.Por Verônica Lazzeroni Del Cet.

Escrever consegue inspirar e ensinar. Não apenas ensinar a língua portuguesa, mas elevar a qualidade do ensino e do ser cidadão. Pensando na força que essa prática tem que o projeto “Primeiro Livro” existe.

(fotos: divulgação primeiro livro)

“O “Primeiro Livro” é uma metodologia prática que dá oportunidade para jovens, de diversas faixas-etárias, escreverem livros”, explica Marianna Zaroni Parro, 29, mentora do projeto. O público da inciativa “Primeiro Livro” são jovens de escolas públicas e da Fundação Casa do estado de São Paulo e de outras regiões do Brasil.

O idealizador, o professor de língua portuguesa Luis Junqueira, introduziu o projeto na Escola do Sítio – localizada em Barão Geraldo – e desde então aplicou a sua inciativa em outras cidades, como em Barueri, no estado de São Paulo.

Inicialmente, o “Primeiro Livro” consistia em exercer atividades dentro da disciplina de Língua Portuguesa, com alunos do Ensino Fundamental II e até hoje a biblioteca do projeto já reúne um acervo de mais de 300 livros escritos pelos participantes.

“É uma atividade profundamente prática que dá autoria e suporte para pessoas com diversas idades, com níveis de alfabetização e letramento distintos, com diversos níveis cognitivos”, diz Marianna.

“Já passaram pelo projeto alunas e alunos com diagnósticos de síndrome de down, de síndrome de Asperger, já passaram alunos brilhantes com notas exemplares e alunos e alunas com sérias dificuldades na compreensão geral de texto”, completa ela.

E foi, finalmente, em 2015 que o “Primeiro Livro” passou a ser implementado em outras escolas públicas. “Em quatro escolas de Alagoas, Município de São Miguel dos Campos, uma em São Paulo, na região de Heliópolis e em dois Centros da Fundação Casa. Já foram mais de 700 alunos que tiveram a oportunidade de usar a criatividade e se apropriar da ferramenta literária, por meio do projeto.”, conta a entrevistada.

Elaboração do “Primeiro Livro”

Todos os alunos envolvidos aprendem o processo de produção de uma obra literária, envolvendo desde a concepção das ideias até, por fim, a publicação do livro.

Marianna também explica que no projeto há dois níveis de acompanhamento das atividades: o nível dos estudantes e o nível dos mentores.

Os estudantes estão envolvidos com a escrita, diagramação e ilustração das histórias. Já os mentores são responsáveis pelo acompanhamento do jovem autor, além de orientar durante o processo de criação, sendo que todos os voluntários encontram uma vez por semana o seu aluno.

A equipe de mentores é ainda pequena e o trabalho prestado é gigante. “O maior desafio do projeto é conseguir atender diferentes lugares, tendo uma equipe tão pequena”, comenta Marianna. Além disso, a entrevistada – que é mentora no projeto – enfatiza a responsabilidade e comprometimento necessários de todos os envolvidos. “O mentor precisa se entregar, de verdade, ao projeto e transmitir confiança para o aluno”, completa ela.

E é um trabalho que envolve esforço das duas partes, além de ser um espaço de troca. Através das propostas, o aluno vai construindo um repertório cultural, praticando exercícios que o fazem questionar, escrever e conhecer mais sobre a língua portuguesa. “A dinâmica consiste em permitir que cada aluno escreva, ilustre e publique um livro de sua autoria. Para tanto, é proporcionado tempo e apoio cultural para que os estudantes possam ampliar a sua capacidade de se comunicar’, conta Marianna Parro.

Não apenas isso, mas com todos os exercícios e a troca de conhecimento entre ambas as partes, o projeto “Primeiro Livro” atende reais dificuldades dos participantes, inclusive, quebrando preconceitos linguísticos. “O Primeiro Livro se fundamenta, primeiro, nas quebras de preconceito com relação à escrita e, mais adiante, na elaboração de propostas consistentes para tornar o estudante um sujeito letrado socialmente, capaz de ter jogo de cintura linguístico, que o ajudará no relacionamento social”, diz ela.

