.Por Luís Fernando Praga.

Agradeço, vida, pela liberdade com que permeaste a essência humana, e por poder visualizar e exercitar, apesar de minhas tantas limitações e ignorâncias, a fração que me cabe nesta liberdade que é de todos.

Obrigado, minha querida vida, por me presenteares com a percepção de que és o nosso bem mais valioso, e que, de todas as coisas que eu creio possuir, tu és a mais minha.

Obrigado por todas as pequenas preciosidades com que ornaste nossos caminhos e grato pela capacidade de percebê-las e me encantar com elas.

Obrigado, vida, por me permitires refletir sobre quais são minhas reais necessidades, quais são os meus caprichos e quais os meus vícios.

Obrigado por me permitires compreender que nenhuma de minhas necessidades deve ser suprida através da privação das necessidades de outros seres humanos.

Agradeço por minhas dúvidas, que compõem os caminhos da minha verdade de maneira mais saudável que as certezas.

Obrigado por este hoje que ainda não acabou, e por cada um dos “agoras”, dentro deste hoje, que me tornam o senhor de minhas decisões e um fascinado e atento aprendiz da vida.

Obrigado por me agraciares com a percepção de que viver num mundo onde todos tenham suas necessidades básicas atendidas é uma necessidade básica da humanidade, para que nossa liberdade possa ser exercitada e aprimorada por todos.

Obrigado pelos ventos na cara, pelo toque das peles, pelas cachoeiras e os banhos gelados, pelo oceano e pelas praias, pelos bichos que não voam, pelos passarinhos e seus cantos, pelas árvores, frutos e flores, pelos cabelos esvoaçantes, pelo céu, que muda de cores conforme a vontade do Sol, obrigado pelo Sol, pela Lua, por todos os horizontes que já me maravilharam e pelos maravilhosos horizontes que ainda não vi.

Obrigado por teres construído a utopia colorida, de um tamanho que eu pudesse enxergar bem, e grato por alimentares, em mim, o desejo de alcançá-la.

Obrigado, vida, por me ensinares que as buscas pela igualdade social, pela dignidade humana, pelo fim da fome e da miséria e pelo constante esclarecimento das ignorâncias não são caprichos, mas obrigações de todos os que receberam e assimilaram a lição de que a vida não quer ser um tormento para ninguém e de que deve sempre melhorar.

Obrigado, porque vai ter amanhã; e, se tiver chuva, posso decidir se fico praguejando em casa, se a admiro da janela, se faço bolinhos de chuva, se escrevo, leio ou se vejo um filme ou, ainda, se me entrego à chuva, deixo que ela me lave e me leve as impurezas, se danço ou jogo bola com os pés descalços, encharcado de vida.

Obrigado, vida, por me permitires enxergar o amor, mais que como um lindo sentimento, como um caminho e um poderoso instrumento para que se deem nossas mais essenciais transformações.

Obrigado, vida, por me permitires enxergar, a tempo, os perigos, ilusões e retrocessos presentes nos caminhos de quem se deixa guiar pelo ódio.

Vida, te agradeço por todas as desesperanças, pessimismos, desilusões e demais deslizes de que já me reergui. Agradeço por não viciares minha visão em te olhar apenas por enfoques deprimentes. Tua realidade não é só cruel nem só benevolente, nem só horrenda e nem só bela. Tu és a vida real, multifacetada, misteriosa e, indiferente aos caprichos humanos, muito linda!

Obrigado pela família, pelos amigos e por todas as pessoas com quem te decidiste a enriquecer minha existência. Todas são minhas mestras e ensinam, eficientemente, pelos inúmeros métodos cabíveis dentro de cada particularidade. Obrigado por meu desejo de falar sobre ti com as pessoas.

Sou grato pela morte, que virá quando passar meu tempo. Uma necessidade natural e biológica da vida na Terra, sem a qual eu sequer teria nascido. Obrigado pelo fato de eu desejar que todos vivam ao máximo até que a morte chegue e que nenhuma vida tenha seu tempo abreviado pela maldade e ignorância de alguém.

Obrigado por eu conseguir ser feliz e me encantar com o quanto pode ser maravilhosa a vida dos que virão depois de minha morte.

Sou muito grato pelos momentos felizes, pelo amor trocado, pelos sorrisos e pelas gargalhadas, pelos cães que abanam suas caudas, pelos abraços apertados, pelo cheirinho dos bebês, pelas crianças no cangote, pelos cafunés de mãe, pela arte, pela música, pela poesia e pelas festas!

Finalmente, sou grato por me fazer bem a gratidão e por eu ter decidido cuidar de minha vida.