.Por Luís Fernando Praga.

Não são zumbis, espectros, demônios; não é um meteoro o nosso algoz; num fim dos tempos dos piores sonhos, quem já nos aniquila somos nós…

A cada dia um golpe açoita o povo e uma injustiça empesteia o ar. Um medo antigo, um preconceito novo e um deus amigo que manda matar. Há sempre uma certeza absoluta e uma dura mão a condenar; e a fina flor da sociedade bruta impõe as regras sujas do lugar.

Os senhores do mundo pagarão pra que o mundo só gire pra quem pague e as grandes mídias lhes garantirão que só seu interesse se propague. Terão muitos juízes, já comprados, para enfiarem pobres nos presídios, para que os focos sejam desviados, para justificar os genocídios e controlar um povo cerceado, servil e violado dia a dia, colunas, alicerce e o telhado do grande império da hipocrisia.

“Honestos”, “coerentes” e “cristãos” ostentam fé e força mundo afora, oram demais e lavam suas mãos e amam muito, da boca pra fora.

E uma hipnose vem ao grito do pastor: “É pela paz, é só mais uma guerra!”

Mas será mais vingança, engano e dor e o sangue nosso é quem irriga a Terra; e os frutos do amanhã nascem passados, privados de esperança e amor à vida, tomando mais remédios que cuidados, comendo mais venenos que comida.

Em vez de educação, adestramento e só a obediência é permitida; alguma posse em vez de um sentimento… em vez de se viver se morre em vida.

Com “fake news” e escolas sem partidos, a história já lhes nasce deturpada. Doutores dos valores corrompidos, apontam tudo e não enxergam nada: “O mal do mundo está na liberdade, no amor, na rebeldia e na cultura, na poesia da dignidade e nos beijos do afeto e da ternura!”

De olhos abertos, cegos como em sono, entregam-se aos reis e aos fariseus, zelam pelos desejos de seus donos com tal furor, como se fossem seus!

Moldados pro conflito e pra disputa, precisam adorar algo invisível, de uma mulher pra se chamar de puta, de receber o mínimo possível: um pobre, um imigrante pra oprimir, um preto, um gay, alguém para odiar; a dor alheia pra fazê-los rir e um irmão mais fraco pra pisar.

E assim sepultaremos nosso mundo sem perceber que a gênese do mal é a raiz de um câncer mais profundo, fruto da adoração ao capital.

Alguns, porém, não são contamináveis e sentem muita sede de viver, nutrem amor e fé inabaláveis no que existe de humano em cada ser. Esses, enfim, serão os responsáveis por suportar, lutar e florescer e por fazerem filhos sociáveis e o impossível pra sobreviver!

O tempo vem, amaina a virulência e traz clareza a todos os lugares; e com razão, ciência e consciência, aos poucos respiramos outros ares…

Se for preciso, sigam camuflados, pelas cidades, becos e vielas, entre fascistas e alienados, xinguem, condenem, batam nas panelas, espalhem o boato e a picuinha e o que for, se for pra se salvar! Mas vejam bem: será de mentirinha! Não deixem seu amor deixar de amar!

Enquanto ama, pra se disfarçar, culpe, pragueje, simule demência, mas nunca, nunca deixe de plantar a semente da flor da resistência!

Se a esperança é mãe e não desiste, se toda a história cabe em uma só linha, o mundo justo é longe, mas existe, além do apocalipse coxinha.