomou o projeto “Cartas em torno da Sobrevivência da Poesia (ou da Poesia da Sobrevivência)” com a publicação da primeira da nova remessa das trinta cartas que compõem a segunda edição do projeto. Assim como na primeira edição, a nova etapa conta com a participação de mais seis poetas de diferentes circuitos literários da cidade, que escrevem e enviam cinco cartas cada um.

(Foto: Marcos Siscar)

Provocados pelos desdobramentos do macrotema do projeto (“A Poesia Sobrevive…”), os escritores que participam desta edição são Adriana Zapparoli, Jeff Vasques, Marcos Siscar, Maria Teresa Moreira, Mariana Paiva e Samuel de Monteiro. Assim como nas trinta cartas que abriram o projeto, todo o conteúdo literário da próxima fase seguirá contando com o recurso da audiodescrição. O projeto acontece de 10/10 até 9/12, publicando no site apoesiasobrevive.wordpress.com uma nova carta a cada dois dias.

A primeira edição, que teve início no final de julho e publicou a última carta entre poetas participantes no dia 24 de setembro, possibilitou, em seu conjunto, o acompanhamento da construção compartilhada entre seis poetas que vivem na cidade de registros da realidade do trabalho literário e reflexões feitas localmente, que oscilavam entre narrações sensíveis e poéticas sobre as experiências cotidianas na cidade e digressões analíticas ou emotivas em torno da condição de existência e resistência da poesia nos tempos de hoje.

Os seis poetas participantes da primeira edição do projeto foram Rafa Carvalho, Fabíola Rodrigues, César Póvero, Katia Marchese, Carlindo Fausto Antonio e Daíse Lima. Suas cartas, que foram publicadas a cada dois dias, continuam disponíveis para a leitura no site do projeto, plataforma que também passa a receber a partir de agora as cartas dos novos poetas participantes.

“Na minha visão, o projeto visa abrir diálogos e aproximações literárias em Campinas e promover a valorização do gênero carta, relevando especialmente a sua materialidade: a carta em si, objeto carregado de emoção e de marcas pessoais. Tudo isso num emaranhado conjuntural estruturado pela discussão estética”, depõe o escritor, poeta e professor campineiro Carlindo Fausto Antonio, que passou parte da quarentena no Parque São Martinho, em Campinas, dedicado à escrita das correspondências participantes da primeira edição.

“O contexto pandêmico e o isolamento, conforme documentos divulgados pela organização do projeto, foram os motores geradores desse projeto duplamente literário. Duplamente porque numa ponta literária fulgura a poesia e, na outra, transitam as cartas, que são modulações da arte da palavra. As cartas são veículos para as discussões da cena poética e de teorizações literárias. A escolha do gênero carta, que possibilita as trocas historicamente circuladas pelas remessas físicas, dialoga igualmente com a conjuntura e, ao mesmo tempo, abre espaço para as questões do universo literário especificamente”, continua Fausto.

Registro de tempos improváveis em que foram restringidas as possibilidades do encontro e trocas artísticas e culturais, as cartas nunca deixam de ser um modo particular de comunicação (diferente dos e-mails, posts e mensagens eletrônicas), carregando uma duração e dedicação próprias, tanto em sua elaboração como em sua leitura. São, assim, documentos relevantes para a poesia presente, para a Campinas atual, e, também, recursos para não esquecermos como foi ou como tem sido essa fase inédita da convivência social.

“As cartas da primeira edição retrataram uma diversidade de impressões e posições que dialogavam com uma fase específica do quadro de isolamento social e a maneira como ela impactou o olhar dos poetas participantes para a cidade e seu cotidiano. Elas compõem assim, como era esperado, um registro poético datado, porém, ao mesmo tempo dialógico de uma militância artística e literária atual e local”, explica Cássio Quitério, responsável do Sesc Campinas pela produção do projeto.

“No conjunto, o projeto acabou por constituir um documento importante para a literatura contemporânea na cidade, contribuindo para pesquisas e, também, para o fortalecimento da cena e da visibilidade desses recursos fundamentais para a nossa sobrevivência e saúde mental, que são o olhar sensível e a própria poesia. Com mais seis poetas e 30 textos novos, o recorte aumenta e se torna mais significativo”, complementa.

A motivação do Sesc Campinas para convidar mais seis poetas para disponibilizarem suas impressões atuais sobre a condição do poeta em cartas a seus pares, na segunda edição do projeto, se deu pelo interesse evidenciado de outros escritores da cidade e envolvimento de leitores (e ouvintes) demonstrado pelas ferramentas de análise de fruição do público na plataforma em que as cartas são publicadas.

O poeta e cordelista Samuel de Monteiro, que participará da segunda edição do projeto comenta a importância do projeto para o trabalho local dos artistas da palavra: “Para mim, especialmente, além do reconhecimento da escrita, percebo uma oportunidade do exercício da empatia e da sensação de pertencimento. É muito gratificante ver a oportunidade criada, a partir do projeto, para que poetas contemporâneos da nossa cidade sejam acessados e descobertos por novos leitores. Vale considerar que, ao trazermos um formato analógico, a carta, para um mundo cada vez mais digital, garantimos uma ludicidade que convida o leitor a experimentar as nossas escritas e visões de mundo, através da poética de cada um”, diz Samuel.

Além dos textos na íntegra no site (apoesiasobrevive.wordpress.com), o projeto tem sido amplamente divulgado através de teasers em vídeos publicados a cada dois dias também nas redes sociais do Sesc Campinas, que dão à proposta um corpo audiovisual e convidam os interessados a visitarem o site e lerem (ou ouvirem) as apresentações, provocações e respostas dos poetas participantes.

“Na medida em que os leitores e, também, outros escritores vão se envolvendo com o projeto, torna-se possível expandi-lo ou desdobrá-lo em novas atividades que reúnam aqueles que se envolvem de perto com a poesia na cidade de Campinas”, explica Quitério.

Assim como na primeira edição, o Sesc Campinas buscou privilegiar a diversidade de estilos literários e a frequência em circuitos literários dentro da cidade. Dessa maneira, a lista de poetas participantes da segunda edição conta com pessoas que residem em diferentes locais na cidade e que diferem em suas experiências e relações com a literatura e com o público que articula em torno da atividade literária (acadêmica, profissional ou afetivamente). Essa diferença enriquece o projeto e agrega também diferentes públicos e visões de mundo ao debate literário na cidade.

Cartas em Torno da Sobrevivência da Poesia

Período: de 10/10/2020 a 9/12/2020. A cada dois dias uma nova carta é publicada.
Convidados: Adriana Zapparoli, Jeff Vasques, Marcos Siscar, Maria Teresa Moreira, Mariana Paiva e Samuel de Monteiro.

Programação: apoesiasobrevive.wordpress.com

(Carta Campinas com informações de divulgação)