A primeira, às 11h, terá o artista visual Hugo Curti em uma live apresentando “Eu, o Outro e o Olho”. Logo mais, às 19h, será a vez da artista visual e musicista Raquel Fayad exibir “Nem todas as criaturas deixam rastros”. As exposições trazem a assinatura do curador Andrés I. M. Hernández. 

Tanto Hugo Curti como Raquel Fayad residem e trabalham em Itu e chegam ao Subsolo após convite de Hernández dando continuidade ao perfil do espaço cultural, que é de movimentar o cenário das artes no interior de São Paulo.

Hugo Curti traz em sua exposição negativos de fotografia em vidro, vídeos, objetos e uma instalação. Geólogo por formação, Curti se voltou para as artes visuais desenvolvendo uma pesquisa que envolve a interdisciplinaridade ao transitar por diversas áreas do conhecimento e que convergem na construção de obras de arte repletas de significados do mundo, da vida, seja fotografando, filmando, pintando, gravando e na arte extramuros. Ou ainda, como Cildo Meireles e Burle Marx, ao criar suas joias.

O Subsolo – Laboratório de Arte, instalado em Campinas, retoma as exposições artísticas no seu espaço físico, porém de forma virtual devido à pandemia do Covid 19. Nesta terça-feira, 15 de setembro, através do Instagram do @subsololaboratoriodearte serão apresentadas duas mostras.

Logo na sala principal estará exposta “Mnemosyne – minha contribuição”, de 2020, instalação composta por partes que se encaixam e se projetam apesar de suas formas, dimensões, modalidades, suportes e edições diferentes. Na parede em frente, o espaço receberá a obra “O caminho do meio”, de 2020, gerada a partir de pranchas de tiro ao alvo. Hernández observa que essas obras mostram que o artista explora o seu entorno para criar sua cartografia, “como no caso dessa última obra em que a leitura de ‘A arte cavalheiresca do arqueiro zen’ provocou em Curti a tensão necessária para sua criação”.

“Eu, o Outro e o Olho”, de 2020, obra que dá nome à mostra, será alocada na segunda sala. Ali em uma das paredes pintada de amarelo, o público poderá ver a impressão digital do torso do artista em tamanho natural, também em um fundo amarelo, usando “olhos de vidro” e ao lado uma caixa onde estão esses olhos. “A cor amarela faz parte da obra na impressão digital sobre papel e na parede do espaço arquitetônico como instalação única, o que chamamos de display, criando uma tensão ao ser movida de um lugar para outro, mas ao mesmo tempo se adaptando a uma nova arquitetura literal e sensorial”, diz Hernández.

Autorretrato de Hugo Curti em exposição no SUBSOLO (Foto: Regina Rocha Pitta)

Na terceira sala, “Aviões”, também de 2020, é formada por nove imagens originárias de negativos em vidro, com cerca de 80 anos de existência, agora como impressões digitais, óleo e nanquim sobre papel de gravura. Esses negativos foram dados a ele pelo pai quando tinha por volta de 12 anos de idade. “Para mim, que estava sempre sonhando que estava voando, foi o máximo. Mas somente agora, depois de mais de 45 anos carregando essa caixa de um lado para outro, descobri que são imagens de aeronaves fabricadas pela antiga metalúrgica Laminação Nacional de Metais entre 1942 e 1949, em São Paulo. O que posso dizer é que as fotografias nos trazem registros, mas nós criamos a história”, reflete ele.

Curador Andrés I M Hernández estuda a expografia da mostra (Foto: Regina Rocha Pitta)

Por último, em uma televisão na área da biblioteca, será apresentado o vídeo “Nem tão ao norte – nem tão ao sul”, 2016, realizado por Curti em sua pesquisa em busca pelo centro do mundo em Macapá, no estado do Amapá, a única capital brasileira cortada pela linha do Equador.

Hernández, pós-doutorando em Artes Visuais, afirma que esta exposição é um recorte da rica pesquisa de Curti, como ele pode constatar ao iniciar a consultoria artística a pedido do artista.

