Um estudo de imersão com os eleitores do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) mostra que os eleitores se sentem seguros diante da radicalização social e do aumento de um processo de violência social. Eles se sentem tranquilos em dar poder ao político militarista.

Esse perfil dos eleitores pode ser visto no estudo da socióloga Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo, que entrevistou 25 simpatizantes de Jair Bolsonaro. As entrevistas em profundidade demoraram cerca de 4 horas cada e alguns trecho foram publicados pelo site Justificando. Os eleitores escolhidos foram de perfis diferentes: eram jovens e pessoas mais velhas, ricos e pobres.

De certa forma, os eleitores parecem ter razão quando desacreditam que um processo violento vá atingi-los; afinal, estão do lado de Bolsonaro, ou seja, daquele que vai promover a violência.

E também, por outro lado, quando pensam na figura patética de Bolsonaro. O candidato se mostra incapaz, tolo, rude, disciplinador, bonachão e com um discurso circense, às vezes bobo. Na simplicidade, basta mandar e, se não fizer, punir que funciona. Os eleitores parecem saber que a violência discursiva de Bolsonaro é um marketing político. No fundo, pensam, ‘ele é um cara que não faria nada’.  Mas qual tirano na história sujou suas próprias mãos?

A tolice de Bolsonaro parece tranquilizá-los. E esses eleitores pensam que sempre estarão protegidos de um processo violento que venha a ser disseminado socialmente. Mas eles se esquecem que essa violência social não vai ser praticada diretamente por Bolsonaro, mas de grupos que estão ansiosos para liberar a violência.

Bolsonaro vai funcionar apenas como um cobertor; vai apenas acobertar e justificar a violência, assim como ele faz com a questão dos assassinatos na ditadura de 64 ou por grupos de extermínio.

Uma eleitora de Bolsonaro diz na pesquisa: “Este país é horrível. Você tem uma filha, sai à noite e ela pode ser estuprada. Roubo, assalto, por todo lado”.

Outra eleitora diz: “A gente sai pra rua com medo e eles não. Eles têm mais direitos que a gente e, depois, vêm como esse mimimi, tentando dar pena na televisão. Pena de bandido? Pena da gente, que não pode viver em paz!”

Outro eleitor disse: “Ele não tem discurso de ódio. Tá só expondo a opinião dele, falando a verdade. E quando é um pouco radical, se retrata. Não tem discurso de ódio porque quer o melhor para todos.”

O que esse raciocínio parece lógico: se vamos continuar mantendo os privilégios de pessoas como Bolsonaro, militares e juízes, se vamos continuar mantendo essa violenta desigualdade, então precisamos de uma violenta ação repressiva. Precisamos de um Estado de Guerra sem perdão para bandidos. Parece correto, mas não leva em conta que os próprios eleitores de Bolsonaro também não poderão mais ficar de mimimi.

Se acontecer alguma coisa com os filhos ou com parentes dos eleitores, já era. Sem mimimi. Vai ter de rezar e pedir de volta um estado de respeito para todos. Vale lembrar que a classe média só começou a perceber a merda que fez em 64 quando pessoas próximas estavam sendo mortas nos porões da ditadura e a violência não atingia só o inimigo, bastava alguém não ir com a sua cara. E aí, não tem mimimi.

Um outro eleitor diz: “Bolsonaro não é corrupto e é diferente dos partidos que estão aí. PT e PSDB são a mesma coisa. No Brasil só existe o poder e o dinheiro. Bolsonaro é diferente porque não é corrupto”.

Outro disse: “A imprensa quer acabar com ele porque sabem que é muito forte. Ninguém segura. Vão fazer de tudo para acabar com ele, mas a gente sabe que ele é honesto.”

Outro disse: “O que tem de gente preguiçosa, que só quer mamar das tetas do governo. E a gente sustenta eles, né? Isso com Bolsonaro ia acabar. Quer comer? Trabalhe. Mas, não. É mais fácil dar uma de coitadinho.”

Isso mostra como o voto de Bolsonaro é muito semelhante aos votos de João Dória teve em São Paulo há dois anos. Os eleitores se contentam com a ideia de que Bolsonaro é menos político do que qualquer político tradicional. Bolsonaro nunca trabalhou na vida. Serviu o Exército e virou político. Colocou todos os filhos para serem políticos. Vive das imoralidades e privilégios do Estado como o auxílio-moradia mesmo tendo apartamento. Isso é uma corrupção que não pode ser criminalizada, mas é uma corrupção moral que o eleitor prefere não ver. Para o eleitor, está na lei e ele tem direito. Bolsonaro virou uma tábua de salvação para essas pessoas desesperançosas com a política.

Um outro entrevistado aponta a questão dos gays: “Sou gay, mas não gosto da passeata LGBT, por exemplo, acho muito exibida, muito provocativa, qual é a necessidade disso? Ah, e eu tampouco sou vítima de nada. Essa coisa de os gays somos coitadinhos, vítimas, não sei o que. Não dá gente, vamos trabalhar e menos mimimi”.

Situação como a desse eleitor também foi comum durante os anos 30 na Alemanha e mostra como os apoiadores de Bolsonaro não sairão ilesos.  Ernst Röhm foi um dos chefes da S.A, a polícia violenta do nazismo. Röhm era homossexual e foi assessor de Hitler para questões militares durante algum tempo. Na madrugada de 30 de junho de 1934, foi preso pessoalmente por Hitler num hotel nos arredores de Munique e, resistindo à prisão, foi levado à força ao cárcere de Stadelhein. Em 2 de julho de 1934, em Stadelhein, seguindo ordens diretas de Hitler, Theodor Eicke (construtor do Campo de Concentração de Dachau) e um oficial da SS o visitaram. Röhm não teve muito tempo para mimimi. O executaram à queima-roupa.

Apesar de os eleitores de Bolsonaro acharem que estarão seguros com um processo de violência social, a situação é bem mais complicada.

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