Será aberta no próximo sábado, dia 23/11, a partir das 19h, na Galeria de Artes do Goma – Arte e Cultura, em Barão Geraldo, a exposição “Autofágica”, de Miki Sakamoto, com curadoria de Mathias Reis.

Miki Sakamoto é artista e estudante de Artes Visuais da PUC Campinas. Suas técnicas variam, tais como o uso do nanquim, tinta acrílica, grafite e aquarela.

“Acredito que a expressão artística reflete diretamente a vida do artista como também o contexto social que o cerca. A partir do desenhos que condizem com o tema e/ou sua materialidade, torno-me íntima de cada exercício, é necessário parte de mim proliferar durante o processo. A motivação insere a experimentação, empolgação, fazer sempre algo diferente junto ao que já possuo como repertório.”

Autofagia do fim do homem

“É no mínimo curioso que com tantas espécies, a diferença seja um privilégio de apenas um animal. Os demais seres vivos são categorizados num modelo reativo-maquinicista: regrados por um software biológico que os condena a reproduzir sempre os mesmos comportamentos, não tem desejos, linguagem e nem consciência.

Por mais paradoxal que seja, essa lógica tão rígida é acompanhada de uma margem de descontrole ‘animalesca’ a qual opõe-se a humanidade, ou, o humanismo. Como podem os animais não possuírem livre arbítrio ao mesmo tempo em que são ‘desregrados’? O mais comum é que esses questionamentos acabem sendo jogados para de baixo do tapete, junto com a suposta ‘animalidade’ humana. É o preço da vitória da civilização contra os centauros, meio-homens, meio-cavalos nas Métopes. A animalidade humana é condenada à marginalidade junto às outras espécies para serem dominadas pelos vitoriosos, integralmente humanos. Homens vivem, os demais seres vivos sobrevivem.

A negação da terra e de seus ambientes partilhados entre tantos outros, chega a tal ponto de inflexão com a crise climática que seus sólidos pilares começam a aparentar vulnerabilidades. Outros modos de pensar, de formar conhecimento e de estar no mundo passam a ganhar atenção. Como relata Eduardo Viveiros de Castro em suas ‘metafísicas canibais’, para algumas culturas indígenas nunca houve um conceito como animalidade. Tudo se fundou numa humanidade a que cada espécie possui sua parcela. Lá onde tudo é visto como humano, nada é humano. Nesse espaço, podemos nos aproximar da perspectiva de outras espécies para aprender sobre nossa casa, dialogando com quem a habita, nos perdendo por um labirinto de múltiplas necessidades e desejos – uma autofagia do fim do homem.

Com esse olhar, a arte pode nos propor experimentações de acesso a esses espaços ainda desconhecidos. Tais são algumas das questões chaves com as quais podemos nos dirigir ao trabalho de Miki Sakamoto. Nas imagens dessa exposição, algo está em porvir entre humanos, plantas e animais. A artista não os retrata como um objeto, mas como um desvio autorreferente de seus percursos. Humanos, tal como os demais seres vivos, possuem afetos e máscaras simbólicas para expressá-los e, nesse caso, a artista não é uma exceção. Encontraremos nessa mostra algumas pontes e, ao atravessá-las, talvez possamos nos comover com o que está do outro lado, mas, ironicamente, o tempo todo ao nosso lado”. (Mathias Reis, 15 de novembro de 2019). 

Exposição ‘Autofágica’ de Miki Sakamoto

Abertura sábado dia 23/11 a partir das 19h. Visitação até dia 04/12, de terça a domingo das 14h às 22h. Galeria de Artes, Goma – Arte e Cultura: Av. Santa Isabel, 518 – Barão Geraldo, Campinas. Evento gratuito. Após às 22h consulte a programação do Goma Arte e Cultura na página oficial do Facebook.  

(Carta Campinas com informações de divulgação)