A Associação Nacional dos Participantes dos Fundos de Pensão (Anapar) realizou uma pesquisa inédita com a população para saber como o brasileiro está em relação à aposentadoria, mas descobriu algo assustador. A pesquisa, que deveria revelar aspectos relacionados à previdência, descobriu também uma nova forma de escravização da população, que é realizada pelo endividamento e falta de condições de sobrevivência.

(foto ilustr. danielle pereira cc)

A pesquisa descobriu que a renda de grande parte da população é insuficiente para sobreviver, falta perspectiva e há um elevado grau de endividamento. Esses três fatores combinados impedem que as pessoas guardem dinheiro para a aposentadoria, produzindo um quadro de verdadeiro “desalento previdenciário” no país.

A situação vai ficar pior no futuro do Brasil porque a Reforma da Previdênciária em debate no Congresso quer justamente fazer com que essa população, que não tem recursos para aposentadoria, faça sua própria aposentadoria individualmente. Eliminando dessa forma o pacto social do Estado brasileiro. Sem compromisso com a aposentadoria, o Estado pode ter mais recursos para servir aos mais ricos por meio de benefícios fiscais, altos salários e privilégios.

Os dados revelados são impressionantes: dos 150 milhões de brasileiros a partir de 16 anos, 112 milhões (75%) declaram ter dívidas. Desses, 33% se consideram muito endividados ou endividados. Mais de 94 milhões (63%) dizem ter renda insuficiente para viver.

O endividamento mostra-se determinante na equação do “desalento previdenciário”. Três em cada quatro brasileiros têm dívidas. Entre eles, 36% pagam empréstimos, 22% têm financiamento de automóvel e 9% têm financiamento imobiliário. Dos endividados, 54% são mulheres e 64% têm 45 anos ou mais. A menor concentração está entre jovens de 16 a 24, apenas 8%.

Via de regra, a dívida guarda relação direta com o acesso a recursos financeiros. Não por acaso, entre os endividados, 68% são trabalhadores ativos, 21% são aposentados, 4% estão desempregados e 74% têm conta em banco.

Um dado, porém, reforça o antagonismo do endividamento com a formação de reserva previdenciária. Entre os endividados, 61% não contribuem para a Previdência Social, portanto, não guardam dinheiro para uma futura aposentadoria por meio do INSS e deixam de contar com benefícios como auxílio doença e aposentadoria por invalidez.

Somente 13% da população afirmam que poupam com alguma regularidade, 34% poupam de vez em quando e 51% não guardam dinheiro. Dos que poupam, 69% juntam até R$ 300 por mês; 46% afirmam que juntam apenas quando sobra dinheiro, 25% reservam uma parte assim que recebem e 17% deixam de comprar alguma coisa para poupar.

Perguntados sobre a principal finalidade do dinheiro poupado, 14% respondem que é para eventualidades, viagens (13%), casa própria (11%), educação dos filhos (10%), eletrônicos e eletrodomésticos (8%), carro ou moto (8%) e despesas com saúde (7%).

Entre os 97,5 milhões de trabalhadores remunerados, 52% são informais. A maior parte tem entre 45 e 54 anos (29%). Os demais se distribuem nas outras faixas etárias, variando entre 12% e 17%. Mais da metade dos informais (57%) ganha até 2 salários mínimos (33%), 31% recebem de 2 a 5 salários, 5% ganham de 5 a 10 salários e 1%, acima de 10 salários.

O resultado de toda essa conjuntura é alarmante e projeta um futuro ainda mais difícil para o país. De todos os brasileiros, 35% contribuem para a Previdência Social. Somente 12% dizem juntar dinheiro por conta própria para aposentadoria.

Pesquisa Anapar Finanças Pessoais e Previdência Brasil 2018, encomendada ao Instituto FSB Pesquisa, realizou entrevistas domiciliares com 2.045 pessoas a partir de 16 anos, em 152 municípios, entre 8 e 13 de novembro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%. (Carta Campinas com informações de divulgação)