.Pro Luís Fernando Praga.

Apesar da indignação das pessoas de família que condenam a homossexualidade, eu não condeno.

Apesar da fúria dos moralistas que condenam exposições de arte que retratam a diversidade sexual, eu não condeno.

Apesar da batalha dos filhos de deus, salvos do inferno e merecedores da vida eterna, que condenam qualquer discreto avanço no rumo da libertação feminina, eu não condeno.

Apesar de todos os esforços dessa “gente de bem” no sentido de nos empurrar uma sociedade “higiênica”, livre de tudo aquilo que seus senhores dizem ser “cânceres”, “abominações” e “anomalias”, eu amo todo tipo de gente!

Na verdade, eu já não tenho nenhuma paciência com essa gente que coloca a repressão à sexualidade de outra pessoa como uma bandeira da moral e um ideal de vida.

Eu sinto um grande desconforto por notar que estou cercado de gente consumida por um ódio criado a partir daquilo que elas supõem que outras pessoas façam entre quatro paredes.

Eu estou enojado com tanta hipocrisia e com tantos casos de padres e pastores estupradores de crianças.

Eu quero é vomitar quando vejo essa gente a espalhar salmos bíblicos seguidos de mensagens de ódio, misóginas, homofóbicas, racistas e recheadas de outros infelizes e ignorantes preconceitos.

Não dá mais, seu bando de fanáticos manipulados! É muita preguiça de pensar, muita falta de cuidar da própria vida! De tanto medo do seu deusinho e do seu inferninho, vocês estão sendo o inferno de quem veio ao mundo pra viver!

É bom que seus cérebros preguiçosos e seus corações cruéis levem em consideração que a diversidade sexual sempre existiu e é, sim, algo NATURAL, tão natural que aparece, sistemática e repetidamente, nas mais diversas espécies animais.

São inúmeros os relatos de comportamento homossexual entre animais selvagens, desde girafas, elefantes, leões e outros felinos, bonobos (a espécie mais evoluída de chimpanzé) e outros primatas não humanos, passando ainda pelos golfinhos, libélulas, albatrozes, araras e outras aves, que, não raro, formam casais homossexuais estáveis e duradouros pela vida toda, podendo, muitas vezes, adotar e criar filhotes órfãos com esmero exemplar.

Esses bichos não dependeram de nenhuma apologia gay para formarem sua orientação sexual. Tais espécies já habitavam o Planeta e praticavam sua diversidade sexual há, no mínimo, 10 milhões de anos antes do surgimento da espécie humana, e tudo aos olhos tolerantes daquele Deus que havia antes.

Como podemos ver, a homossexualidade não extinguiu nenhuma espécie: a diversidade sobrevive, a ditadura gay não se instaurou sobre a Terra e os heterossexuais continuaram podendo ser heterossexuais.

Então, depois de 10 milhões de anos, surgimos nós, os sabidões, o homo sapiens. Por algum tempo, como é o NATURAL, nós também exercemos nossa diversidade, sem temer de que a vida sexual de uns pudesse prejudicar de alguma forma ou mudar a orientação de outros. E Deus lá, de boas.

Após algumas dezenas de milhares de anos, não se pode precisar exatamente quando, surgiu o conceito humano de deus, a palavra “deus”; e palavra, sabe como é, cada um interpreta de um jeito, conforme suas influências e de acordo com a vastidão de sua ignorância (que o digam as incompreendidas palavras “comunismo”, “anarquismo” e “amor”, hoje em dia).

Depois de alguns séculos, alguns sabidões perceberam que a palavra deus era quase que onipotente. Ela poderia soar como uma terrível ameaça e espalhar o medo ou poderia representar uma esperança. De uma ou de outra forma, ela poderia gerar o poder sobre as massas, através de manipulação, poderia conclamar exércitos e por gente pra se matar em sangrentas e intermináveis guerras, poderia trazer lucros financeiros e poderia fazer uso da força bruta para dominar.

Mas os sabidões são muitos, e alguns, notando o prosperar de seus desafetos graças ao “bom” uso da palavra deus, quiseram prosperar também.

