Em São Paulo – Neste ano, a Cia. de Teatro Os Satyros celebra seu 30º aniversário. Para abrir a comemoração da efeméride, a trupe estreia Mississipi, que fica em cartaz até o dia 26 de maio no Teatro Anchieta do Sesc Consolação. A partir de pesquisas realizadas pelo grupo sobre o cotidiano das pessoas em situação de rua que vivem no entorno da Praça Roosevelt, a produção aborda a questão urbana nos últimos 20 anos.

(Foto: Andre Stefano)

A criação retrata três momentos históricos distintos da Praça (1999, 2009 e 2019). Tais períodos são mesclados, de forma que as situações dramáticas quebram a ordem cronológica e propõem uma sequência de imagens que constrói a narrativa da peça.

Além do festejo das três décadas, e do retorno aos palcos fora de seu próprio espaço após 10 anos, vale ressaltar que essa é primeira vez que Os Satyros realiza uma temporada no Teatro Anchieta, espaço teatral icônico da cidade de São Paulo.

Segundo Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, fundadores da companhia, a presença do Satyros no Anchieta está relacionada à região, à proximidade conceitual e geográfica e, principalmente, ao acolhimento cultural que os três espaços (Satyros, Praça Roosevelt e Sesc Consolação) oferecem à população da cidade, cada vez mais ávida por ambientes culturalmente propícios à pluralidade e à arte.

Em continuidade às comemorações, no dia 02 de maio, quinta-feira, às 20h, no Teatro Anchieta, a companhia lança o livro “Mississipi” pela editora Giostri, obra homônima ao espetáculo, também inspirada em situações observadas e vividas pelo grupo na Praça Roosevelt. Tendo como inspiração a praça e todas as situações vivenciadas pelo grupo, a obra cria um emaranhado de acontecimentos que se entrelaçam e se relacionam, dando vida às mais variadas personagens e histórias.

Marcio Aquiles, escritor e crítico teatral, participará do evento, compondo uma roda de conversas em parceria com os autores do livro.

A Cia. De Teatro Os Satyros foi fundada em 1989, por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez. Já em seus primeiros anos de existência, se destacou por sua linguagem radical e temas polêmicos, em montagens como Sades ou Noites com os Professores Imorais (1990) e Saló, Salomé (1991).

Em 1992, a companhia foi convidada a participar de festivais europeus, em Portugal e na Espanha. Devido à grave crise política e econômica que dominava o Brasil, a companhia se transferiu para Lisboa, em um exílio voluntário até 1999.

Em dezembro de 2000, retorna a São Paulo, abrindo uma sede na Praça Roosevelt, na época considerada uma das regiões mais deterioradas do centro de São Paulo.

A renovação estética e cultural na Praça Roosevelt

Os Satyros participou ativamente no processo de renovação arquitetônica da praça, até então dominada pelo tráfico de drogas, pela prostituição de travestis e michês, e com uma alta taxa de criminalidade.

Todos os anos, o grupo realiza o Festival Satyrianas, importante evento teatral da cidade de São Paulo. Em outra frente de trabalho, ao lado de outros coletivos, o grupo cria a ADAAP, Associação dos Artistas Amigos da Praça, responsável pela criação e administração da SP Escola de Teatro, instituição de formação nas artes do palco, e que mantém parceiras com várias universidades estrangeiras.

A rica vivência dos Satyros na Praça Roosevelt marcou profundamente a estética do grupo, com a participação fundamental de ex-prostitutas, transexuais que haviam sido marginalizadas, ex-traficantes e egressos do sistema prisional. O impacto da entrada de artistas advindos destes grupos sociais vulneráveis se deu em vários campos: na temática, na linguagem e na percepção da vida urbana.

Mississipi

A peça, com a estética de teatro-karaokê, se passa em três momentos (1999, 2009 e 2019) e é inspirada por uma série de situações que foram observadas, presenciadas ou vividas pelos integrantes do grupo Satyros. As cenas são intercaladas e criam um emaranhado de situações que, de alguma forma, se relacionam. Mississipi, personagem que dá nome ao texto, é uma pessoa em situação de rua. Sua chegada na Praça Roosevelt aconteceu há 20 anos, em 1999. Seus amigos vivem todos na rua. É por meio dos olhos de Mississipi que podemos conhecer uma praça além do frenesi dos bares e do paredão de prédios.

