.Por Susiana Drapeau.

Não só os setores progressistas da sociedade brasileira devem ficar atentos ao que se avizinha e é gestado no interior do governo Bolsonaro. Medidas estão sendo tomadas que aos poucos vão revelando a sua verdadeira face.

(josé cruz – agência brasil)

Qualquer empresário, trabalhador, profissional liberal, de esquerda ou de direita, precisa estar ciente do processo que tende a se transformar em algo monstruoso disfarçado de ‘combate à corrupção’.

E é muito simples de entender esse processo. Ele possui um movimento duplo e contraditório:

  1. Reduzir normativas e a legislação que impõem exigência legal para a transparência na administração pública. Com isso, aumentando a possibilidade da corrupção.
  2. Aumentar a legislação de combate à corrupção concentrando poder no Ministério Público, Polícia Federal e no Poder Judiciário.

Ou seja, o movimento contraditório que sustenta esse projeto é aumentar a possibilidade de corrupção de forma efetiva, derrubando conquistas da sociedade desde a redemocratização. E, por outro lado, concentrar poder absoluto de combate à corrupção na polícia e no Ministério Público.

É nesse sentido, que em apenas um mês de administração, o governo Moro-Bolsonaro já tomou várias medidas que facilitam a corrupção:

1. Decreto do governo destrói uma das maiores conquistas dos brasileiros: a Lei de Acesso à Informação

2. Moro e Bolsonaro tentam derrubar medida anticorrupção criada pelo governo Lula

3. Moro e Bolsonaro eliminaram competência do Coaf para combater corrupção, denuncia advogado

4. Moro e Bolsonaro impõem censura a todos os integrantes do Coaf, órgão que identifica corrupção.

Ao mesmo tempo que alivia para a corrupção, concentrou poder de combate à corrupção no Ministério da Justiça, impedindo a articulação independente de vários órgãos.

Mas o pior está por vir: são as 10 ou mais medidas de poder total de combate à corrupção para o Ministério Público, defendidas por Deltan Dallagnol.

É um projeto que finge combater a corrupção. O correto, obviamente, é exigir transparência das ações administrativas e não com medidas opostas como acontece no novo governo. Finge porque garante mecanismos para que a corrupção se perpetue.

Ao mesmo tempo, dá poder total ao Ministério Público, à Polícia e ao Poder Judiciário, poderes sem qualquer controle da sociedade. Um monstro está sendo gestado.

Com isso, o Brasil terá garantido uma estrutura monstruosa em que se permite a corrupção, mas dá total poder de polícia para restritos órgãos do governo. E eles poderão dizer que “essa corrupção interessa” e que “essa corrupção fica escondida”, assim como aconteceu com a Lava Jato.

Isso tem nome na história, e é monstruoso. A sociedade como um todo se torna refém desse poder. E em algum momento também vai recair sobre aqueles que apoiam tal insanidade.

Não dá para não se lembrar o famoso trecho do poema de Eduardo Alves da Costa, ‘no caminho de maiakóvski”.

Estamos na primeira noite do governo Moro Dallagnol.

“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”