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.Por Eduardo de Paula Barreto.
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(imagem: kyasarin cc)

Adeus dois mil e dezoito
Despeço-me com melancolia
Do ano em que tive o desgosto
De testemunhar a Democracia
Sendo vítima de uma cilada
Feita pela mesma gente fardada
Que retirou da parede o retrato
Do Presidente João Goulart
Só que desta vez sem usar
As armas de sessenta e quatro.
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Quando der meia-noite
De trinta e um de dezembro
Os rojões saudarão ferozes
A nova bomba do Riocentro
E seus ecos calarão o som
De quem faz da canção
Uma forma de protesto
E os jornais que têm lisura
Serão vítimas da censura
Até virarem jornalecos.
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Os escritores e poetas
Cujas letras ninguém cala
Verão as suas canetas
Virarem paus de arara
De onde pensamentos diversos
Fluirão como textos ou versos
Escorrendo diante dos olhares
Daqueles que se regozijam
Ao verem os que agonizam
Nos calabouços militares.
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E quem ousar bater panela
Em busca do bem coletivo
Será jogado numa cela
Acusado de terrorismo
E o Ministro da Justiça
Como membro de uma milícia
Usará o seu poder absoluto
Para fazer da corrupção
Uma peça de ficção
Ao proteger os corruptos.
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Dois mil e dezenove
Será um ano decisivo
E quem é de direita hoje
Dirá ser indeciso
E quando a sociedade
Começar a sentir saudade
Do que era viver livremente
Todos chegaremos à conclusão
De que a melhor direção
É sempre para a frente.
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21/12/2018

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