Em São Paulo – De 15 de janeiro a 10 de fevereiro, acontece no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), em São Paulo, a mostra Lumière Cineasta.

Lumière – Os Krémos V., Pirâmide [Les Krémos, V. Pyramide, 18991044

Em 28 de dezembro de 1895, os irmãos Auguste e Louis Lumière realizaram aquela que seria considerada a primeira sessão pública de cinema, no Salão Indien do Grand Café, no Boulevard des Capucines, em Paris. Essa mítica sessão, considerada um dos marcos inaugurais do cinema, trazia alguns dos filmes que se tornariam célebres entre aqueles produzidos pelos Lumière, como Refeição do bebê (Repas de bébé, 1895) e Saída da fábrica (Sortie d’usine, 1895). 

A importância dos Lumière para o cinema, no entanto, não termina nessa primeira sessão. Entre 1895 e 1905, a Societé Lumière produz um impressionante catálogo hoje estimado em 1.428 filmes. Entre os principais gêneros dessas vistas de curta duração, estavam as atualidades, o filme de viagem, o filme de família e pequenas cenas cômicas.

A mostra Lumière Cineasta traz 190 filmes produzidos pela Societé Lumière entre 1895 e 1905. Os filmes serão exibidos ao lado de obras realizados por outros cineastas e de outros momentos históricos, como forma de investigar o legado estético da produção dos Lumière e buscar continuidades desta produção em outras épocas. Serão exibidos tanto filmes de ficção quanto documentários e filmes de vanguarda pouco vistos no Brasil. 

19 sessões temáticas acontecerão de 15 de janeiro a 10 de fevereiro no CCBB São Paulo. Entre os temas abordados estão a cidade, a captação da natureza, o trabalho, o filme de viagem, o filme-retrato familiar e o registro da modernidade.

Cada sessão será sempre iniciada com um programa de Lumière e complementada por filmes de outros realizadores. Entre os outros cineastas que serão exibidos junto aos Lumière estão Jean Renoir, Jacques Tati, Dziga Vertov, Harun Farocki, Buster Keaton, Andy Warhol, Ernie Gehr, Jonas Mekas, Angela Ricci Lucchi e Yervant Gianikian, Vittorio de Seta, F.W. Murnau e Jean-Marie Straub e Danièlle Huillet. 

Além disso, de 16 de janeiro à 06 de fevereiro, todas as quintas-feiras, às 19h, haverá um curso gratuito. Serão 4 aulas gratuitas ministradas por especialistas na obra de Lumière. 

A primeira sessão apresentou ao mundo o cinematógrafo, aparelho desenvolvido por Louis Lumière que servia ao mesmo tempo como câmera e projetor. O cinematógrafo surge em meio a diversas outras tentativas de captação e reprodução do movimento no século XIX, entre as quais destacam-se as de Étienne-Jules Marey, de Eadweard Muybridge e, em especial, de Thomas Edison. 

Desde 1894, Edison comercializava nos Estados Unidos seu kinetoscópio, um aparelho similar a uma máquina caça-níquel no qual era possível se assistir a vistas animadas através de um buraco. Os Lumière trazem duas novidades em relação ao sistema de Edison: uma câmera portátil, movida a manivela, que permitia a saída dos operadores para registrar o mundo, e a projeção das imagens em movimento em tela grande, assimilando o cinema à ideia de espetáculo.

Como o cinematógrafo servia tanto como câmera quanto como projetor, os Lumière passaram a recrutar operadores de câmera e a enviá-los por todo o mundo para registrar imagens e projetá-las em estabelecimentos locais. A portabilidade do cinematógrafo permitiu um rápido domínio pelos Lumière do mercado de espetáculo de projeção de imagens animadas nos primeiros anos de cinema.

Ainda sobre a primeira apresentação no Grand Café, Meliès declara: “Ao final da sessão, eu fazia ofertas ao senhor Lumière para comprar um de seus aparelhos [o cinematógrafo] para o meu teatro. Ele recusa. Aumentei a proposta até dez mil francos, o que me parecia um valor enorme. O senhor Thomas, diretor do Museu Grévin, seguindo a mesma ideia, lhe oferecia vinte mil francos, sem resultado.” Meliès conclui: “Nós partimos encantados por um lado, mas descontentes e decepcionados por outro, pois compreendemos imediatamente o enorme sucesso econômico que teria aquela descoberta”.

