Motivado por manifestações em apoio à Operação Lava-Jato e pró-impeachment do governo Dilma Rousseff, o Movimento Brasil Livre (MBL) surgiu em 2014, autointitulando-se como uma organização de cunho liberal. Formado em sua maioria por jovens com menos de trinta anos, seus principais líderes são Kim Kataguiri e o vereador Fernando Holiday (DEM-SP).

Apesar deste verniz “jovial e descolado”, que o grupo utiliza como maquiagem, suas ações são eminentemente conservadoras, com um viés anti-esquerda extremo. Tal macarthismo exacerbado leva, inclusive, esse think tank a fazer publicações simplesmente bizarras em suas mídias sociais, apelando até para calúnias: as chamadas fake news.

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Confira, a seguir, os episódios mais inacreditáveis protagonizados na web por esse movimento.

 1 – Programa “Esquenta!” é de extrema-esquerda
 
 

Criado apenas como uma proposta de programa popular, voltado especialmente para o público das classes C e D, o programa Esquenta!, da Rede Globo – cuja apresentadora era Regina Casé (escolhida por ter “cara de povo”, conforme a própria disse uma vez) – sempre foi muito criticado pela esquerda devido à folclorização que fazia da pobreza e por sua conivência com a repressão do Estado nas periferias.

Contudo, no fim de 2016, quando veio a notícia de que, após 5 anos no ar, o “Esquenta!” seria então cancelado, houve uma efusiva comemoração por parte da direita, como foi o caso do MBL, o qual chegou ao ponto de declarar em suas publicações que um “programa ultra-esquerdista (sic) foi cancelado” e que a “a extrema-esquerda (sic) perdeu um espaço importante de propaganda” (veja mais sobre este episódio aqui).

2 – Maior parte dos oito mais ricos do mundo são de esquerda

No início do ano, a ONG britânica Oxfam denunciou em seu relatório que oito pessoas no planeta possuem tanta riqueza quanto a metade mais pobre da população mundial, situação “indecente” que “evidencia as desigualdades”.

Entretanto, na falta de argumentos para rebater o relatório, o MBL simplesmente “acusou” esses oito bilionários de serem de esquerda. Na lista chega a constar nomes como o de Warren Buffett, CEO e sócio da Berkshire Hathaway, adorado em Wall Street (onde se localiza a bolsa de valores de Nova Iorque), Amancio Ortega, fundador da Zara (empresa não muito adepta dos direitos trabalhistas, sendo alvo, inclusive, de diversas ações judiciais) e até Bill Gates (isso mesmo!). Para o MBL todos são“esquerdistas”.

3 – Mentira sobre protesto em velório de Fidel Castro

Essa calúnia foi publicada pelo MBL no final de 2016 e aponta para um detalhe ocorrido durante o funeral do ex-presidente de Cuba, Fidel Castro. Só que na verdade, as pessoas que aparecem de costas não estão protestando. Elas estão servindo de cordão de isolamento para evitar que o povo invada a pista durante a passagem do féretro.

Como podemos verificar no vídeo feito pela agência de notícias alemã Deutsche Welle, quem está virado de costas apenas forma uma fila de pessoas lado a lado:

Aqui, em outro momento, podemos ver os voluntários servindo de segurança para o cortejo fúnebre:


E nesta imagem abaixo podemos ver muito mais gente virada de frente do que de costas:


Em síntese, o povo cubano não estava de costas como forma de protesto contra o ex-presidente Fidel Castro (até porque, um protesto como esse seria encerrado rapidamente pelas autoridades locais). Na verdade, as pessoas que aparecem nas imagens são voluntários que serviram de cordão de isolamento durante a passagem do corpo.

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4 – Convocação da população para lutar contra os próprios direitos

Pasmem! O MBL chama a população às ruas para defender a reforma trabalhista, que corta seus próprios direitos trabalhistas, e a reforma da previdência, que exige 49 anos de contribuição para aposentadoria integral.

 
5 – Comemoração do exército nas ruas

Por conta da grande quantidade de atos criminosos ocorridos após a greve da Polícia Militar do Espírito Santo, o Exército foi acionado para atuar emergencialmente no Estado no último mês de fevereiro.

Porém, o mais curioso neste incidente, foi o fato do MBL, um movimento autodenominado liberal, ter comemorado o exército nas ruas, uma genuína intervenção militar que retrata o mais autêntico autoritarismo estatal.

 

6 – Hipócritas condolências à morte de Teori Zavascki


No início do ano, logo após a morte do então ministro do STF, Teori Zavascki, o MBL fez uma série de posts em sua página no Facebook em homenagem a Teori. Nelas o movimento mencionava inclusive as ameaças sofridas por ele ao longo do período de sua atuação como relator da Lava-Jato. No entanto, o próprio MBL certa vez incitou uma pressão popular contra o magistrado e chegou, ainda, a inflar um “Pixuleco” em alusão ao ministro em protesto, além de já ter divulgado seu endereço e contatos quando o mesmo tomou decisões que contrariaram o movimento.

 

7 – “Somos apartidários”

Quando fundado, o movimento se definia como apartidário e sem ligações financeiras com siglas políticas. Em suas páginas nas redes sociais, fazia campanhas permanentes para receber ajuda financeira das pessoas, sem ligação com partidos.

Porém, em uma gravação de fevereiro de 2016, Renan Antônio Ferreira dos Santos, um dos três coordenadores nacionais do MBL, diz em mensagem a um colega do grupo que tinha fechado com partidos políticos para divulgar um de seus protestos usando as “máquinas deles também”. Os coordenadores do MBL também negociaram e pediram outros tipos de ajuda a partidos, pelo menos, a partir do ano passado. Entre eles estão: PMDB, PSDB, DEM e SD.

Nas últimas eleições municipais, a organização lançou 45 candidatos a vereador e um candidato a prefeito. Os partidos com mais filiados do MBL foram o PSDB e o DEM, com dez cada um. Havia ainda candidatos por PP, PSC, Novo, PEN, PHS, PMDB, PPS, PRB, Pros, PSB, PTB, PTN, PV e SD.

Além do prefeito do município de Monte Sião (MG), Zé Pocai (PPS), a entidade elegeu sete candidatos às câmaras municipais. A vitória mais significativa do MBL foi a de Fernando Silva Bispo, o Fernando Holiday, eleito vereador em São Paulo pelo DEM com pouco mais de 48 mil votos. Estudante negro de 20 anos, Holiday se notabilizou por vídeos nos quais criticava o sistema de ações afirmativas e cotas raciais. Aos poucos, foi ganhando relevância no MBL e passou a liderar alguns dos protestos do grupo.

Holiday, inclusive, agora integra a base de João Doria Júnior (PSDB), eleito em primeiro turno como prefeito de São Paulo. Durante as eleições, Holiday e seus colegas de MBL fizeram campanha para Doria e seu vice, Bruno Covas.

Outros candidatos eleitos pelo think tank foram Ramiro Rosário (PSDB), em Porto Alegre (RS); Filipe Barros (PRB), em Londrina (PR); Leonardo Braga (PSDB), em Sapiranga (RS); Caroline Gomes (PSDB), em Rio Claro (SP); Marschelo Meche (PSDB), em Americana (SP); e Homero Marchese (PV), em Maringá (PR).

Hoje, além de fazer propaganda do mandato de Doria, o movimento também empenha-se em defender as medidas e propostas do governo de Michel Temer, além de aceitarem servir de blindagem ao atual presidente. (Por Luan Torja – Do Voyager)