O jornalista Gustavo Faleiros publicou um artigo no site InfoAmazônia, em que faz um balanço dos focos de queimada este ano no Brasil. Ele relata que o número é o mais alto dos últimos 7 anos para o primeiro semestre. Com mestrado em Política Ambiental, Faleiros já trabalhou no jornal Valor Econômico e coordena o InfoAmazonia.

Satélites da Nasa mostram alta de queimadas junto ao desmatamento

.Por Gustavo Faleiros.

Incêndios na Amazônia cresceram 38% este ano. Sete das cidades com mais incêndios também estão na lista daquelas com maior desmatamento. Foto: Imagem do satélite Terra tirada no dia 13 de agosto na região da Transamazônica (sul do Amazonas e Pará)

Apesar das críticas recebidas pela admistração Jair Bolsonaro, os dados do desmatamento do INPE não são os únicos a mostrarem o avanço do corte raso na Amazônia e no Cerrado. Os satélites da Nasa registraram um crescimento de 65% de queimadas no Brasil desde o início de 2019 em comparação com o mesmo período de 2018. Esta alta ocorre principalmente nas regiões Norte e Centro Oeste.

Existe uma relação direta entre o aumento de queimadas e o crescimento do desmatamento. Entre os 10 municípios que registraram maiores queimadas em 2019, sete também estão na lista dos municípios com o maior número de alertas de desmatamento. Os outros três munícipios da lista pertencem ao bioma Cerrado.

Fonte: Programa de Monitoramento de Queimadas e Terra Brasilis – DETER – INPE Descarregar estes dados

Amazônia representa 50,5% dos focos de calor. O Cerrado, 39,1%. A maioria dos estados da Amazônia Legal tem queimadas acima da média histórica. O Acre e o Amazonas declararam situação de emergência por conta das vastas regiões atingidas por fumaça.

queimada por bioma

Gráfico: InfoAmazonia  Fonte: INPE – Satélite de Referência – Aqua/Tarde Descarregar estes dados

Os dados, que são atualizados diariamente, somam 63,3 mil  focos de calor até o dia 14 de agosto . Esse é o mais alto número de queimadas dos últimos sete anos no primeiro semestre. Focos de calor são indicadores de incêndios e são captados pelo satélite Aqua, da agência espacial americana. (Veja mapa em tempo real acima clicando no View Map)

Queimadas ao longo da BR 163, na região central do Pará, afetam unidade de conservação, em especial a Floresta Nacional do Jamanxin. Imagem de 13 de agosto capturada pelo satélite Terra da Nasa.

Em entrevista ao InfoAmazonia, o pesquisador Alberto Setzer, coordenador do Programa de Monitoramento de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), observa que o ano 2019 já acumula um total de focos de calor próximo ao de 2016. Sua avaliação é que ao fim do ano, 2019 possivelmente será igual ou ultrapasse a medida de três anos atrás. Ele explica que a correlação entre queimada e desmatamento é verificada ao longo dos anos, já que sempre se observa qua nos locais onde há aumento do desmatamento existe também uma alta de focos de calor.

“Nos locais em que existe fumaça nas imagens de satélite, não há outra fonte se não o desmatamento”, diz Setzer do INPE.

Onde está queimando mais

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Imagem obtida pelo satélite Terra, da NASA, de Apuí, sul do Amazonas, no último dia 13 de agosto

Apuí no Amazonas é o campeão de queimadas de todo o Brasil. O local representa mais do que nenhum outro município a nova fronteira do desmatamento. Nos dados mais atuais do desmatamento, o sistema Prodes mostra Apuí como o oitavo entre os maiores desmatadores em toda a Amazônia. Entre 2017 e 2018, o crescimento do corte raso em Apuí foi de 161%. O sul do Amazonas, especialmente no entrocamento na Transamazônica (BR-230) e rodovia Porto Velho-Manaus (BR 319) tem sofrido o processo de Rondonização na última década, onde madeireiras do estado ao Sul passaram a migrar para regiões ainda pouco exploradas. A promessa de pavimentação das rodovias amazônicas desde o governo Temer e, agora, reforçada por Bolsonaro impulsiona a especulação por terras públicas. Leia reportagem especial sobre a Rondonização

O número de queimadas em 2019 ainda está abaixo da média, que é gerada pelo INPE a partir de série histórica iniciada em 1998. No entanto, o inevitável crescimento em relação a 2018 confirma uma tendência de alta nas queimadas que vem ocorrendo nos últimos cinco anos. A perspectiva “não é das mais animadoras”, diz Setzer, pois o clima seco deste ano deve acelerar as queimas em agosto e setembro, historicamente os piores meses. As previsão climática emitida em Julho pelo INPE para estes próximos três meses indica precipitação entre 40 a 50% abaixo do normal nas partes centrais e norte da Amazônia. (Do InfoAmazonia)

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