O economista irlandês Marc Morgan Milá disse em entrevista à Folha que a desigualdade de renda no Brasil é uma escolha política.

[Em jornal francês, Milá também afirmou que o sistema tributário brasileiro é ‘perfeito’ para os ricos]

“A história recente indica que houve uma escolha política pela desigualdade e dois fatores ilustram isso: a ausência de uma reforma agrária e um sistema que tributa mais os pobres. Para nós, estrangeiros, impressiona que alíquotas de impostos sobre herança sejam de 2% a 4%. Em outros países chega a 30%. A tributação de fortunas fica em torno de 5%. Enquanto isso, os mais pobres pagam ao menos 30% de sua renda via impostos indiretos sobre luz e alimentação”, afirmou.

Morgan, segundo a Folha, está no Brasil para participar de estudos com economistas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). O grupo pretende lançar, em 2017, uma série da desigualdade brasileira com início em 1926.

Ao jornal, o economista informou que, hoje, o “grupo dos 1% mais ricos tem cerca de 1,4 milhão de pessoas, com renda anual a partir de R$ 287 mil. O 0,1% mais rico reúne 140 mil pessoas com renda mínima de R$ 1,4 milhão. Enquanto isso, a renda média anual de toda a população é de R$ 35 mil. É uma discrepância muito grande. Esse é o ponto importante no caso brasileiro: a concentração do capital é muito alta.”

Para ele, a carga tributária, alta e desigual no Brasil, acaba reduzindo os benefícios concedidos aos mais pobres por meio de programas de redistribuição de renda. Mais do que isso: é possível afirmar que é a própria população mais vulnerável a responsável por financiar boa parte das políticas sociais com seus impostos.

“As transferências chegam aos mais pobres, mas o sistema tributário injusto faz com que o ganho líquido se torne menor. Como esses programas representam cerca de 1,5% da renda nacional, o nível de redistribuição que se pode obter com eles é limitado. Fora que as transferências são financiadas por impostos que incidem sobre o consumo. E como o consumo pesa mais no orçamento dos mais pobres, é possível dizer que os mais pobres estão pagando por parte das transferência que recebem.”
Leia a entrevista completa aqui.  (do GGN)