Antipetismo, democracia e os negros

.Por Ricardo Alexandre Corrêa.

“Esse governo falhou com o Negro.  Esta chamada democracia falhou com o Negro.” Malcolm X

Alguns amigos meus estão adoecendo. Conversando com outras pessoas pelas ruas, e redes sociais, tenho notado que muitas delas estão apreensivas, desesperadas, desiludidas. São sintomas ocasionados por conta do descrédito na política que tem mostrado sinais de esgotamento, e nem sequer oportunizou espaço para as camadas mais desfavorecidas da sociedade. Esta situação tem condicionado a população na perigosa escolha do candidato “inominável” que pode impossibilitar qualquer oportunidade de avanço na luta por direitos, além de expô-las numa corrente de violência desenfreada em nome de uma suposta ordem. Um condicionamento pautado no antipetismo.

Nós, negros e periféricos, seremos os maiores prejudicados caso ocorra uma derrota do Partido dos Trabalhadores nas eleições presidenciais. Alguém pode até dizer que quem perderá será a democracia, mas lembremos que, no interior desse sistema, são os oprimidos que sofrem e lutam para serem reconhecidos como cidadãos; os negros não são cidadãos neste país, como disse o intelectual Milton Santos.

Temos visto a elite branca conduzindo a vida da população brasileira; uma elite mesquinha, egoísta e violenta que aproveitando do processo democrático produz a sensação de legitimidade, e utiliza os governos em benefício próprio com desmedida avidez. O filósofo do direito Silvio Almeida esclarece “A democracia não é um valor universal, como muita gente acredita, pois é deixada de lado nos momentos de disputa intensa pelo poder institucional.”

O nosso país congrega vários grupos étnicos e sociais que não encontram representação dentro dos governos, e isso reflete diretamente na ausência de políticas públicas que lhes atendam. Embora todas essas constatações, as eleições continuam sendo a renovação de esperanças do povo negro e periférico, e, enquanto esperamos a concretização dos nossos anseios, não descansamos.

A realidade é tão cruel que não podemos depender da incerteza, por isso a construção de estratégias para a sobrevivência é algo permanente.  Mas chegamos num momento crítico, a esperança não ocupa mais o papel central. Não podemos eleger um candidato que homenageou torturador, que critica os direitos humanos, ofendeu indígenas e quilombolas, produz discurso homofóbico, machista e racista, além de ter votado favorável a retirada de direitos da população. Os seus apoiadores têm praticado violência contra quem não comunga com o candidato “inominável”; odeiam pretos, homossexuais, pessoas com orientação ideológica à esquerda; criticam as ações afirmativas e questões de gênero, e são defensores da meritocracia.

Se ignorarmos essas questões, estaremos demonstrando o desrespeito pela dignidade, liberdade e o direito à sobrevivência das pessoas, inclusive a nossa. Não podemos ser cúmplices da institucionalização do fascismo, e ainda colocar em risco as conquistas do movimento negro. E vale ressaltar que a liberalização do porte de armas, defendida pelo candidato “inominável”, atingirá fatalmente o nosso povo; seremos as principais vítimas, avolumando mais as estatísticas referentes aos assassinatos da população negra.

Apelo a vocês, homens negros e mulheres negras, para não desistirem. Lutemos para preservarmos nossas conquistas. Lutemos para ter a liberdade de aperfeiçoamento da democracia. Lutemos para a derrubada do racismo institucional. Lutemos contra o fascismo. Vamos explicar essas questões para a população, e caso tenhamos críticas ao Partido dos Trabalhadores as urnas não precisarão saber no dia 28 de outubro.

Em tempo: Mestre Moá do Katendê, descanse em paz!