daniel arroyo ponteDe um lado, brancos e ricos querendo que o Estado continue a matar as crianças e cidadãos que foram excluídos.

De outro, negros e pobres querendo que o Estado pare de matar os cidadãos ou crianças excluídas.

Era para ter sido o dia em que aproximadamente 20 moradores do Morumbi, bairro nobre da zona sul de São Paulo, quase todos brancos, se reuniram para declarar apoio aos policiais que mataram uma criança de dez anos, Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira. Mas um grupo um pouco maior, com cerca de 30 pessoas, quase todos negros, vindos de bairros da periferia, mudou a história que se desenrolou na manhã do último sábado (11/6).

Levando faixas que chamavam os manifestantes do Morumbi de “racistas assassinos” e cartazes com os rostos de jovens mortos em chacinas cometidas pela Polícia Militar em Osasco (SP) e Mogi das Cruzes (SP), os negros roubaram a cena da manifestação dos brancos bem no coração do Morumbi, diante do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

Cada grupo se instalou de um lado da Avenida Morumbi, os militantes da periferia gritando “racistas, fascistas, não passarão” e “não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar”, enquanto os moradores do Morumbi respondiam com “apoiamos a PM” e “criança é na escola, bandido é na cadeia”.Nesse embate, os representantes do Estado escolheram um lado. Diante dos manifestantes brancos, um grupo de seis policiais que atuam na segurança externa do Palácio bateu uma solene continência e agradeceu pelo ato. (Texto integral da Ponte)