Entre os convidados estão nomes de destaque na literatura contemporânea, como o poeta Marcelino Freire, agitadores culturais e artistas, como o também poeta AkinsKintê, um dos fundadores do sarau Elo da Corrente, da zona norte. Na parte musical, a cantora Fabiana Cozza interpreta Clara Nunes no primeiro dia de festival e o encerramento terá uma apresentação do rapper Criolo.
Entre os temas que serão debatidos durante a mostra está a literatura negra feminina. Uma das convidadas é a escritora mineira Cidinha da Silva, autora de nove livros, entre crônicas e histórias infantojuvenis.
Autoras negras
Os escritores negros estão, lembra Cidinha, entre alguns dos mais aclamados do país. Ela chama a atenção, porém, para o fato de que o enfoque racial costuma ser deixado de lado na análise da obra desse autores. “O que ocorre é uma desvinculação desses nomes ao seu pertencimento étnico-racial. Quando a gente estuda esses escritores na escola básica não tem essa vinculação deles com o pertencimento racial que têm e que é fundamental para a compreensão da obra”, ressalta.
No caso das mulheres, o contato só ocorre, segundo Cidinha, com esforço. “Esses autores e autoras existem, mas só costumam aparecer por meio da pesquisa acadêmica”, afirma a escritora, ao citar como exemplo Ruth Guimarães. Nascida em Cachoeira Paulista (19020-2014), no interior da São Paulo, escreveu poemas, cônicas e romances. Foi membro da Academia Paulista de Letras. Sua obra mais famosa é Água Funda.
“Publicou mais de 40 livros. Foi uma tradutora importante. Traduzia muita coisa da chamada literatura rural francesa”, diz Cidinha sobre Ruth. “Quando você passa a escrever, você é uma escritora ou escritor negro, você pesquisa. Mas você não tem acesso a isso na escola’”, comenta sobre como ela própria chegou a esses romancistas e poetas.
Ao levar esse tipo de discussão para a zona sul paulistana, a autora espera alargar o debate da dimensão racial na literatura feita nas periferias. “Há uma série de autores e a autoras importantes de São Paulo procedentes das margens, das periferias da cidade. E há uma série de autores e autoras que nem sempre se reconhecem como autores negros, têm uma identidade da periferia que é mais forte. Eu costumo dizer que é um pertencimento geopolítico-afetivo mais forte do que o racial”, afirma.
A programação completa da mostra está disponível na página no facebook. (Daniel Mello/ Agência Brasil)