Entre 1895 e 1905, a companhia Lumière produziu um total de 1.428 filmes. Esses pequenos filmes ficaram conhecidos como “vistas” e eram, em sua imensa maioria, constituídos um único plano com duração de 50 segundos (tempo de um rolo de película de 17 metros).

Os filmes da Societé Lumière se destacam especialmente na produção documental. O catálogo de vistas era composto majoritariamente por registros de espaços públicos, praças, ruas, monumentos, além de cenas familiares, cenas de trabalho, eventos, paradas e exercícios militares. Uma parte significativa é composta ainda por vistas de viagem, filmadas em toda a Europa (Alemanha, Inglaterra, Espanha, Itália, Suíça, Rússia), mas também na América (México, Estados Unidos, Martinica) e no oriente (Japão, Egito, Jerusalém e, em especial, Indochina Francesa, atual Vietnã, na época colônia francesa). 

Um dos gêneros de destaque no catálogo Lumière são os chamados “panoramas”: vistas filmadas de trens, carros ou barcos em movimento, que são considerados os primeiros movimentos de câmera do cinema. Um dos exemplos mais famosos é o Panorama do Grande Canal de Veneza filmado de um barco [Panorama du Grand Canal pris d’un bateau, 1896], registrado pelo operador Alexandre Promio de uma gôndola em Veneza.

O catálogo da produtora conta ainda com pequenos filmes de comédia e cenas históricas reconstituídas (A morte de Robespierre, A morte de Marat, Conversa entre o Papa e Napoleão), além de cenas religiosas, como a Paixão de Cristo. 

As vistas documentais se notabilizaram pela maestria visual e pela captura do movimento vivo das ruas. Para os operadores – que trabalhavam com uma câmera sem visor – tratava-se sempre de encontrar o melhor ângulo para dar conta da cena que desejavam registrar. Essa busca pelo ponto de vista ideal resulta em filmes de uma extrema riqueza visual, que apresentam relações inusitadas entre entradas e saída de campo, entre primeiro plano e plano de fundo da imagem.

Vistos hoje, os filmes da Societé Lumière encarnam perfeitamente a mentalidade moderna da virada do século XIX para o XX. São comuns nesses filmes “imagens do progresso”, registros de trens, navios, balões e máquinas em geral. Há um predomínio do registro do espaço urbano sobre o rural. Uma série de 26 vistas foi dedicada apenas à Exposição Universal de 1900, em Paris.

As vistas de viagem, por outro lado, repercutiam o impulso colonialista da França naquele período. A série de vistas realizadas por Gabriel Veyre na Indochina Francesa, atual Vietnã, oferecia aos franceses um vislumbre dos territórios coloniais de além-mar. Imagens vindas do Japão, da Tunísia e de todo o Oriente Médio e norte da África davam ao público francês a possibilidade de olhar o outro, em uma relação no mais das vezes marcada de exotismo. 

As sessões acontecem todos os dias, exceto às terças. Mais informações no site do CCBB-SP.

Veja abaixo mais detalhes da programação:

Programação CCBB São Paulo – 15 de janeiro a 10 de fevereiro

15/01 – Quarta-feira

17h – Programa 5: A invenção do burlesco

19h – Programa 16: Em construção

16/01 – Quinta-feira

17h – Programa 2: Paraíso reencontrado

19h – Programa 19: Operários, camponeses

17/01 – Sexta-feira

17h – Programa 8: Cine-verdade

18h30 – Programa 9: Jogos na metrópole

18/01 – Sábado

16h30 – Programa 12: Nos trilhos da modernidade

18h – Programa 13: Figuras na paisagem

19/01 – Domingo

16h – Programa 3: Rumo ao oriente

18h20 – Programa 1: As folhas se movem

20/01 – Segunda-Feira

17h – Programa 20: Louis Lumière (doc, Éric Rohmer)

