Por que a sociedade brasileira aceita a insanidade total da guerra às drogas? Uma guerra que não soluciona, mata inocentes e só piora a situação. A intervenção militar no Rio de Janeiro é uma das decisões políticas mais insensatas já vistas na história deste país.  Só este ano, 8 crianças e adolescentes foram assassinados pelo conflito bestial contra às drogas. O resultado da intervenção poderá ser o aumento do poder das milícias fascistas do Rio de Janeiro.

Quem conhece o assunto diz que é imprescindível rever a política de drogas, pois consideram que o modelo atual faliu. “Essa chamada guerra às drogas é um equívoco, produz muitos mais danos e prejuízos do que um ganho para a sociedade”, destaca Julita Lemgruber, que tem desenvolvido estudo para quantificar os impactos dessa política em termos financeiros em outras áreas, como saúde e educação, já que a lógica da guerra às drogas produz mortos, impede crianças e adolescentes de frequentar escolas, além de trazer impactos psicossociais.

Para a socióloga, outra face evidente dessa política é a explosão da violência e o crescimento do poder de grupos criminosos. “O que acontece é que nós estamos entupindo as nossas prisões com pessoas que praticaram crime sem violência – é o caso da maioria desses meninos que são os varejistas do tráfico – e que, sem dúvida nenhuma, vão para unidades prisionais e ali vão ter contato com traficantes mais experientes, com lideranças locais e é evidente que esse vai ser o cotidiano desses jovens. Então, é natural que o resultado seja muito ruim.”

A legalização da produção, da comercialização e do consumo de todas as drogas é defendida pela socióloga como caminho para uma mudança estrutural do quadro. “O que a gente tem que lembrar é que liberadas as drogas estão, o que nós queremos é regular”, diz Julita Lemgruber. É o que países como Uruguai, Canadá e Espanha, de diferentes formas, e mesmo unidades da Federação dos Estados Unidos, onde surgiu a política de guerra às drogas adotada no Brasil, ainda nos anos 1970, têm feito.

Mudar a política de drogas para outro sentido é urgente, porque essa abordagem punitiva e repressiva falhou. Além das drogas ilegais circularem de forma praticamente livre, apesar de proibidas – o que é o paradoxo do proibicionismo – nós temos efeitos mais danosos do que o abuso no uso de drogas. A guerra às drogas produz corrupção, violência, superencarceramento, fortalecimento das organizações criminosas”, sintetiza Cristiano Maronna.

Quem passa pelo sistema também carrega suas marcas. Hoje vendedora de lanches, Gorete Lopes ainda tem a vida permeada pela prisão, apesar de já comemorar quase dois anos fora das grades. “No dia que eu saí, que eu recebi meu alvará, eu saí de joelhos de dentro da cadeia, porque eu fiz uma promessa, porque o sofrimento é grande. Depois, quando saí, mudei de bairro. Você sabe muito bem que, quando a gente tem essa vida, a polícia nunca esquece de você. Nunca é um ex-traficante. E essa vida eu não quero mais nunca.” (Agência Brasil/Carta Campinas)