Em uma via cada vez mais polarizada, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), visualiza dois caminhos possíveis para o país. O primeiro levaria a um estado de anomia social, de ausência de leis, com saques, violência urbana, interrupção de serviços público, ruptura política. O outro, obviamente desejável, envolveria um amplo pacto constitucional, que dificilmente envolveria o atual presidente da República, “pelas suas características pessoais e ideológicas”.

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Para Dino – que participou na tarde desta quarta-feira (3) de debate organizado pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) –, Jair Bolsonaro é um “déspota” que busca o totalitarismo.

Impedi-lo exige reunir todas as forças possíveis. E, nesse sentido, o governador e ex-juiz federal afirma, sem recear a “heresia”, que nessa frente ampla a esquerda pode ter de abrir mão de hegemonia.

Ele cita dois exemplos históricos, do Chile pós-Pinochet e da África do Sul, pós-apartheid. Na visão do governador, que tem buscado conversar inclusive com setores à direita, a resposta à instabilidade política tem que ser “uma coisa meio (Nelson) Mandela, meio concertación chilena, em que a esquerda pode ser convidada a abrir mão da hegemonia”. E acrescenta que isso tem um bom propósito, o de garantir a democracia.

“Para derrotar o Pinochet, a esquerda chilena abriu mão da hegemonia”, diz Dino, citando a liderança da democracia cristã no país vizinho. “E as concessões que o Mandela fez nem se fala. A conjuntura histórica que vivemos não é tão extrema, mas temos um forte candidato a isso”, afirma, em referência a Bolsonaro, que estaria interessado na ruptura para implementar um projeto autoritário. Assim, o governador defende uma frente democrática quanto à forma: “Regras do jogo, eleições, instituições funcionando, Judiciário independente, liberdade de expressão”.

O governador avalia que a atitude “negacionista” de Bolsonaro durante a crise da pandemia teve duas consequências de certa forma positivas, em que pese a gravidade da situação: reforçou o pacto federativo e valorizou o sistema público de saúde. Não fosse o SUS, afirma, o país teria centenas e não dezenas de milhares de óbitos, avalia Dino, para acrescentar que foi a área pública que ampliou a oferta. Ele cita o exemplo do Maranhão, informando que a rede estadual elevou de 232 para 1.680 o número de leitos exclusivos para tratamento do coronavírus.

Mas a atitude de presidente, pelo conflito e pela imprudência, levou, segundo ele, a uma perda de eficácia no enfrentamento da pandemia – que apresenta certa contenção em alguns estados. “Em outras palavras, deixou de piorar”, afirmou, para em seguida ponderar sobre uma situação que é diferente conforme o estado. Dino acredita em estabilização nas próximas semanas, ainda que em números elevados. A chegada do inverno é outro ponto de interrogação, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. (Por Vitor Nuzzi – RBA)