A pluralidade encontrada nas vivências em rodas de samba dá o tom ao espetáculo Uji – O Bom da Roda, assinado pelo artista Edu de Maria, fundador do Núcleo Cultural Cupinzeiro. A montagem será apresentada nessa sexta-feira (30/11) e sábado (1º/12), às 20h, na Sala dos Toninhos, na Estação Cultura.

(Foto: Roniel Felipe)

Contemplado pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC), na categoria Produção e Circulação de Espetáculo Inédito, o espetáculo traz à cena, em companhia de Edu de Maria, os músicos Anabela Leandro, Roberto Amaral e Xeina Barros, sob a direção de Ana Cristina Colla, atriz-pesquisadora do Lume Teatro.

Sobre o nome do solo, um mistério paira sobre a expressão o bom da roda. “O nome foi proposto para deixar essa ambiguidade: é alguém ou o que é? Para mim, dentro do processo de construção do espetáculo, o bom da roda é um campo afetivo que a roda produz dentro da minha experiência e da pesquisa com relação ao samba. É a vivência que a roda propicia às pessoas e que eu tento trazer para dentro do espetáculo”, conta Edu de Maria. Da mesma forma, a expressão “uji”, que vem do Budismo Soto Zen, coloca nova interrogação no semblante do espectador. “Exemplifica a unificação entre a existência e o tempo. Uji é puro fluxo, presença em um tempo que não decorre. A roda é uji”.

O espetáculo nasce a partir de duas notas: as próprias memórias afetivas de Edu e as suas pesquisas sobre o universo do samba (mestrado e doutorado), que são alinhavadas às vivências nas rodas, aos bate-papos com sambistas e à experiência do intérprete como cantor, compositor e músico. “É a minha relação com o samba. Não tenho uma pretensão de trazer uma linearidade histórica ou ser didático. Isso eu acabo fazendo com o meu trabalho acadêmico. O espetáculo vem justamente ao encontro desse meu desejo de sair do campo didático e sociológico. É uma criação livre a partir de todas as experiências e dessa minha relação com o samba. É uma relação de existência, de potência de vida”, destaca Edu.

Para apresentar à plateia os três personagens que encantam a trama: o trabalhador urbano Cícero, uma sambadeira e um sambador, Edu de Maria convida à roda de samba a técnica da mímesis corpórea, linha de estudo desenvolvida pelo Lume Teatro (Campinas/SP), que se estrutura na observação, na codificação e na memorização de ações físicas e vocais de pessoas reais encontradas no cotidiano. Para o trabalho, além da diretora do espetáculo, Edu de Maria contou com a orientação de Renato Ferracini, também ator-pesquisador do núcleo teatral campineiro. “A partir dos encontros que tive com cada uma dessas pessoas, busquei trazê-las para o meu corpo e minha voz. O Cícero, mesmo, foi uma criação a partir de uma vivência minha com um trabalhador que estava lavando uma dessas caçambas de lixo orgânico”.

A história não é linear. O ponto de partida do espetáculo está relacionado à chegada de Cícero, um jovem trabalhador urbano e com antepassado marcado pelos batuques, no pedaço. “Aos poucos, ele vai se deparando com memórias e vai apresentando-as ao público. A partir dessas lembranças, surgem outros personagens, como a sambadeira, que representa as várias sambadeiras com que me encontrei no Recôncavo Baiano, e um sambador, que para ele é um avô, mas que se configura nos velhos mestres, que tocam, compõem e cantam nas rodas. Essas três figuras são as responsáveis por costurar a trajetória do espetáculo”. Contudo, a fim de trazer novo toque de mistério à trama, o próprio intérprete desfila sobre os olhos da plateia memórias afetivas de uma infância musical.

Fundador do Núcleo Cultural Cupinzeiro, Edu de Maria tem graduação em música popular, mestrado em educação e doutorado em artes pela Unicamp. De 15 anos para cá, tem atuado de forma bem-sucedida como compositor (sambas e trilhas), violonista, intérprete e arranjador, participando de temporadas em várias partes do Brasil, além de EUA, Portugal, França, Argentina e Uruguai. A partir dessas habilidades, assinou a gravação dos discos Núcleo Cupinzeiro (2008), Histórias do Samba Paulista (2009), Cidade das Noites e Pé de Vento (2011), bem como dos DVDs Experiência Cultural na Roda (2011) e Marejante (2016). O engajamento na pesquisa do samba rendeu-lhe diversos prêmios, entre os quais Prêmio Estímulo de Música (2007), Prêmio de Intercâmbio e Difusão Cultural do Ministério da Cultura (2007), Medalha Carlos Gomes, ProAC (2009) e PROEXT Cultura (2010).

A entrada é gratuita. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Uji – O Bom da Roda, de Edu de Maria
Quando: Sexta (30/11) e sábado (1º/12), às 20h
Onde: Sala dos Toninhos, na Estação Cultura (Praça Marechal Floriano Peixoto, s/nº. Estacionamento gratuito: acesso pela Rua Francisco Teodoro, 1.050, Vila Industrial)
Quanto: Entrada gratuita
Classificação etária: 10 anos
Duração: 70 minutos
Informações: facebook.com/sambacupinzeiro