Em São Paulo – Grande representante do modernismo brasileiro, José Pancetti gostava de pintar ao ar livre. Suas telas costumavam ser pequenas para que ele pudesse carregá-las de um lugar para o outro. Em suas viagens pelo Brasil, pintou as praias de Salvador, as montanhas de Campos do Jordão, as ruas íngremes de São João Del Rei, entre tantas outras paisagens tipicamente brasileiras. O artista também retratou o povo de seu país e pintou muitos autorretratos. Sua vasta produção pode ser conferida na exposição “Pancetti – Navegar é Preciso”, que a Galeria Almeida e Dale recebe a partir do dia 17 de outubro.

Com curadoria de Denise Mattar, a mostra reúne cerca de 45 pinturas, agrupadas por temas, além de fotos, manuscritos e cartas. A última grande exposição dedicada ao artista foi realizada em 2002, no Museu de Arte da Bahia, com itinerância em outras capitais. Agora, quinze anos depois, o público poderá rever grande parte da produção do pintor como as famosas Marinhas, uma das facetas mais conhecidas de sua obra.

Pancetti trabalhou como marinheiro desde os 16 anos, tendo permanecido na profissão até os 34 anos. Sua proximidade com o mar é refletida em 25 obras da mostra, que reúne desde os primeiros quadros do artista, que retratam barcos e construções, até obras do fim de sua vida, registros que se aproximam da abstração, reduzidos à areia, à luz e ao mar. Cabo Frio, Itanhaém e Arraial do Cabo são alguns dos destinos representados por Pancetti, atento às sutilezas de cada local.

Para o crítico de arte Frederico Moraes, a obra do modernista é marcada por uma constante sobriedade aliada ao lirismo. “A pintura de Pancetti é como um convés de navio, curtida de sol e sal. Não enferruja. Honesta, limpa, econômica, direta, austera, quase seca, mesmo quando a cor se expande e o gesto abriga a emoção. Não há nele nem o supérfluo, nem o desperdício”.

Essa aridez aparece na série de paisagens urbanas, produzidas no começo da carreira do artista, na década de 1940. As obras retratam lugares fechados, como pátios ruas e becos, sempre com cores escuras. Predomina um sentimento de melancolia e sufocamento associado à vida nas grandes cidades. Nessas paisagens e também em algumas naturezas-mortas, é possível identificar a influência de mestres como Paul Cézanne (1839-1906) e Henri Matisse (1869-1954).

Sua paleta adquiriu tons mais coloridos quando passou a viver em Salvador, em 1950, ano no qual participou da Bienal de Veneza. Para a curadora Denise Mattar, a mudança de cidade foi um ponto de ruptura em sua carreira: “A ida de Pancetti para a Bahia modificou sua personalidade e sua obra, a alegria tornou o artista mais doce, e ele explodiu em cores quentes e fortes. Sem estar preocupado com uma brasilidade teórica, Pancetti retratou como ninguém a nossa gente, a nossa luz e o nosso mar”.

As cores quentes aparecem ainda nos vários retratos que o modernista produziu em sua vida. Crianças, lavadeiras e prostitutas foram alguns dos grupos que ele pintou, homenageando a classe popular da qual se sentia parte. Para o crítico de arte Marc Berkowitz, esse encanto pela simplicidade também aparece na própria concepção do trabalho: “Pancetti não ligava à moda, ou aos “ismos”, ele fazia sua pintura, como ele a entendia, com aquela integridade tão típica dele”.

A exposição também apresenta seus famosos autorretratos, aos quais o artista atribuía múltiplas personalidades: marinheiro, camponês, almirante, pescador. Nessas pinturas, Pancetti sempre aparece de perfil, ora em tons dramáticos, ora engraçados. “O artista se arriscava ardorosamente, pintando suas fantasias e investindo-se de diferentes personalidades, dando a cada uma dessa personas diferentes densidades psicológicas”, pontua a curadora. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
“Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar

Fernando Pessoa

Pancetti – Navegar é Preciso
Local: Galeria Almeida e Dale
Abertura: 17 de outubro, a partir das 17h30 às 22h
Período expositivo: de 18 de outubro a 9 de dezembro
Lançamento do catálogo: 11 de novembro, das 10h às 14h
Endereço: Rua Caconde, 152, São Paulo, SP
Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 18h; sábados, das 10h às 13h
Telefone: 11 3882-7120