.Por Paulo Bufalo.

Há alguns dias a maioria dos vereadores da Câmara de Campinas rejeitou um projeto de minha autoria, que previa o estímulo e fidelização de doadores voluntários e habituais de sangue, por meio da concessão de descontos no valor de ingressos em eventos culturais e esportivos da cidade, num reconhecimento de sua ação solidária. O projeto tramitava desde 2015, quando eu ainda exercia mandato de vereador.

(imagem: big heart – pl)

O objetivo era o de estimular a discussão da importância da doação, enfrentar os mitos que afastam as pessoas da prática deste gesto solidário e fidelizar mais doadores voluntários para ampliar a proporção de apenas 1,9% da população brasileira que faz doação habitual.

A concessão de descontos em eventos nada tem a ver com a “remuneração da doação” que marcou a política de doação de sangue no Brasil até os anos de 1980 e que foi vetada pela Constituição Federal e pela Política Nacional de Sangue. Por isso, o projeto havia recebido parecer favorável da consultoria jurídica da Câmara.

Refuto a “remuneração da doação” e reforço a importância das políticas públicas de educação, comunicação e captação de doadores voluntários e habituais, além da qualificação das abordagens e do controle do sangue coletado e seus derivados, que fizeram com que o Brasil se transformasse em uma referência internacional nesta área.

Por isso, o projeto que tramitava na Câmara foi elaborado levando-se em consideração experiências semelhantes existentes em outros estados e municípios brasileiros que oferecem aos doadores de sangue voluntários e habituais, não só descontos em eventos, como também, isenções para estacionamentos e prioridades nos atendimentos em seus próprios serviços.

O sangue e seus derivados são essenciais à vida e frequentemente os bancos de sangue enfrentam problemas de abastecimento. Todos os dias os hospitais precisam de sangue para realizarem cirurgias, socorrerem vítimas de acidentes ou tratarem pessoas acometidas por doenças que necessitam de transfusões.

A doação de sangue é um ato simples e seguro que não provoca risco ou qualquer prejuízo à saúde do doador. Pelo contrário, as triagens clínicas antes da coleta e os exames laboratoriais do sangue colhido são importantes para a saúde pública e preventiva.

Se cada pessoa saudável doasse sangue pelo menos duas vezes ao ano, os hemocentros teriam estoques suficientes para atender toda a demanda. Uma única doação de sangue pode salvar várias vidas.

O intervalo entre uma doação e outra é de noventa dias para mulheres e sessenta dias para homens, pois este é o tempo que levam para que seus organismos produzam o ferro, que é um elemento necessário para recompor o sangue doado.

O sangue coletado pode ser vinculado a um amigo ou familiar que esteja necessitando da doação ou utilizado para qualquer pessoa que tenha esta necessidade, o que fortalece o caráter solidário e altruísta da doação com um gesto de amor ao próximo, sem saber quem será o “próximo”.

Lamento que toda esta discussão, que poderia ser realizada pela Câmara de Campinas no momento da análise de nosso projeto, tenha sido ignorada pela Casa.

De qualquer maneira, continua valendo nossa consciência e solidariedade. Se você tem entre 16 e 69 anos, pesa mais que 50 quilos e está em boas condições de saúde procure um hemocentro, para ter orientações ao preparo e doe sangue!

Paulo Bufalo é professor e ex-vereador de Campinas