(Foto: Brendo Trolesi)

Em São Paulo – O espetáculo Gaivota: qual o gesto de um sonho?, quinta montagem dos Heterônimos Coletivos de Teatro, estreia no dia 11 de janeiro, sexta, no Sesc Belenzinho, às 21h30.

Com dramaturgia de Eduardo Joly e direção de Felipe Rocha, a peça investiga a obra do russo Anton Tchékhov (1860-1904) para indagar o que pode ser feito quando os sonhos estão desfeitos.

A partir da sensação de fracasso político e de ruína dos sonhos coletivos, o grupo iniciou o Projeto: Fracasso e Resistência que consiste na pesquisa das quatro principais obras de Tchékhov: A Gaivota, As Três Irmãs, Tio Vânia e O Jardim das Cerejeiras. A peça Gaivota: qual o gesto de um sonho? é a primeira parte do projeto e tem elenco formado por Alexandra Tavares, Ametonyo Silva, Caio Caldas, Danilo Arrabal, Felipe Rocha, Lívia de Souza, Marcela Grandolpho, Naia Soares e Thaina Muniz.

Com uma dramaturgia criada coletivamente, o espetáculo move, no espaço vazio e reorganizável da cena, uma ação que se aproxima da questão: qual o gesto de um sonho? Da obra original do dramaturgo russo, o coletivo chegou a três acontecimentos principais que norteou a criação do trabalho: o fracasso de uma peça de teatro, a morte de uma gaivota em pleno voo e as tentativas de seguir sonhando diante dessa sensação de vazio. É a partir desses três pontos principais que a obra orbita.

Em uma arena vazia, os atores são atravessados por essas questões e se colocam em ação diante do público. Como em uma revoada de pássaros, as cenas se transformam continuamente sempre movidas pela ação dos atores. Segundo o diretor Felipe Rocha, “pensar a obra pelo viés de uma gaivota, que migra, gera a possibilidade de movimento”. Ele esclarece que migrar é como uma situação criativa, como uma atitude de revolta contra as condições estabelecidas. “É uma forma de engajamento para possibilitar transformações”, diz.

Quando começaram a criar, em outubro de 2017, o que moveu o coletivo foi uma sensação, percebida após os acontecimentos políticos da época: “uma sensação de fracasso percorria os caminhos invisíveis entre as pessoas; algo que se assemelhava ao susto de acordar num sobressalto, após um sonho”, comentam os atores. Ao mesmo tempo, movimentos se articulavam por novas formas de ações de resistência. “A nós parece que são esses dois vetores, essas duas sensações que mais fortemente têm percorrido nossos corpos enquanto cidadãos brasileiros, e então foi daí que partimos”, esclarecem. E foi dessa busca de dramaturgias, que também tivessem essas duas linhas de ação pulsando forte, que o coletivo chegou a Anton Tchékhov. Vivendo em uma Rússia em transformação, as obras carregam em suas personagens a potência da ação em busca de novas formas de se viver, ao mesmo tempo em que aflora uma profunda sensação de fracasso de diversos ideais e instituições. É um tentativa de existência em momentos de crise.

A partir disso, as questões iniciais do processo criativo foram: o que fazer no campo artístico diante da sensação de vazio? Como reinventar as formas de sonhar e de se projetar como ação para o futuro? A primeira resposta que pareceu possível ao coletivo foi “criar espaços de resistência coletiva em meio à sensação de fracasso”, concluem. Assim, foi por essa necessidade de repensar qual prática teatral era essa que gostariam de pesquisar nesse momento que o coletivo resolveu iniciar o projeto com a pesquisa de A Gaivota, texto em que a própria arte do teatro é colocada como um dos temas de discussão.

Gaivota: qual o gesto de um sonho? foi elaborado ao longo de 2018, mediante a constatação, diante dos acontecimentos que percorreram esse ano, de que a sensação de fracasso se aprofundava e se tornava mais palpável e assustadora. “O teatro, então, se mostrou para nós como o campo possível dos afetos nesses dias tão áridos. Viver esse processo foi uma maneira de reaprender como estar juntos no mundo. E é isso que desejamos nesse encontro com o público: criar uma relação real de troca e afeto”, conclui o diretor Felipe Rocha.

Ficha técnica
Dramaturgia: Eduardo Joly. Direção: Felipe Rocha. Elenco: Alexandra Tavares, Ametonyo Silva, Caio Caldas, Danilo Arrabal, Felipe Rocha, Lívia de Souza, Marcela Grandolpho, Naia Soares e Thaina Muniz. Iluminação: Maíra do Nascimento. Cenografia: Marcus Garcia. Sonoplastia: Eduardo Joly. Técnica de som: Joana Flor. Composição musical: Giu Castro e Sofia Maruci. Fotografia: Brendo Trolesi. Arte gráfica: Brendo Trolesi e Cleber Assunção. Produção: Corpo Rastreado. Realização: Sesc SP.

Encontros: Como uma Multidão Ainda É Capaz de Coexistir e Sonhar Junto?
Com: Heterônimos Coletivo de Teatro

Tendo como ponto de partida os procedimentos para investigar o que o grupo chama de “Ação Coletiva”, os encontros buscam um aprofundamento na técnica física e vocal do ator. Para que os atores pesquisem caminhos para agir coletivamente em cena, o grupo propõe treinamentos de movimento, ação psicofísica e canto na busca por criar estados de escuta e jogo. O trabalho do grupo vem se articulando numa tentativa de resistir na prática de uma cena feita por muitas pessoas e que se constrói através de diferentes olhares sobre os materiais. Como uma multidão ainda é capaz de coexistir e sonhar junto? Ainda é possível? É a partir dessas questões que o coletivo pretende mover esses encontros. No último dia de trabalho o grupo se interessa em abrir publicamente, em espaços da unidade, o material cênico investigado.

(Carta Campinas com informações de divulgação)

Espetáculo: Gaivota: qual o gesto de um sonho?
Temporada: 11 de janeiro a 10 de fevereiro/2019
Local: Sala de Espetáculos I (90 lugares).
R$ 20,00 (inteira). R$ 10,00 (meia). R$ 6,00 (Credencial Plena).
Horários: sextas e sábados, às 21h30, e domingos, às 18h30
Não recomendado para menores de 12. Duração: 1h30. Gênero: Drama.

Encontros: Como uma Multidão Ainda É Capaz de Coexistir e Sonhar Junto?
Datas: 29/01 a 07/02. Terça a quinta, das 16h às 20h
Público: Profissionais e estudantes de artes cênicas. Vagas: 30.
Local: Sala de Espetáculos I. 90 lugares.
Grátis. Não recomendado para menores de 16.

Sesc Belenzinho
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000
Belenzinho – São Paulo (SP). Telefone: (11) 2076-9700
www.sescsp.org.br/belenzinho