.Por Luís Fernando Praga.

A esperança, cê sabe? Eu não sei se ela existe, e se ela existe, se cabe neste meu cafofo triste, ou neste embornal surrado que eu carrego do lado, onde até pintei meu nome. Nele cabe um céu bordado, cabe um bocado de fome, as lágrimas de três vidas, a minha miséria inteira, um desenho de caveira e amarguras repetidas, que eu divido com os meus…

Cabe o vazio da pança, os meus suspiros de adeus; cabe um monte de lembrança do meu tempo de explorado, que nunca virou passado; cabe um pedaço de osso que um dia moço me deu, sobrado de algum almoço, que não foi almoço meu.

Cabe a dor do coração, um mar de desilusão, a culpa dos meus pecados, que é um peso danado que eu nasci pra carregar, mas não sei pra que lugar. Cabe minha a cor de pobre, a minha falta de estudo e alguma angústia que sobre da minha falta de tudo.

Cabe a fraqueza nas pernas, uns espinhos pros meus pés, as injustiças eternas, os olhares de viés e um punhado de sal grosso contra a lei e seus decretos; e se nada mais der certo, uma corda pro pescoço, que guardo, bem lá no fundo, depois do fundo do poço.

Neste embornal cabe um mundo de trastes e sofrimentos para todos os momentos, até que o mundo se acabe, mas a esperança não cabe.

Desisti da esperança, já nem quero mais buscar, sei que nunca vou achar, procuro desde criança, um dia essa história cansa e a canseira mais eu já formamos um casal, pra comer do mesmo sal, pra sofrer do mesmo mal…

Mas cê sabe como é, não é nem questão de fé, disso eu também desisti, porém, quem sabe, algum dia, sem precisar insistir, a esperança me via, tropeçando por aí, com minha cara amarela, com minha falta de ar, quem sabe ela sente pena da minha sorte pequena e ela me pega pra ela e escolhe eu pra casar?