.Por  Eduardo de Paula Barreto.

É hora de celebração
De alçar brados às alturas
Relembrando com emoção
Os afagos da ditadura
Esse lindo período histórico
Em que com métodos insólitos
Demonstrava-se amor intenso
Dos militares tão gentis
Para com os felizes civis
Que adoravam ser presos.
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Para serem selecionados
Entre os presos políticos
Os civis elogiavam o Estado
E os fetiches dos milicos
Assim tornavam-se finalistas
No concurso de comunistas
Que seriam agraciados
Com o prêmio mais glamoroso
Meses ou anos nos calabouços
Recebendo excitantes afagos.
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Aos que se destacavam na disputa
Por um lugar no DOI-CODI
Depois de relaxantes torturas
Recebiam como prêmio a morte
Sendo enterrados em valas comuns
Ou incinerados um a um
Nos fornos das usinas
Orgulhando seus familiares
Que recebiam dos militares
Pólvora em vez de cinzas.
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Mas os que eram ingênuos
Nos elogios ao regime
Recebiam como prêmio
Algo menos sublime
Sendo apenas enviados
Ao degredo como exilados
Impedidos de voltar ao País
Até sentirem na Europa
Imensa saudade das botas
Porque sem chute ninguém é feliz.
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Saiamos todos em marcha
Celebrando sessenta e quatro
E acabemos de vez com a farsa
De que houve maus tratos
Contra os engajados ativistas
Que viveram como idealistas
E foram acarinhados com intensidade
Pelo Governo que por amá-los tanto
Prolongou suas horas de pranto
Apenas para adiar a saudade.
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29/03/2019

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