Em São Paulo – A exposição “Marcia Pastore: contracorpo” pode ser vista na Pinacoteca – Edifício Pina Estação até o dia 6 de abril de 2020.

A exposição exibe um recorte da produção da artista paulista reunindo 40 trabalhos produzidos ao longo de quase três décadas. Com curadoria de Ana Maria Belluzzo, o conjunto de peças situa-se na intersecção entre as artes plásticas e a arquitetura ao enfatizar as relações poéticas entre força, matéria e espaço.

A prática escultórica de Pastore indaga sobre qualidades intrínsecas de materiais muito diversos (borracha, gesso, ferro, etc) e atravessa tempos e técnicas distintas ao revisitar tanto tradições escultóricas como técnicas de fabricação e de moldagem. Para tanto, a artista parte, não do desenho, mas do embate direto dos materiais, do lugar e da experimentação, valendo-se de uma linguagem que remete a procedimentos da engenharia civil, sem perder de vista a articulação orgânica dos materiais. Em sua obra, as formas surgem tanto como iminência de algo que está por acontecer como rastro de uma presença corpórea.

Na mostra realizada na Pinacoteca, o visitante é convidado a percorrer esses devires e rastros que parecem emergir da própria arquitetura. Entre eles, quatro trabalhos inéditos, concebidos especialmente para a exposição, incluindo Linhaágua Linhas de força. Ambos integram também o conjunto obras marcantes em sua trajetória, a exemplo do relevo Sem título (1999) – feito em bronze com banho de prata e pertencente ao acervo do museu — e Peso contrapeso, apresentado pela primeira vez na Funarte, em 2012.

Para estabelecer um diálogo entre esse último e a arquitetura do edifício da Pinacoteca, a artista abriu janelas no forro do teto do museu, de modo que os cabos que sustentam o trabalho fossem pendurados no cruzamento dos caibros e das tesouras que desenham o telhado, conquistando sua estabilidade a partir da interação entre os tubos de metal, a roldana e a anilha. “Era necessário que esse jogo se desse com as forças estruturais arquitetônicas do lugar”, comenta Pastore.

Esse interesse pela dinâmica dos materiais remete tanto aos conceitos da arte povera, corrente artística que também privilegia a poética das relações entre as coisas, como à adolescência da artista. Aos 16 anos, Pastore começou a trabalhar em uma marcenaria que desenvolvia projetos de móveis para decoração. “Eu acompanhava toda a execução, desde o desenho ao desenvolvimento do produto. Isso começou a me dar uma experiência sobre o comportamento dos materiais e os recursos que eu podia tirar deles”, ela conta.

A distribuição das peças no espaço foi pensada pela artista e pela curadora Ana Maria Belluzzo a fim de prescindir de uma ordem cronológica. “O que se pretende destacar na mostra é a forma como a artista realiza o manejo do corpo da obra, que se encontra em situação de interdependência com meio no qual se localiza, tornando instigante o momento de equilíbrio e de sustentação de cada peça no espaço”, reflete Belluzzo.

Tal equilíbrio entre matéria e espaço é tensionado muitas vezes até seu ponto máximo. Em Risco (2013), por exemplo, cada tubo traz em sua ponta superior um grafite enquanto a ponta inferior é seca, como a de um compasso, garantindo certo atrito com o chão. “Alguns tubos estão quase deitados. É muito impressionante continuarem parados. Eu levo os trabalhos a esse limite: é até aqui que ele aguenta ficar de pé, é aqui que ele vai ficar. Não deixo uma margem de segurança, essa iminência do movimento ou do perigo deixa tudo em suspensão”, finaliza a artista. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Marcia Pastore: contracorpo

Curadoria de Ana Maria Belluzzo

Abertura: 23 de novembro de 2019, sábado, às 11h

Visitação: 23 de novembro de 2019 a 6 de abril de 2020

De quarta a segunda, das 10h às 18h – com permanência até as 18h

Pinacoteca de São Paulo:

Edifício Pina Estação

Largo General Osório, 66 – Luz – 4º andar

Gratuita todos os dias.