Aí foi legal! Surgiram deuses pra todo gosto e alguns até pretendiam auxiliar os humanos em suas questões místicas e existenciais.

Porém, os que sempre deram mais lucro e poder foram aqueles que implementaram os pecados e as culpas à sua doutrina e exigiram o bom cumprimento de suas leis, através de organizações hierárquicas chamadas igrejas, sempre controladas por algum sabidão.

Foi assim que, uns 5 dias após o surgimento deste modelo de doutrinação, surgiram os primeiros fiscais de cu alheio de que se tem notícia na história.

Apesar deles e dos deuses, a homossexualidade e a diversidade sexual sobrevivem, firmes e fortes na luta.

Cada sociedade e cada momento histórico apresentam maior ou menor tolerância a essa característica da Natureza sobre a qual a intolerância não tem qualquer influência.

Nas sociedades mais ignorantes, a prepotência humana, que nada mais é que uma das vestes da ignorância, faz crer que nossa jovem espécie tenha sido criada aos moldes de um deus perfeito que odeia gays e prega o amor incondicional, só que tem que ser hétero. É nesse tipo de sociedade que os fiscais de cu se multiplicam que e encontram o amparo religioso necessário para que a intolerância se torne a lei.

Eu estou muito desiludido por viver numa sociedade desse tipo e por ter amigos do tipo fiscal de cu, mas creio na evolução e não vou deixar de acreditar que uma ignorância tão cruel e incomensuravelmente óbvia possa ser esclarecida.

Hoje as pessoas espalham seu discurso de ódio pelas redes sociais e eu escrevo e divulgo o que meu livre arbítrio me permite, graças, principalmente, ao trabalho de Alan Turing, o homossexual que é um dos pais da computação e que sofreu com o preconceito a ponto de se matar, graças a deus e a seus intolerantes. Graças à Natureza, Turing teve tempo de colocar em prática seus estudos e alavancar a humanidade a um degrau mais evoluído.

Não nos faltam exemplos de não heterossexuais ilustres, o que não se pode dizer dos intolerantes, dos guiados pelo preconceito e dos que aceitam o ódio sem raciocinar ou questionar. Não me recordo sequer de um único fiscal de cu que tenha entrado para a história por ter sido um bom fiscal de cu, e você não será o primeiro.

Podem me chamar de defensor de gay, sou sim, com o maior orgulho! Há muitos anos que o sou, assim como sou defensor de todos os oprimidos pelo preconceito e pela injustiça.

Se quer saber se sou um gay porque defendo os gays, lembre-se, vou dizer mais uma vez: a minha sexualidade não é da sua conta, ela só diz respeito a mim e a quem eu quiser que saiba a respeito dela. Morra de curiosidade, santa!

Tenho duas filhas e considero essencial, para a segurança das mesmas nesta sociedade perigosamente machista, que eu as oriente sobre liberdade e sexualidade, mas também para que se formem seres humanos respeitosos, respeitáveis e desapegadas da ignorância.

A lei é simples: Respeite todo corpo que não for o seu como se fosse o seu, só faça sexo sob consentimento e respeite todas as decisões alheias que não lhe prejudiquem diretamente.

Não se colocam limites humanos onde a Natureza não instituiu limites. Não é saudável cuidar, reprimir ou sequer se preocupar com a vida sexual dos outros; creia, meu amigo fiscal de cu, você tem coisa melhor e mais útil pra fazer.

Então, sociedade brasileira que muito me envergonha, já passou da hora de lutarmos juntos por objetivos comuns e mais nobres. Temos um abismo social e enormes injustiças históricas a serem reparadas e não podemos desviar o foco para que pastores continuem multiplicando seu patrimônio milionário e as bancadas da bíblia e da bala continuem aprontando seus descalabros políticos contra um país inteiro.

Deixemos nosso atraso no passado e deixemos de ser motivo de escárnio internacional. Faça o que quiser de sua sexualidade, mas respeite o próximo, abra o olho e evolua!