.Por Marcelo Branco.

Neste dia de descomemoração de 50 anos de golpe militar, gostaria de homenagear postumamente o meu pai, Alcides João Branco. O pai, um militar de carreira, participou ativamente da resistência a tentativa de golpe militar de 1961 (ano em que nasci) e que entrou na história como a “campanha da legalidade”.

Perseguido dentro dos quartéis de 1961 até o golpe de 1964. Em abril de 1964, numa emboscada em que dirigia um caminhão do exército para serviços de rotina, foi detido na rua Caldas Júnior, em Porto Alegre, por militares golpistas. Nossa casa, numa operação militar espetacular, foi invadida pelos gorilas golpistas. Minha mãe e minhas irmãs mais velhas fizeram a defesa da casa, mas não conseguiram impedir que os milicos levassem vários livros e trabalhos escolares como prova do “comunismo” do meu pai.

Enquadrado no AI-1 (ato institucional número um), com sete filh@s, teve seus direitos civis e militares cassados, foi preso em Santa Cruz e ficou proibido de ter um emprego regular. Um trabalhador incansável e um pai super dedicado passou a sustentar a família de nove pessoas através de biscates e serviços prestados de marcenaria, construção civil, pintura e reforma de residências.

Finalmente, nos anos 70, num julgamento de exceção pelo tribunal militar em que ele dispensou o advogado e fez sua própria defesa, foi absolvido por falta de provas de que era comunista ou pertencia ao “grupo dos onze” do governador Leonel Brizola.

Continuou sua luta contra a ditadura de forma mais reservada, tendo como prioridade a formação dos seus sete filhos. No início dos anos 80, lidera com outros militares a campanha pela anistia ampla geral e irrestrita, tendo presidido a AMPLA (Associação dos Militares Pela Anistia Ampla). Eu, já no início de minha militância política, me emocionei (e ainda me emociono da cena) de o ver o meu pai, já maduro, em cima de um palanque improvisado na “esquina democrática” dando discursos pela anistia num mesmo ato que eu jovem participava como militante.

A luta da anistia do meu pai só foi resgatada após sua morte e pelo Presidente Lula.

Convivi toda minha infância, adolescência e juventude numa ditadura militar como o “filho do subversivo”, o que muito me orgulhava, e numa família marcada pelo golpe. Aprendi com ele os valores, a importância de lutarmos pelos nossos direitos, sem perder a ternura. Amei muito meu pai e a vida que ele nos proporcionou, mesmo diante de tantas dificuldades. Acredito que minhas irmãs e irmãos podem contar mais desta história de nossas vidas na ditadura militar.

Neste aniversário de 50 anos do golpe militar gostaria de prestar esta singela homenagem ao pai, e repudiar qualquer tentativa de golpe, seja militar ou civil, que atente contra a democracia brasileira.

Alcides João Branco: presente! (Do Facebook de Marcelo Branco)

Veja mais:

O filme “Os Militares da Democracia, os militares que disseram não”, com direção de Sílvio Tendler,  retrata a história dos militares que resistiram e se recusaram a participar do golpe militar de 1964 e o combateram desde o primeiro dia.

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