Em São Paulo – Pode ser vista até o dia 4 de agosto no Instituto Tomie Ohtake a exposição “Julio González – Espaço e Matéria”.

(Foto: Divulgação)

O Museu Nacional d’Art de Catalunya, a Fundação Abertis e o Instituto Tomie Ohtake organizam pela primeira vez no Brasil uma individual do consagrado escultor Julio González (Barcelona, 1876 – Arcueil, França, 1942). Com curadoria de Elena Llorens, a mostra reúne 70 peças, entre esculturas, desenhos, pinturas, fotografias e documentos, que marcam a carreira do artista catalão, hoje reconhecido como o pai da escultura moderna em ferro e um dos nomes imprescindíveis na história da arte do século XX.

O virtuosismo de González ao trabalhar o ferro, trajetória que começa na oficina paterna de serralheria artística na Barcelona modernista do final do século XIX, marcou sua celebrada produção escultórica, majoritariamente concebida na década de 1930 quando já havia completado 50 anos. Entre 1928 e 1929, González é convidado por Picasso a colaborar no projeto do monumento em homenagem ao poeta Guillaume Appolinaire, morto no final da Primeira Guerra. Essa troca de experiência, que se desdobrou em outras colaborações, foi marcante para a produção escultórica do autor de Les Demoiselles d´Avignon e representou a fase mais experimental na carreira do mestre da arte em ferro, o começo do que González chamou de “nova arte: desenhar no espaço”.  A partir daí o escultor se integra ao grupo Círculo e Quadrado e assina, em 1934, junto a Pablo Picasso, Fernand Léger e Vassily Kandinsky, o manifesto do grupo Abstração – Criação.          

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“Sua produção escultórica em ferro deve ser inserida no contexto disruptivo das vanguardas da primeira metade do século, caracterizado por uma intensa especulação formal. Deve-se a González o fato de ter dotado a escultura de uma nova gramática capaz de deslocar, com um material totalmente alheio à tradição, as seculares noções de volume e massa”, diz a curadora.

A exposição desvenda cada uma das etapas criativas de González com o objetivo de, por um lado, penetrar em sua rica e complexa personalidade artística e, por outro, transitar pelo caminho que o levou a confiar no ferro como agente renovador da linguagem da escultura. Segundo Llorens, a mostra sugere um percurso  que se inicia pelo período de formação do escultor, na oficina paterna de serralheria artística em Barcelona; em seguida, focaliza a pintura dos materiais, vocação que o levou a mudar-se para Paris e à qual só renunciou quando encontrou na escultura o veículo perfeito para se expressar;  reúne, no terceiro núcleo, os diversos registros, formatos e linguagens escultóricos que explorou em apenas 15 anos para dar vida à sua original proposta de “desenhar no espaço”; e, para finalizar, traz o grito com que González denunciou perante o mundo o horror da guerra (primeiro a Guerra Civil espanhola, e depois, a Segunda Guerra Mundial). Neste segmento há registros da participação de uma de suas esculturas icônicas, La Montserrat, na Feira Internacional de Paris em 1937 – “a representação de uma camponesa munida de uma arma invulnerável: a dignidade”, completa a curadora.

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Depois da morte de Julio González, a sua filha Roberta incumbiu-se da missão de difundir a sua obra e é hoje parte responsável por González figurar entre os nomes próprios da modernidade. Em 1974, Roberta doou ao Museo de Arte Moderno de Barcelona (atualmente Museu Nacional d’Art de Catalunya), cerca de 200 obras entre esculturas, pinturas, desenhos e gravuras, tornando a instituição uma das principais responsáveis pela difusão do legado do artista, cuja obra está representada ainda em outros importantes acervos, como Centre Georges Pompidou de Paris, Museo Reina Sofía de Madrid, IVAM de Valencia e MoMA de Nova York.

Nascido em 1876 em Barcelona, Espanha, Julio González desde cedo teve contato com atividades artísticas. Com apenas 15 anos foi matriculado na escola de artes e ofícios Enseñanzas de Aplicación e começou a trabalhar junto de seus irmãos na empresa de seu pai, que era ourives e metalúrgico. Em 1893, inauguraram uma oficina familiar onde passaram a criar e vender objetos como espelhos, ramos de flores e jardineiras, que também lhes renderam participações em exposições e premiações. Em 1899, ao se mudar para Paris, França, com a família, Julio começa a se dedicar à pintura. Da boemia espanhola, chegou à francesa no bairro de Montparnasse, envolvendo-se com os artistas catalães que lá viviam, entre os quais estava Pablo Picasso. Dez anos mais tarde, casou-se com Jeanne, de quem logo se separou, e teve sua única filha Roberta. A escultura em ferro, linguagem que mais lhe deu reconhecimento, tornou-se prioridade em sua produção em 1927, após trabalhar como aprendiz de soldador na Soudure Autogène Française, e motivou colaborações com o próprio Picasso e com Constantin Brancusi. Em 1937, casou-se com a ourives Marie Thérèse Roux, com quem há anos já namorava. Aos 66 anos, em 1942, Julio González faleceu devido a um infarto.

Mais informações no site do Instituto Tomie Ohtake. (Carta Campinas com informações de divulgação)