A utilização dos filtros de água em potes de argila, usado para armazenar água potável nas residência, é muito comum no Brasil.

Mas agora esses potes de argila estão sendo adaptados como uma tecnologia eficiente de baixo custo para o pequeno agricultor.

Por meio de uma parceria entre a Embrapa Amazônia Oriental (PA) e a Universidade de Makelle, da Etiópia, na África, a tecnologia foi estudada e implantada na região norte da Etiópia, sendo incorporada como política pública para agricultura familiar daquele país. No Brasil, o projeto foi batizado de IrrigaPote com pesquisas conduzidas em várias regiões do Estado do Pará e já apresenta resultados positivos em fruticultura e cultivo de hortaliças.

A tecnologia permite a oferta de água no solo em períodos de estiagem prolongada, tendo como foco a agricultura familiar. A pesquisadora da Embrapa Lucieta Guerreiro Martorano, responsável pelo projeto no Brasil, explica que, no processo, a água da chuva é captada por meio de calhas distribuídas ao longo dos telhados e depois armazenadas em reservatórios para então serem distribuídas para os potes de barro enterrados junto às culturas alimentares escolhidas pelos agricultores. “Uma tecnologia simples, de fácil implantação, que aproveita a água da chuva e garante as colheitas às famílias, gerando renda e segurança alimentar”, defende a cientista.

A pesquisa comparou a utilização dos potes em detrimento a outras formas de irrigação de baixo custo, a exemplo do gotejamento, mas o resultado demonstrou, entre outros aspectos, maior eficiência dos potes por evitar a evaporação e preservar água, além de apresentar menor custo.

Como resultado da etapa africana da pesquisa, concluiu-se que a panela ou pote de argila em forma de jarro não perfurado era a mais apropriada para o cultivo das culturas analisadas, como as hortaliças. De acordo com a pesquisadora, a tecnologia é relativamente simples e há séculos vem sendo utilizada em diversos países sem, no entanto, o estabelecimento de protocolos, testes e pesquisas de eficiência necessárias para uma validação.

Para a instalação do equipamento de irrigação, são necessários potes de barro (argila), além de tubos, flutuadores, conectores, higrômetros, calhas e tanques de água. Os potes são enterrados em covas junto às plantas a serem irrigadas e recebem, por meio de tubos, a água captada da chuva. A cientista conta que a diferença entre modelo africano e o brasileiro é que aqui a água segue automaticamente do reservatório para os potes, por meio do sistema de boias, semelhantes ao utilizado nas descargas dos banheiros ou caixas d’água.

A partir daí a natureza assume, e a planta vai prolongar suas raízes, que envolvem os potes, sugando a água necessária somente no período de estiagem. “Quando há oferta hídrica, com as chuvas, por exemplo, a água do pote permanece intacta”, garante a pesquisadora. Quando o solo seca, a força gravitacional faz com que a água condense na superfície do pote, que é feito de barro − uma substância porosa − e, por isso, a planta emite a raiz até o pote e capta a água que está condensada na superfície.

Com apoio da Emater do Pará, a pesquisadora instalou o projeto IrrigaPote na propriedade de dona Maria Cinira e João da Rocha. O sítio do casal está em processo de transição agroecológica e comercializa frutas e hortaliças em uma feira semanal de produção orgânica em Santarém. Dona Cinira contou que trabalha como agricultora há mais de 30 anos e que nos últimos anos vinha perdendo dinheiro e produção com a seca. “Não temos poço na comunidade e sofremos com a falta de água”, comentou a agricultora.

A situação vem mudando desde a instalação do IrrigaPote, como festejou a agricultora. “Para nós está sendo uma experiência muito boa. Minhas plantas estavam morrendo e eu não tinha solução. Os pés de acerola, que estavam morrendo, retornaram e já deram uma boa produção este ano. As outras plantas também estão renovadas e tenho certeza que só vão melhorar”, conta.

“O IrrigaPote aproveita a água da chuva e seu sistema não utiliza energia elétrica, resultando em economia para o agricultor que não precisa arcar com a despesa extra da conta de luz. Também ganha o meio ambiente no uso eficiente do recurso hídrico e no serviço ambiental como provisão de água”, defende a pesquisadora. (Carta Campinas com informações de divulgação)