Em 1999, Raul é um bem-sucedido profissional que se estabelece na Praça Roosevelt e passa a se envolver sexualmente com homens em situação de rua.

Em 2009, Princesa e Vangloria vivem na rua. Princesa trabalhou em uma famosa boate dos anos 1970, Le Masqué. Vanglória é sua melhor amiga e companheira, e está sempre atenta sobre as indicações de placas de rua. Elas são amigas de Maresias, uma famosa atriz de TV. Maresias é deprimida e solitária, e apesar do sucesso e da estabilidade financeira, vive sistematicamente com a hipótese do suicídio em mente.

Em 2019, os moradores dos apartamentos da praça mantêm relações paradoxais com as pessoas da rua. Mariana é uma mulher independente que admira a vida livre dessa população. Max é um jovem antissocial que despreza essas pessoas. Ele e seu amigo Thomas consideram-nos fracassados. Alone é recém-chegado à praça e deseja moralizar a região, eliminando as pessoas que vivem na rua.

O espetáculo tem elementos de romance policial, espetáculo de denúncia, teatro narrativo e teatro-karaokê. Os Satyros utiliza a Praça Roosevelt como alegoria dos acontecimentos políticos e sociais que vêm marcando os últimos anos do país.

Os temas musicais são resgatados do universo brega brasileiro dos anos 1970, a partir de canções de Odair José, Paulo Sérgio, entre outros.

Sinopse

Durante os últimos vinte anos, a Praça Roosevelt passou por um processo de profunda transformação, de local perigoso a um efervescente ponto cultural. A montagem faz dela uma alegoria do cenário político e social do Brasil das últimas décadas.

Mississipi, personagem-título, tinha um sonho de criança, conhecer o estado americano em que seu nome era inspirado. Infelizmente, só conseguiu chegar à Praça Roosevelt, outro nome americano. Trata-se de um painel de personagens com pessoas em situação de rua e moradores da praça. Entre os temas abordados estão os desafios de suas vivências no centro da metrópole, como a intolerância e a violência social, a dificuldade de sobrevivência, a solidão, o abuso policial e a pedofilia, entre outros. Um romance policial, espetáculo denúncia, teatro narrativo e teatro-karaokê. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Mississipi
Com Os Satyros
De 20 de abril a 26 de maio; sextas e sábados às 21h; domingos às 18h
Local: Teatro Anchieta (280 lugares)
Duração: 120 minutos
Não recomendado para menores de 16 anos
Ingresso: R$ 12,00 (trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculados no Sesc e dependentes/Credencial Plena) | R$ 20 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor de escola pública com comprovante) | R$ 40,00 (inteira).

Ficha Técnica

Elenco: Ivam Cabral, Nicole Puzzi, Eduardo Chagas, Gustavo Ferreira, Henrique Mello, Sabrina Denobile, Fabio Penna, Julia Bobrow, Robson Catalunha, Felipe Moretti, Marcia Dailyn , Ju Alonso, Junior Mazine e Ingrid Soares

Texto: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez
Direção: Rodolfo García Vázquez
Assistente de Direção: Silvio Eduardo
Iluminação e Operação de Luz: Flavio Duarte
Cenografia: Murillo Carraro
Design de Aparência: Adriana Vaz e Rogério Romualdo
Trilha Sonora e Dramaturgia Sonora: Marcello Amalfi
Preparação Vocal: Dan Ricca e Isis Nascimento
Vozes em Off: Thiago Mendonça e Marcelo Thomaz
Vídeos e Programação Visual: Henrique Mello
Texto do Programa: Marcio Aquiles
Assessoria de Imprensa: Robson Catalunha e Diego Ribeiro
Fotografias: Andre Stefano
Criação e Confecção de Máscaras: Eduardo Chagas
Confecção de Figurinos: Cleide Miwa
Operação de Som: Dennys Leite
Produção Executiva: Silvio Eduardo e Diego Ribeiro
Assistência de Produção: Maiara Cicutt
Administração: Israel Silva

Sesc Consolação
Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo
Informações: (11) 3234-3000
Transporte Público: Estação Mackenzie do Metrô – Linha 4 – Amarela 
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