Com o acompanhamento dos mentores, é possível ao aluno aprender quais pontos precisa melhorar, até, por último, o seu primeiro livro ser publicado. “A cada rodada de escrita é possível detectar os maiores entraves do aluno, dificuldades gramaticais, necessidade de ampliar os referenciais culturais, todas análises que permitirão à equipe fornecer o material personalizado e necessário para o desenvolvimento na arte da escrita”, explica a mentora.

Objetivos do “Primeiro Livro”

Fazer o aluno conhecer a língua portuguesa, escrever e ter a liberdade de criar sua própria história, além de ensinar e ser ensinado. É isso que o “Primeiro Livro” oferece ao estudante.

No entanto, outros detalhes fundamentais são pensados pela iniciativa e todos os mentores. Desenvolver um repertório pensado em cada aluno, desenvolver a habilidade linguística e socioemotiva de cada aluno, como também disponibilizar sequências didáticas e de ensino pensando na aprendizagem de cada um.

“O objetivo geral do Projeto é oferecer as melhores soluções didáticas de Língua Portuguesa para elevar a qualidade da educação brasileira e inspirar estudantes, professores e cidadãos”, explica a mentora.

Cabe aos alunos a escolha do tema de suas histórias, construção de personagens, título da obra, ordem e ilustrações da narrativa além de demais fatores presentes em toda e qualquer obra literária. A partir da orientação dos mentores e das melhores soluções didáticas que os jovens conseguem, com liberdade e autonomia, escreverem.

Um retorno gratificante

O contato dos voluntários do projeto com os alunos é sempre muito intenso, segundo Marianna Parro. “No começo eles ficam com receio, acham que não vão dar conta, acham que escrever um livro é impossível e, principalmente, acham que entender a tal da língua portuguesa é muito difícil. Mas, com o tempo, eles percebem que tem um potencial enorme, que sabem muito mais do que eles imaginam.”, conta ela.

Mesmo após a finalização das atividades, muitos alunos mantêm contato até os dias de hoje com os voluntários do “Primeiro Livro”.

“Uma vez, um aluno da Fundação Casa me disse: “eu achava que eu nem sabia escrever, e aí vocês me mostraram que eu tenho um monte de ideia boa, que eu conheço coisas que vocês não conhecem, e que eu sei fazer alguma coisa bem. Vocês acreditaram em mim.”, diz ela.

“Um outro aluno, também da Fundação Casa, comentou, no fim do projeto: “A leitura abriu minha mente em diversos aspectos. Hoje eu consigo me expressar melhor, pensar mais alto e libertar a mente. Conhecer diferentes tipos de pessoas foi como o projeto realmente influenciou a minha vida. As pessoas da equipe conseguiram me tirar um pouco do meio em que vivia e mostraram a importância de pensar no futuro. Eles pensam alto, pensam grande.” Esse aluno, inclusive, trabalhou depois com a gente na Bienal do Livro, escrevendo e ajudando as crianças a escreverem seus livros. Foi muito emocionante”, conta Marianna Parro.

Auxílio ao projeto “Primeiro Livro”

O projeto hoje consegue atender muitos alunos e não apenas de escolas públicas e Fundação Casa, mas também de outras condições, a partir das novas frentes de trabalho.

“No que diz respeito a novas frentes de trabalho, hoje em dia estamos em contato com cerca de dez alunos da favela Sabin, no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, através do projeto Treino na Laje. Além disso, estamos aguardando a aprovação da documentação da ONG para iniciarmos, ainda esse ano, o projeto em duas sedes femininas da Fundação Casa. Por fim, estamos acompanhando quatro pacientes de Fibrose Cística de diversas cidades do Brasil através de uma parceria com a indústria farmacêutica Roche”, explica a entrevistada.

O projeto conta com ajuda e doações de algumas empresas, direcionando o auxílio com os gastos que precisam arcar e com os demais jovens que podem ter a oportunidade de escreverem seus livros.

Para ajudar com doações ou participar do projeto como mentor voluntário, acessar a página no Facebook: https://www.facebook.com/1oLivro/

Para conhecer mais sobre o projeto, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=rdMMYjHp0a4&fbclid=IwAR3qC3qZN56Uy5JdNM3Kc_QSqRT6HXvnGXywZkv_FjbJqXOB2DMlzziHe44