Uma joia de aminamação chamada hyouka

.Por Sandro Ari Andrade de Miranda.

Confesso que desde a primeira vez que assisti esta pequena obra-prima, com 22 capítulos, fiquei impressionado pela beleza e qualidade da animação. Muitas vezes aparentemente lento, Hyouka é um anime que presa pelos detalhes, pela lógica genial do protagonista, pela sutiliza dos gestos, pela harmonia entre o roteiro e os acontecimentos.

(imagem: divulgação)

Produzido pelo notável estúdio Kyoto Animations, em 2012, o mesmo do clássico a “Melancolia de Haruhi Suzumyia”, e dirigido brilhantemente por Yasuhiro Takemoto, Hyouka conta uma parte da vida do jovem Houtarou Oreki, um estudante de ensino médio da escola Kamiyama que sempre defendeu a sua filosofia de vida visando gastar pouca energia. Mesmo podendo mais, ele controla até as suas notas dentro de um padrão que não mude os seus hábitos.

Depois da morte de sua mãe, o pai viaja para o exterior e ele passa a viver apenas com a sua imã mais velha, Tomoe, mas esta também, sempre viajando, se mantém distante, o que permite a colocação da sua filosofia de pouca energia em funcionamento.

Tudo muda, no entanto, quando por influência da sua irmã ele ingressa no “Clube de Literatura Clássica” da escola, o qual encontrava-se abandonado, onde conhece a bela Eru Chitanda, uma adolescente tímida, gentil e educada, com vibrantes olhos azuis violeta, filha de ricos e influentes fazendeiros da região. Entretanto, em momento algum ela demonstra algum sinal de arrogância ou preconceito em virtude da sua condição social, pelo contrário.

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Foto: Chitanda

Pois neste primeiro encontro surge um mistério, dos muitos que serão a mola propulsora inicial do roteiro: como Chitanda estava na sala fechada do clube se Oreki pegou a única chave oficial na Secretaria da Escola? É neste momento que surge um outro personagem, Fukube Satoshi, amigo de infância do protagonista, também muito inteligente, mas sem a capacidade de raciocínio de Houtarou. A solução acaba não sendo extraordinária, mas serve como motivo para estimular a curiosidade da jovem.

Posteriormente, Chitanda convida Oreki para tomar chá em restaurante, onde faz um pedido para que ele a auxilie a desvendar aquele que será o maior mistério e dará nome ao seriado. O que o seu tio lhe havia contado de tão relevante na sua infância que a faz chorar? E aqui somos brindados com um pequeno pedaço da história do Japão ainda pouco conhecido pelo ocidente: como a juventude do país se mobilizou para defender os importantes festivais culturais na década de 1960. Se considerarmos que este é um país conhecido pela pouca mobilização social de seus cidadãos e cidadãs em termos de atos públicos, conhecer um pouco desse passado foi um presente dado pelos roteiristas.

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Foto: Oreki desvendando o mistério

É nesta fase que ingressa a quarta personagem que formará o grupo central, a mangaká Mayaka Ibara, que possui uma paixão antiga com Satoshi e um pequeno conflito com Oreki, o que será apaziguado ao longo dos acontecimentos, especialmente no ótimo episódio sobre o Valentine’s Day.

Aos poucos, os mistérios vão se tornando secundários diante do processo de amadurecimento das relações entre os personagens. E claro, o motor do roteiro é o amor nascente entre Chitanda e Oreki. Aqui, novamente, uma diferença em relação aos outros animes que é tom realista dos acontecimentos. Mesmo que Chitanda comece a exercer um poder extraordinário sobre o protagonista, ao ponto de ele virar piada nas mãos de Ibara quando confessa que a menina é “uma pessoa impossível de ser ignorada”, as suas emoções vão sendo demonstradas em elementos que impressionam pela sensibilidade. É o olhar onipresente de Chitanda, o movimento dos seus cabelos, as suas reações quando consome uma caixa de bombons de Whisky, a nuca descoberta para um evento religioso, são os fatores que demonstram o fascínio do personagem principal pelo seu verdadeiro amor nascente. Além disso, é ela com o seu bordão, “estou curiosa, não consigo parar de pensar nisto” que movimenta os acontecimentos.

Algumas cenas são antológicas. Eu diria que o último capítulo inteiro é impressionante pela beleza. Mas três momentos chamam atenção. O primeiro quando o diretor ilustra o poder da influência de Chitanda sobre Oreki como se uma árvore tomasse conta do ambiente e ligasse os dois. Por mais que ele resista, sempre acaba cedendo aos pedidos que ela faz. O segundo é a forma como Oreki desmonta o mistério do Festival Cultural diante do responsável, demonstrando o alcance da sua capacidade intelectual. E o último é o conflito com Satoshi, quando este confessa que possui inveja da capacidade intelectual do amigo.

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Foto: Ilustração do poder de convencimento de Chitanda sobe Oreki

Ao final dos 22 episódios, os personagens são bem diferente do que iniciaram, demonstrando uma evolução muito grande. Nenhum é linear, os clichês que aparecem são meros suportes para um roteiro riquíssimo. Há momentos para rir, para se emocionar, pensar e muitos para ficar admirado. Hyouka é um anime que não possui limite de idades, desde que as pessoas estejam preparadas para abrir as suas mentes e o seu coração para as sutilizas dos destalhes.

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Foto: Arte comédia demonstrando o perfil dos personagens