As informações podem ser distorcidas por quem controla a informação

Por Regis Mesquita

Algumas pessoas se perguntam: porque a mídia (jornal, rádio, internet, etc) tem tanto poder se as pessoas juram que não são influenciadas por elas?

São raras as pessoas que assumem que são profundamente influenciadas pela mídia. Isto, obviamente, não é verdade. Pessoas são influenciáveis, algumas mais outras menos. Se você entender como funciona esta influência poderá se prevenir (neste texto vou focar em uma faceta desta manipulação mental).

Um exemplo: em junho de 2016, a câmara dos deputados aprovou um projeto de lei que permite que fazendeiros usem aviões para jogar agrotóxicos em suas plantações que estão em área urbana. Ou seja, se o sujeito tiver uma plantação dentro da cidade ele pode jogar veneno nas plantas usando um avião. Uma insanidade total. Uma lei completamente errada e desnecessária.

 Basta imaginar o vento levando este veneno para dentro das casas. Contaminando lagos e árvores frutíferas… Uma insanidade! (Leia mais aqui)

 Quase ninguém ficou sabendo desta lei e de sua aprovação. Os donos da mídia apoiaram discretamente esta lei. Apoiaram não tocando no assunto. Para muitas pessoas o que eles não falam NÃO EXISTE.

O que eles “falam” é o que estas pessoas prestam atenção. Quanto mais eles “falam”, mais elas prestam atenção. Mesmo que seja mentira (ou negativização da realidade), elas prestarão atenção no que for dito ou mostrado.

Vamos entender melhor: o segredo é hipervalorizar determinadas variáveis e desprezar outras (segundo o interesse de quem quer ser o dominador). É assim, por exemplo, que se forma a ciência de cada época.

“Não faz muito tempo cientistas famosos defendiam que as mães deveriam ser incentivadas a dar leite em pó para seus filhos, pois seria mais higiênico. Também evitaria a transmissão de doenças entre mãe e filho. Uma variável tornou relevante: higiene. Todo o RESTO DA REALIDADE FOI DESPREZADA.

As mães saíam da maternidade com lata de leite em pó para dar aos filhos. Leite em pó de graça …

Observe: a decisão de dar leite em pó para as crianças era baseada na higiene – eles acreditavam que preparar o leite na mamadeira era mais higiênico e evitaria muitas doenças para os bebês. Outras variáveis foram desprezadas: como a imunidade, a qualidade do leite materno, a disponibilidade da mãe e o vínculo mãe-filho. Este mecanismo “valorizo algo e desprezo algo” é o mecanismo mais usado para a dominação mental. Com este mecanismo a mente das pessoas é direcionada para pensar algo e se ESQUECER de algo.”   (leia o texto completo aqui)

Durante muitos anos as pessoas concordaram que o leite materno era pior do que o leite em pó. Concordaram porque prestaram atenção nos argumentos divulgados pela mídia da época. Elas se impregnaram com estes argumentos, de tal forma que os outros argumentos eram desprezados ou nem conhecidos.

Na minha época de escola, uma pergunta sobre a vida dos escravos era vista como “coisa de comunista”. Não se tocava no assunto. Era um assunto a ser rapidamente “deixado de lado”.

Mente impregnada: repetindo sempre os mesmos argumentos, desqualificando argumentos contrários e escondendo partes da realidade é possível controlar (em maior ou menor grau) qual assunto ocupará a consciência das pessoas e quais argumentos usarão para refletir sobre este assunto.

Exemplos:

1) foto de família pobre do nordeste: sempre será de família muito grande, com muitas crianças. Realidade: a taxa de natalidade destas pessoas caiu muito. Esconde-se, portanto, as famílias pequenas pobres e pequenas (que são em número cada vez maior). (Veja aqui)

2) tráfico de droga: os chefes dos tráfico de drogas sempre serão pessoas pobres, moradores de favelas. Mas, o tráfico não gera bilhões de reais em lucros? Será mesmo que os chefões estão nas favelas? Ou será que os chefões fazem parte da “roda de negócios” dos grandes milionários deste país? O tráfico não existiria sem condições de “lavar” bilhões de reais. Dia-após-dia o chefe do tráfico é o “neguinho do morro”, e as pessoas só lembram deles quando pensam em acabar com o tráfico de drogas. Elas sabem que tem gente muito rica envolvida? Sabem. Mas, esta informação vai logo para o segundo plano da sua mente. Ocupando a consciência das pessoas fica é o favelado.

Concluindo:

1) Faz parte da história humana a disputa sobre o que prestar atenção e o que valorizar. E a disputa sobre o que desprezar e não prestar atenção.

2) Esta disputa significa a dominação da mente das pessoas, pois determina o que elas vão pensar e como elas vão se sentir.

3) A dominação mental faz com que as pessoas tenham atitudes que são contra os seus interesses ou contra os interesses mais nobres de uma sociedade  (por exemplo: pessoas de classe média que são contra políticas de distribuição de renda: estas políticas favorecem o aumento da classe média, gerando mais emprego e renda para os filhos da classe média).

Regis Mesquita é o autor do Blog Psicologia Racional e da coluna “Comportamento Humano” aqui no site Carta Campinas