.Por Giba Soares.

Semana passada alertei sobre a greve que grupos de caminhoneiros tinham marcado para o dia 29. O estopim foi mais um aumento no preço do diesel das refinarias, que já subiu mais de 24% desde o início do novo governo, mas a pressão de uma greve muito próxima a um 1º de maio com reivindicações contra a reforma da previdência fez o governo correr pra mesa de negociação.

(foto ebc – ag brasil)

Os caminhoneiros conseguiram um reajuste automático do frete atrelado ao reajuste do diesel e outras promessas, como o acertado fim das multas aos caminhoneiros que trabalharem abaixo do frete tabelado, afinal, só se aceita essas condições quem está com a corda no pescoço.

Mas se o preço do diesel deixou de ser um problema da categoria – na teoria, pois se continuar como está ou ainda piorar a informalidade dos fretes, os motoristas voltarão a chiar, e ainda mais alto – foi porque passou a ser justo? Justiça tem sido um objeto de analise de filósofos a milênios. Em A República, de Platão, Sócrates diz que a justiça é a “conveniência do mais fraco”, quero deixar essa definição guardada por um momento.

Vamos analisar primeiramente a composição do preço do diesel: o custo de produção para a Petrobrás é de R$ 0,59; a margem de lucro está em R$ 1,44; o biodiesel agrega R$ 0,21 por litro; R$ 0,85 são impostos e distribuição e revenda cobram R$ 0,46, totalizando R$ 3,55, que é a média em Campinas.

Com essa decomposição, podemos observar que a margem de lucro da Petrobrás, é na casa dos 240% (!), e é o item que mais impacta o preço final. Mesmo se considerássemos apenas o petróleo do pré-sal e em seu preço de equiílrio (break-even) a margem de lucro ainda estaria em torno de 140%.

O governo Bolsonaro, assim como o de Temer, cede ao lobby dos importadores de combustível e das petrolíferas americanas (o “America First” também vale por aqui), que só conseguem trazer diesel do golfo do México se a Petrobrás manter essa descabida margem de lucro, que ela mesma chama de paridade de importação, mesmo perdendo mercado e tendo que baixar sua produção. Acionistas também ficam contentes, pois recebem altos dividendos (que são isentos de impostos) e se essa política futuramente se mostrar daninha a empresa, vende-se os papeis dessa e compra-se de outras e ainda é capaz de processarem a empresa pelo mau gerenciamento.

Pela opção de transporte rodoviário feito pelo Brasil, o preço do diesel e do frete impacta no valor final dos produtos que consumimos e mesmos nos custos dos produtos para exportação que perdem competitividade. E depois somos obrigados a ouvir que o problema da nossa falta de competitividade é o “excesso” de direitos trabalhistas e previdenciários.

Retomando a questão da “justiça”: quem é o mais fraco a quem ela deve servir? Petrolíferas americanas, importadores de combustíveis e acionistas ou consumidores e produtores brasileiros?

Ano passado, junto com os caminhoneiros, os petroleiros também fizeram uma greve, mas diferentemente de paralisação, tentaram aumentar a produção (!) e pediram o barateamento dos combustíveis, ou seja, buscaram fazer a Petrobrás ser a espada da justiça, mas foram impedidos pelo nosso sistema judiciário, quem banca a venda de Têmis.

 

Giba Soares é ex-petroleiro e radialista.