Hugo Curti atua nas artes desde 2003. Já expôs no Instituto Tomie Otake e na Pinacoteca do Estado de São Paulo, junto com Gal Oppido, entre outros espaços culturais. Ele tem obras nas coleções da própria Pinacoteca do Estado de São Paulo; do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; da Fábrica de Arte Marcos Amaro (FAMA); da Chapel School (SP).

Em um projeto inédito, a artista visual e musicista Raquel Fayad aglutina no Subsolo – Laboratório de Arte diferentes ângulos de sua pesquisa artística e uma verdadeira metamorfose em “Nem todas as criaturas deixam rastros”, de 2020, ao trazer suas criações e criaturas ao som de uma música incidental tocada por ela própria. O vídeo será lançado às 19h, da terça-feira, 15 de setembro, no Instagram do @subsololaboratoriodearte.

Raquel Fayad e suas criações no SUBSOLO (Foto: Regina Rocha Pitta)

O curador observa que Fayad é uma artista que se utiliza muito bem dos diálogos que se estabelecem entre as várias disciplinas das artes. “E aqui ela pode demonstrar isso a partir do espaço arquitetônico do projeto Passa 4.8, quando ocupa as paredes e as preenche com suas criações e criaturas”, explica ele.

Fayad está sempre pensando em como se projetar do bidimensional para o tridimensional desde o espaço arquitetônico para o espaço sensorial. “Quando faço isso saio da plataforma chapada e crio volume, saio para o mundo”, reflete ela. Sua pesquisa artística aponta o quanto ela explora a metamorfose dos insetos ou das criaturas originárias de sua imaginação, fazendo com que crie e componha como em uma partitura musical carregada de discursos pictóricos, metafóricos, interdisciplinares e sensoriais, o que reforça a associação que faz o curador sobre a pesquisa de Fayad com o posicionamento de Oiticica ao dizer “o que faço é música”, salvando diferenças conceituais e temporais. 

Dentro do espaço cultural, a série Jardim de Pandora, de 2020, composta por nove guaches sobre papel, com sua aparente simplicidade na representação dos insetos em metamorfose com as criaturas, Fayad provoca questionamentos revisitados desde a mitologia e acentuados pela cartografia cromática e/ou espacial que reforçam a pesquisa da artista.

Para Hernández, Fayad sai de um determinado ponto de partida, como se ela tivesse uma matriz e, a partir dali, segue reciclando, duplicando, aumentando, diluindo, metamorfoseando. “Ela articula discursos miscíveis de conceitos e desdobramentos desde a arte contemporânea. As criaturas e criações colocam em evidência como Fayad está a par das mutações nas nomenclaturas e nas semânticas da arte contemporânea ao tensionar as possíveis leituras na fruição da obra de arte para balizar, experimentar e conjugar novos discursos conceituais e referências da arte, como da escultura, pintura, música, arquitetura, desenho e colagem”, coloca o curador. 

Raquel Fayad tem em seu currículo participações em exposições coletivas na Fundação Marcos Amaro, em Itu e em Salto – Campo Amor (2017/2018), no MAM Rio – Novas Aquisições Gilberto Chateaubriand (2014), na Galeria Marta Traba – Memorial da América Latina (São Paulo, 2014), na Casa do Olhar Luis Sacilotto – (Santo André, 2013/2014/2015) e no Museu de Almeria (Espanha, 2012). Ela também participou de Residências em Nuraminis e San Sperate (NOARTE) – Sardegna – Itália (2016 e 2015), Residência na Fazenda Ipanema, no MAC Sorocaba / FLONA (2015), Residência Artística na Galeria Marta Traba – Ocupação 15/30 – Memorial da América Latina (2014). Tem 13 obras no acervo MAM RIO – Coleção Gilberto Chateaubriand e quatro no acervo da Fundação Marcos Amaro.

(Carta Campinas com informações de divulgação)