O Brasil tem uma grande dívida com a genialidade do cantor e compositor Belchior. Apesar de as principais universidades brasileira já desenvolverem pesquisa sobre a sua obra, há uma ausência do Estado brasileiro em reconhecer Belchior como algo realmente revelador e substancial da identidade brasileira.

O cantor e compositor cearense Belchior, de 70 anos, morreu na madrugada neste domingo (30) em Santa Cruz do Rio Grande do Sul. O corpo deve ser levado para o Ceará, onde ocorrerá o sepultamento na cidade de Sobral, onde o artista nasceu, segundo a Secretaria de Cultura do Estado.

Em pesquisa da USP, a trajetória na música brasileira do compositor Belchior é entendida como a busca por uma singularidade criadora, não ligada especificamente a nenhum grupo artístico-musical. A ideia foi defendida na pesquisa de doutorado da professora e radialista Josely Teixeira Carlos, que analisou canções de Belchior na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Segundo ela, Belchior investiu em procedimentos discursivos e argumentativos em suas músicas, dentre eles os recursos linguísticos que criam um diálogo polêmico com outros cancionistas, em especial com Caetano Veloso.

Em 2005, Belchior abandonou a então mulher Ângela para passar a viver com a Edna Prometheu depois de conhecê-la no ateliê do amigo comum Aldemir Martins. E aí começa uma nova narrativa mitológica do cantor. Ele deixa de fazer shows e abandona os bens pessoais, segundo registro da imprensa e da Wikipedia. Enfrentou processos judiciais relacionados a pensões alimentícias de duas filhas e um processo trabalhista. Por causa desses processos Belchior teve contas bancárias bloqueadas e por isso ficou impedido de retirar o dinheiro relativo aos direitos de suas músicas. Com isso, viveu de favores em casas de conhecidos e instituições de caridade.

Em 2009 a Rede Globo noticiou um suposto desaparecimento do cantor. Segundo a emissora, o cantor havia sido visto pela última vez em abril de 2009, ao participar de um show do cantor tropicalista baiano Tom Zé, realizado em Brasília. Turistas brasileiros afirmam terem-no encontrado no Uruguai em julho do mesmo ano. As suspeitas foram confirmadas quando Belchior foi encontrado no Uruguai, de onde concedeu entrevista para o programa Fantástico, da Rede Globo. Na entrevista, o cantor revelou não haver desaparecido e estar preparando, além de um disco de canções inéditas, o lançamento de todas as suas canções também em espanhol. (Glauco Cortez)

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