As Criadas (Foto: Ronaldo Gutierrez)

Em São Paulo – Nos dias 19, 20 e 21 de outubro, o Sesc Santo André apresenta o Que Absurdo! Trilogia do Teatro do Absurdo recebendo as companhias Grupo TAPA e Cia. Boa Vista de Teatro para encenar obras de grandes dramaturgos originários do Teatro do Absurdo, como Jean Tardieu (1903-1995), Eugène Ionesco (1909-1994) e Jean Genet (1910-1986).

O início do século XX foi marcado pelas transformações dos movimentos artísticos de vanguarda. Na pintura, o dadaísmo influenciava gerações, assim como a literatura do tcheco Franz Kafka (1883-1924) e do irlandês James Joyce (1882-1941). No cinema, o inglês Charles Chaplin (1889-1977), e os americanos Buster Keaton (1895-1966) e Oliver Hardy (1892-1957). No teatro, o poeta e dramaturgo francês Alfred Jarry (1873-1907) se tornava percursor de movimentos como expressionismo e surrealismo, além de criar a patafísica, a “ciência das soluções imaginárias e das leis que regulam as exceções”. Estes são apenas alguns exemplos da estrutura intelectual e conceitual das artes no século XX, que foram deixadas em migalhas pelos horrores da Primeira (1914-1918) e Segunda Guerra (1939-1945).

A atmosfera de desolação que pairava e a incerteza humana despertaram reflexões existencialistas que deram origem a novas formas de interpretar e fazer teatro, o que ficou conhecido como o Teatro do Absurdo. Proposto pela primeira vez pelo crítico inglês Martin Esslin (1918-2002), o termo é muito mais que um gênero artístico ou movimento teatral. São obras produzidas no pós-guerra que tratavam da solidão, da incomunicabilidade e perda de referências do homem moderno por meio de traços estilísticos e temas que divergem radicalmente da dramaturgia tradicional realista. São obras que buscam criar novos universos a partir de situações banais e cotidianas, cercadas de acontecimentos insólitos e ações sem motivação aparente, com humor ácido e irônico que aproximam mundos estranhos ao real.

Tais temáticas podem parecer distantes do público contemporâneo, mas não são, principalmente nesse momento em que o absurdo grita cada vez mais alto diante de nós.

Criados ainda no século XX, os espetáculos ganham montagens atuais em um momento histórico marcado pela superficialidade fanática na política, nas paixões e discussões acaloradas sobre a sociedade politicamente correta, que varre tudo que é feio para baixo do tapete e não pode mais conter a poeira acumulada. A conversa vazia que ocupava salões burgueses, hoje povoa o ciberespaço com interações digitais anestesiadas por conteúdos supérfluos.

Para o diretor Eduardo Tolentino, “o que mais poderia pautar a vida contemporânea do que o Absurdo? Décadas passaram, o século virou e o que seria a era de aquário, decantada por uma geração, inicia com as torres gêmeas. Daí em diante as fakes news, Trump e dos nossos tristes tópicos nem é bom falar, para não gerar ondas de ódio online. Se os dramaturgos do pós-guerra questionaram a falta de sentido da vida depois do holocausto e de Hiroshima, o que eles fariam diante de quem afirma que esses eventos não aconteceram. O Teatro do Absurdo, hoje, talvez seja a melhor expressão do teatro realista”.

Veja abaixo mais detalhes da programação completa:

Uma Peça Por Outra, com Cia. Boa vista de Teatro
Dia 19/10, sexta-feira, às 21h.
Recomendação Etária: 14 anos. No Teatro.
Uma Peça Por Outra apresenta esquetes curtas que satirizam a comunicação e as convenções teatrais. A peça apresenta um conjunto de peças curtas de Jean Tardieu, multipremiado dramaturgo francês, falecido em 1995, expoente do Teatro do Absurdo. O tema central é a discussão da linguagem, a constatação da inutilidade das palavras para o entendimento. Cada pequena história – costuradas por música ao vivo – brinca de forma criativa e divertida com as questões mais críticas da comunicação humana. Um elenco afiado, composto por oito atores, apresenta um delicado painel com absurdos da linguagem e seus códigos, criando um clima de vaudeville de grande comunicação com a plateia.
A direção de Brian Penido Ross e Guilherme Sant’Anna recebeu elogios da crítica e o retorno constante de espectadores que gostavam de rever a obra, que ficou em cartaz no Teatro da Aliança Francesa de São Paulo e Teatro Nair Bello, e chega agora ao Teatro do Sesc Santo André. O espetáculo é também um painel de diferentes estilos de representação teatral, em que inteligência, leveza e alegria se combinam.