19h – Programa 15 : Filme retrato

22/01 – Quarta-feira

17h – Programa 7: Saída da fábrica

19h30 – Programa 17: O mundo perdido

23/01 – Quinta-feira

17h30 – Programa 8: Cine-verdade

19h – Aula 1: Lumières, Viértov e “Kino-Pravda”: enterrando os enterros, revendo as vistas (Luis Felipe Labaki) – Gratuito

24/01 – Sexta-feira

17h30 – Programa 14: Devaneios e deslocamentos

19h40 – Programa 10: Ângulos da cidade – EXIBIÇÃO ÚNICA

25/01 – Sábado

16h – Programa 16: Em construção

18h30 – Programa 6: Do polo ao Equador – EXIBIÇÃO ÚNICA

26/01 – Domingo

16h – Programa 19: Operários, camponeses

18h10 – Programa 18: A vida em ato

27/01 – Segunda-feira

17h – Programa 5: A invenção do burlesco

19h – Programa 4: Corpo em movimento

29/01 – Quarta-feira

17h – Programa 11: Inventários

19h – Aula 2: O futuro de uma invenção: Hollis Frampton e o catálogo Lumière (Lucas Baptista) – Gratuito

30/01 – Quinta-feira

17h30 – Programa 1: As folhas se movem

19h – Aula 3: As vistas dos Lumière e a pintura do final do século XIX (Sonia Salzstein) – Gratuito

31/01 – Sexta-feira

18h – Programa 20: Documentário (Louis Lumière)

19h30 – Programa 17: O mundo perdido

01/02 – Sábado

15h30 – Programa 13: Figuras na paisagem

17h30 – Programa 12: Nos trilhos da modernidade

19h – Programa 7: Saída da fábrica

02/02 – Domingo

16h – Programa 5: A invenção do burlesco.

18h – Programa 9: Jogos na metrópole

03/02 – Segunda-feira

18h – Programa 3: Rumo ao oriente – sessão inclusiva gratuita (audiodescrição, libras e legendagem Descritiva)

05/02 – Quarta-feira

17h30 – Programa 16: Em construção

19h40 – Programa 2: Paraíso reencontrado*

06/02 – Quinta-feira

17h – Programa 18: A vida em ato*

19h – Aula 4: O documentário dos Lumière e o cinema de atrações (Ismail Xavier) – Gratuito

07/02 – Sexta-feira

16h30 – Programa 3 – Rumo ao oriente

18h40 – Programa 9 – Jogos na metrópole

08/02 – Sábado

15h – Programa 15: Filme retrato

17h20 – Programa 14: Devaneios e deslocamentos

19h30 – Programa 11: Inventários

09/02 – Domingo

16h – Programa 13: Figuras na paisagem

18h – Programa 4: Corpo em movimento

10/02 – Segunda-feira 

18h – Programa 2: Paraíso reencontrado

Programação das aulas – São Paulo 

23/01 (quinta) – 19h

Aula 1: Lumières, Viértov e “Kino-Pravda”: enterrando os enterros, revendo as vistas

com Luis Felipe Labaki (Doutorando ECA – USP)

Luis Felipe Labaki é pesquisador, cineasta e tradutor do idioma russo. Graduou-se no Curso Superior do Audiovisual da ECA-USP em 2013 e possui mestrado em Meios e Processos Audiovisuais pela mesma universidade, tendo defendido em 2016 sua dissertação “Viértov no papel: um estudo sobre os escritos de Dziga Viértov”. Como diretor, realizou os curtas-metragens O Pracinha de Odessa (2013), Que tal a vida, camaradas? (2017) e Um guarda real (2019).

29/01 – (quarta) – 19h

Aula 2: O futuro de uma invenção: Hollis Frampton e o catálogo Lumière com Lucas Baptista

30/01 (quinta) – 19h

Aula 3: As vistas dos Lumière e a pintura do final do século XIX – Sonia Salzstein ECA – USP

(Carta Campinas com informações de divulgação)