Em São Paulo – Pode ser vista no MASP – Museu de Arte de São Paulo até o dia 19 de maio de 2019, a exposição “Djanira: a memória de seu povo”.

Djanira da Motta e Silva, Vendedora de flores, 1947. Óleo sobre tela (detalhe)

Esta é a primeira grande exposição monográfica dedicada à obra de Djanira da Motta e Silva (Avaré, São Paulo, 1914– Rio de Janeiro, 1979) desde seu falecimento há quarenta anos. Autodidata e de origem trabalhadora, a artista surgiu no cenário da arte brasileira nos anos 1940. Embora tenha trilhado sólida carreira em vida, nas últimas décadas Djanira foi colocada de lado nas narrativas oficiais da história da arte brasileira. Esta mostra busca, portanto, examinar o papel fundamental da artista na formação da visualidade brasileira e reposicioná-la na história da arte do país durante o século 20.

O título Djanira: a memória de seu povo — emprestado de uma reportagem dos anos 1970 de Mary Ventura — refere-se à trajetória da artista, à sua história de vida e suas muitas viagens pelo Brasil, bem como sua pintura profundamente engajada com a realidade à sua volta. No caso de Djanira, falar em memória remete ao extraordinário imaginário que a artista criou com base na vida cotidiana, nas paisagens e na cultura popular brasileira, em torno de assuntos frequentemente marginalizados pelas elites. 

Djanira da Motta e Silva, Parque de diversões. (Foto:
Jaime Acioli/Divulgação)

Esta exposição inclui obras de todos os períodos da produção de Djanira, do início dos anos 1940 ao final dos anos 1970, e segue um princípio cronológico ao mesmo tempo que reúne trabalhos dos principais temas da artista: retratos e autorretratos, diversões e festejos populares, o trabalho e os trabalhadores, a religiosidade afro-brasileira e católica, os indígenas Canela do Maranhão, entre diversos povos e paisagens brasileiros. 

A obra de Djanira foi por vezes rotulada pela crítica como arte primitiva ou ingênua, classificações que hoje são entendidas como preconceituosas e perversas, pois refletem uma perspectiva elitista e eurocêntrica segundo a qual todos os trabalhos que não seguem os estilos e gostos eruditos tidos como “oficiais” eram considerados menores — primitivos, ingênuos, naïfs. Esta exposição e o livro que a acompanha visam reparar esses equívocos e incompreensões, devolvendo a urgente visibilidade que a obra de Djanira merece e marcando sua presença fundamental na história da arte brasileira.

‘Mercado de Peixe’, 1957, óleo sobre tela, coleção Banco Itaú, São Paulo, foto: João L. Musa/Itaú Cultural

Djanira: a memória de seu povo inaugura a programação do ciclo Histórias das mulheres, histórias feministas, dedicado a artistas mulheres na programação do MASP durante o ano de 2019. A mostra coincidirá com as exposições de Tarsila do Amaral e de Lina Bo Bardi, a partir de abril, três pioneiras que trabalharam, cada uma a seu modo, a partir de diferentes fontes populares em suas obras no século 20.

Djanira: a memória de seu povo tem curadoria de Isabella Rjeille, curadora-assistente, e Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira do MASP. (Carta Campinas com informações de divulgação)

‘Largo do Pelourinho’, Salvador, BA, 1955, óleo sobre tela, coleção particular, Rio de Janeiro, foto: Jaime Acioli
‘Candomblé’ (estudo de mural), 1967, guache, acervo Museus Castro Maya – IBRAM/MinC, Rio de Janeiro, foto: Jamie Acioli