A Cantora Careca, com Grupo TAPA
Dia 20/10, sábado, às 20h.
Recomendação Etária: 14 anos. No Teatro.
O texto de A Cantora Careca é considerado umas das primeiras obras da corrente batizada como Teatro do Absurdo. Escrita em 1949 pelo francês Eugène Ionesco (1909-1994), a obra é irônica, com diálogos absurdos que levam à total impossibilidade de comunicação entre os personagens. Ionesco apresenta a existência humana ao tratar do distanciamento entre pessoas da mesma família por meio de um humor sarcástico, característico do autor.
Centrada nos atores, A Cantora Careca depende da habilidade dos que estão em cena, onde a palavra principal é o jogo. Como atribuir verdade ao que não tem sentido? Quem são essas personagens no mundo atual? É a partir do paralelismo entre passado e presente que o Grupo TAPA permeia pelos extremos do absurdo. Em uma das cenas mais conhecidas da obra, dois estranhos conversam sobre a vida, onde moram, filhos e por fim descobrem que são casados.

As Criadas, com Grupo TAPA
Dia 21/10, domingo, às 19h.
Recomendação Etária: 14 anos. No Teatro.
Escrita em 1947, “As Criadas” é um clássico da dramaturgia francesa. Reconhecido como escritor de extraordinário talento e admirado por Jean Cocteau e Jean-Paul Sartre, Jean Genet escreveu a maioria dos textos na prisão, o que confere características únicas às obras. Sua inspiração para “As Criadas” foi um caso real ocorrido na França, das irmãs Papin, que mataram patroa e filha no ano de 1933.
A encenação transita pelo drama e pela tragicomédia para tratar de uma incômoda relação entre opressor e oprimido. Basta que a Madame saia de casa para que as criadas iniciem um jogo de submissão e poder em que usam roupas, joias e maquiagens da patroa, imitando sua voz e seus gestos, em requintados e perversos rituais de “faz-de-conta”.
Para o diretor da peça, Eduardo Tolentino, a montagem permeia “entre o psicodrama, improviso teatral e perversos jogos infantis, os quais as criadas sublimam, através de uma cerimônia fúnebre, o processo de opressão comandado por sua patroa/mãe, nesse tipo de relação promíscua presente em nossa cultura. Jogo situado para além da luta de classes e de Freud, cuja arena é um inferno Sartreano, que flerta com o surrealismo de Buñel e o expressionismo de Bergman, sem esquecer o travestismo tão caro a Genet”.

(Carta Campinas com informações de divulgação)

Que Absurdo! Trilogia do Teatro do Absurdo
com Grupo das Dores de Teatro e Grupo TAPA
Dias 19, 20 e 21 de outubro. No Sesc Santo André.­
Ingressos individuais para cada espetáculo nos valores de R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia-entrada) e R$ 6,00 (trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo e seus dependentes com Credencial Plena). Disponíveis online no Portal Sesc SP e nas Bilheterias da Rede Sesc SP.

Sesc Santo André
Rua Tamarutaca, 302 – Vila Guiomar – Santo André
Telefone – (11) 4469-1311
Estacionamento (vagas limitadas): Credencial Plena – R$ 5 (R$ 1,50 por hora adicional) |
Outros – R$ 10 (R$ 2,50 por hora adicional).
Informações sobre outras programações:
sescsp.org.br/santoandre | facebook.com/SESCSantoAndre