Apesar de mirabolante, não pestanejou na ideia. Depois que decidiu criar um espetáculo a partir da obra “O Jardim das Delícias Terrenas”, assinado pelo pintor holandês Hieronymus Bosch (1450-1516), a coreógrafa canadense Marie Chouinard fez questão de encomendar uma versão gigante do original, em exposição desde 1936 no Museu do Prado, em Madrid. Após a instalação no estúdio de Companhia Marie Chouinard, no Canadá, a reprodução se tornou um deleite de inspiração para a coreógrafa e os bailarinos. O resultado coreográfico chegou à cena com o título de Jérôme Bosh: O Jardim das Delícias. Em Campinas, o espetáculo será encenado quinta (11), às 20h, no Teatro Municipal José de Castro Mendes. Os ingressos para a apresentação, que integra a programação de dança contemporânea de outubro do Sesc Campinas, estão à venda entre R$ 12,00 e R$ 40,00.

Em cartaz desde 2016, a partir da parceria entre a Companhia Marie Chouinard e a Fundação Hieronymus Bosch 500, na Holanda, por conta do 500º aniversário da morte do pintor, o espetáculo faz alusão ao trio de painéis da obra de Bosh: central, à esquerda e à direita. Não por acaso, a montagem está dividida coreograficamente em três atos: Jardim das Delícias, O Inferno e O Paraíso. Além da coreografia, Marie Chouinard assina a cenografia, o vídeo, o desenho de luz, os figurinos e os adereços do espetáculo. A interpretação fica a cargo de dez bailarinos: Sébastien Cossette-Masse, Catherine Dagenais-Savard, Valeria Galluccio, Motrya Kozbur, Morgane Le Tiec, Luigi Luna, Scott McCabe, Sacha Ouellette-Deguire, Carol Prieur e Clémentine Schindler. A música original tem a assinatura de Louis Dufort.

“O tríptico (conjunto de três pinturas unidas por uma moldura tríplice) de Bosch me emociona muito. Penso que Bosch toca em assuntos muito sensíveis, tenros, muito próximos do humano e, ao mesmo tempo, há um humor, uma grande generosidade e um amor pela humanidade, o que eu acho realmente extraordinário. A obra é completa. Fala tanto de nós enquanto seres humanos, porque trata justamente da descoberta do paradoxo da vida, no qual a beleza e a violência podem ocorrer ao mesmo tempo”, destaca Marie Chouinard.

Para a coreógrafa, o trabalho artesanal da criação do espetáculo, inspirado na multiplicidade de seres humanos retratados na obra plástica de Bosh, merece destaque nessa composição cênica de 75 minutos. “A criação foi o mais importante para mim, o de recriar uma obra para o público, de criar algo que vai tocá-los espiritualmente e psicologicamente em seus corpos, em suas respirações. O que me interessa é fazer essa oferenda”, avalia. A partir dessa sensibilidade criativa, as coreografias se tornam aos olhos da plateia uma “leitura virtuosa da pintura, em que a história da humanidade parece atravessar os corpos dos bailarinos, pondo em evidência o limite da representação figurativa nesses movimentos coreográficos”.

Assinado pelo artista holandês Hieronymus Bosch (1450-1516), o tríptico O Jardim das Delícias Terrenas, uma de suas obras mais conhecidas, retrata um campo paradisíaco, tal como na cena bíblica, mas sob o viés do prazer. Afinal, o corpo, na obra do pintor, simboliza o paraíso. Justificável, pois a visão de humanidade do artista é pessimista e moralizadora: o ser humano carrega uma falha fundamental desde a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden.

O artista ficou mundialmente reconhecido ao apresentar quadros gigantescos que retratam figuras paradisíacas e demoníacas, em geral entre humanas e animais. Com caráter barroco, as fisionomias dessas figuras são acumuladas em sequências infinitas de orgias, exposição dos corpos e, inclusive, entre fogo, dor e violência. Soma-se a elas, duas realidades: a morte ou o medo dela.

Após um percurso artístico iniciado em 1978, em que se dedicou à criação de solos, a bailarina Marie Chouinard fundou, em 1990, uma companhia de dança com o seu próprio nome. Além de estar à frente do grupo, a coreógrafa assume atualmente as funções de Presidente do Prêmio da Dança de Montreal, Artista Associada de Dança no Centro Nacional das Artes do Canadá e Diretora de Dança da Bienal de Veneza.

Logo no seu primeiro trabalho, Les Trous du Ciel, de 1991, e no seguinte, de 1993, The Rite of Spring, com música de Stravinsky, ficaram revelados preocupações, interesses e experiências que iriam marcar uma linguagem muito pessoal da coreógrafa canadense, pautada pela inteligência íntima do corpo e pela complexidade inesgotável das articulações.

Atualmente, a Companhia Marie Chouinard traz no repertório diversos espetáculos em excursão pelo mundo: além de Jérôme Bosh: O Jardim das Delícias, as montagens A sagração da Primavera, Prélude à l’après-midi d’un faune, Os 24 Préludes de Chopin, Le Cri du monde, Étude no 1, e Soft virtuosity, still humid, on the edge. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Jérôme Bosh: O Jardim das Delícias, da Companhia Marie Chouinard
Quando: Quinta-feira (11), às 20h
Onde: Teatro Municipal José Castro Mendes (Rua Conselheiro Gomide, 62, Vila Industrial, em Campinas/SP)
Quanto: R$ 12,00 [trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes – Credencial Plena], R$ 20,00 [aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor de escola pública com comprovante] e R$ 40,00 [demais interessados].
Como comprar: Ingressos à venda no portal sescsp.org.br/campinas e nas bilheterias do Sesc Campinas. No dia 11/10, a venda será na bilheteria do Teatro Castro Mendes a partir das 16h.
Informações: Central de Atendimento – (19) 3737-1500
Classificação: 18 anos
Duração: 75 minutos