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O Brasil vivencia um dos períodos de maior mortandade de primatas da história devido à febre amarela silvestre no país, segundo a Sociedade Brasileira de Primatologia (SBPr). Além das mortes pela infecção pelo vírus, autoridades suspeitam que macacos estejam sendo executados pela população pelo medo de transmissão da doença. O quadro prejudica a implementação de medidas preventivas pelas autoridades sanitárias e pode levar à extinção de espécies, prejudicando todo o meio ambiente.

“Os macacos são sensíveis ao vírus da febre amarela e a morte dos animais pela doença é um alerta aos órgãos de saúde sobre a necessidade de vacinação da população humana nos arredores. Ou seja, eles permitem aos gestores de saúde implementar estratégias preventivas, antes de o vírus atingir populações humana”, explica a diretora do Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz) e veterinária, Carla Campos.

Ela esclarece ainda que os primatas são tão vítimas da doença quanto os humanos, não a transmitindo diretamente. “Esses animais, assim como o homem, são hospedeiros do vírus e não reservatórios da doença. Os vírus ficam vivos neles por um período de tempo muito curto. Os mosquitos silvestres são os responsáveis pela manutenção do vírus na natureza. Portanto, matar macacos para acabar com o vírus não só é uma estratégia ineficaz, como pode agravar o quadro de risco para a população”, adverte ela.

Em comunicado, a SBPr esclarece que há consenso entre os especialistas de que os macacos não são os responsáveis pela disseminação da doença, embora ainda seja desconhecido o mecanismo de propagação do vírus por extensões geográficas tão vastas. O órgão ressalta que preservar os habitats naturais é essencial para o controle da febre amarela “Desflorestar ou matar macacos não impede a circulação do vírus da febre amarela. Na verdade, o efeito é danoso para a saúde pública, pois elimina o papel de sentinela dos primatas, que, ao morrerem pela doença, avisam as autoridades sobre a sua ocorrência. Os macacos têm, portanto, uma valiosa e insubstituível contribuição para a saúde pública”, explica o órgão.

As autoridades ambientais temem que as mortes por febre amarela somadas àquelas decorrentes de agressões contra os macacos possam levar à extinção de espécies, como aconteceu com o bugio-ruivo, em 2008 e 2009, no Rio Grande do Sul. Segundo o Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade, do Ministério do Meio Ambiente, o surto da doença afetou populações de bugio-preto (Alouatta caraya) e bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans), matando milhares de macacos, com registros de extinções locais, inclusive em unidades de conservação.

Animal doente ou morto

O Centro de Informação em Saúde Silvestre (Ciss/Fiocruz) orienta que, ao encontrar um macaco morto ou com comportamento estranho, deve-se contatar a secretaria municipal de saúde de sua cidade ou, no caso do Rio de Janeiro (capital) notificar pelo telefone 1746. Além disso, é indicado realizar a notificação no aplicativo Siss-Geo (disponível apenas para Android).

Segundo a bióloga, coordenadora do Ciss e do Programa Institucional Biodiversidade & Saúde, Márcia Chame, o aplicativo permite saber a localização exata do animal encontrado, pois utiliza o sistema de GPS do celular, além de enviar fotos. “Ao receber essas informações, notificamos imediatamente as autoridades sanitárias competentes, permitindo que esses animais sejam removidos de maneira correta e possam ser encaminhados para análise em instituições de referência, além de alertar essas instâncias para a necessidade de outras ações naquele local, como imunizar a população, por exemplo”.

Já no caso de maus tratos de macacos é possível denunciar pela Linha verde do Ibama (0800 61 8080) ou pelo e-mail [email protected], inclusive podem ser encaminhadas fotos e vídeos que auxiliem na identificação do crime e de quem o cometeu.

A doença

Segundo o Ministério da Saúde, a febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda, causada por um arbovírus (vírus transmitido por artrópodes), que pode levar à morte em cerca de uma semana, se não for tratada rapidamente. Os casos da doença no Brasil são classificados como febre amarela silvestre ou febre amarela urbana. O vírus causador e os sintomas clínicos da doença são os mesmos nos dois casos: a diferença entre elas é o mosquito transmissor. Na febre amarela silvestre, os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes transmitem o vírus e os macacos são os principais hospedeiros. Nessa situação, os casos humanos ocorrem quando uma pessoa não vacinada adentra uma área silvestre e é picada por mosquito contaminado. Na febre amarela urbana, o vírus é transmitido pelos mosquitos Aedes aegypti ao homem. O Brasil não registra casos desta doença desde 1942. (A Agência Fiocruz)