O pesquisador Joseph Youssif Saab Junior, doutor em Engenharia Mecânica (Energia e Fluidos) pela Escola Politécnica (Poli) da USP, desenvolveu um método para reduzir o barulho proveniente das pás usadas nas usinas eólicas, além de projetar novas pás silenciosas que aguardam o registro de patente para sairem do papel.

O aumento da velocidade de giro das pás e o crescimento do diâmetro do equipamento, que é algo recente, trouxeram como efeito colateral o aumento do ruído. E não é pouco. As pás, da ordem de 100 metros de diâmetro, são responsáveis por ocasionar um barulho semelhante ao de um avião. Agora imagina esse barulho 24 horas por dia, sete dias por semana. O pesquisador lembra que no Brasil, os parques eólicos estão localizados na costa leste, onde se concentram 85% da população.

O trabalho de pesquisa foi desenvolvido ao longo de quatro anos. No início, elaborou-se uma ferramenta técnica responsável por fazer a previsão do ruído da turbina. Após sua finalização, a questão era como fazer este instrumento chegar aos interessados. A resposta obtida foi a incorporação a um código open source (aberto) — um software livre da Universidade Técnica de Berlim (TU Berlin). Ao entrar em contato com os alemães, Saad Junior descobriu que havia programas ligados à parte de estruturas e desempenhos, mas nada correspondente à acústica. Firmou-se então uma a parceria com a Poli, responsável por complementar o estudo europeu e disponibilizar a pesquisa nacional ao mundo. O QBlade — como é denominado o software — já conta com mais de 17 mil downloads.

Com toda a modelagem matemática desenvolvida no software, foram criadas três turbinas eólicas bem mais silenciosas. Isso, segundo as simulações em software, porque os projetos continuam no papel, em forma de cálculos e desenhos, aguardando a solicitação de patenteamento feito pela Agência USP de Inovação.

Segundo o pesquisador, o diferencial do projeto está na grande abertura e transparência do que foi produzido.. “Normalmente, os fabricantes não disponibilizam essa geometria das turbinas eólicas, logo, muitos detalhes importantes para o estudo não são revelados, causando prejuízos à área da pesquisa. Acreditamos que durante nossa tese fomos responsáveis por deixar uma série de contribuições importantes ao Brasil e aos estudantes”, afirma.

O pesquisador ressalta outro ponto importante para a ciência brasileira e que parece não ter solução. “Somos exportadores de commodities como trigo, soja, minério de ferro, carne e produtos agriculturais em geral. Por outro lado, importamos manufaturados em grande escala. O valor da exportação de uma tonelada de minério de ferro gira em torno de 75 dólares, enquanto que, para exportar uma tonelada de tecnologia – por exemplo, um avião feito pela Embraer – o valor estimado é de US$ 1 milhão”, explica Saad Junior.

Segundo o pesquisador, o Brasil precisa parar de ser apenas um fabricante e começar a produzir seus próprios equipamentos, como, por exemplo, suas próprias turbinas eólicas para exportação. “Em minha opinião, nossa contribuição foi efetiva também neste aspecto, dando uma ferramenta a mais para o projetista elaborar propostas aqui mesmo no Brasil”, diz.

A pesquisa teve orientação do professor Marcos de Mattos Pimenta, e foi vencedora do Prêmio Tese Destaque USP 2017, na grande área das Engenharias. (Carta Campinas com informações de divulgação)