Por Thais Dibbern

woman-984140_640Diante do aumento de casos de microcefalia, é importante trazer um assunto considerado como tabu para diversas pessoas, o aborto. Mas, antes de iniciar tal debate, um assunto anterior deve ser compreendido. O zika vírus, transmitido pela picada do mosquito Aedes Aegypti, tida como uma causa para a epidemia de microcefalia e outras malformações congênitas, é ponderada por muitos, culpa do governo.

No entanto, há de se considerar que não é o governo quem deixa pneus e calhas juntando água, ou até mesmo vasilhames espalhados pelos quintais. Apesar disso, antes da epidemia ocorrer, é o governo quem deveria buscar formas para conter o aumento e prevenir novos casos, como por exemplo, campanhas informativas, visita às casas, fumacê, entre outras medidas. Ou seja, combatendo explicitamente o mosquito causador da dengue, febre chikungunya e zika vírus.

Voltando ao tema proposto anteriormente, o assunto aborto segue como um dos maiores tabus em saúde no Brasil. Muitas mulheres, optando por interromper uma gravidez indesejada, procuram por clínicas clandestinas compostas por pessoas despreparadas e em situações precárias.

No país, o aborto é legalizado em algumas situações: quando existe risco para a vida da mulher; quando a gravidez é resultado de violência sexual; quando existe gravidez de feto anencefálico. Além de ser a quinta maior causa de mortes no país, o aborto pode levar à prisão. E, para mudar este cenário, é necessário mudar a relação entre a bancada evangélica e o Estado (que era para ser laico). Bandeiras contra o aborto, o casamento gay e a luta pela discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, são os principais temas que a bancada evangélica atribui como “projetos que não se identificam com princípios bíblicos”.

Considerando o aborto como uma questão de saúde pública e direito da mulher, como podemos relacionar com os casos de microcefalia? Ora, este pode ser um tema complicado, já que é diagnosticado tardiamente, mas, continua sendo um direito da mulher. Somente ela tem o direito de fazê-lo, devendo ser apoiada pela família e o médico, do qual a orientação deve ser precedida.

Mas, por que incluímos no título a expressão “abandono pelos homens”?

Caros, não é de hoje que os próprios pais abandonam seus filhos, dos quais muitas vezes crescem sem a presença de quem resolveu romper os laços com a família, assim, de uma hora para outra. “Ele me culpou por nosso filho nascer com microcefalia”, “o homem tem dificuldade em assumir a criança”, ou “foi uma gravidez inesperada e ele me abandonou, não queria ter um filho desse jeito”, são alguns argumentos que surgem com naturalidade e que as mães aprendem a conviver.

Mulheres jovens são as mais afetadas, algumas tiveram gravidez inesperada, não possuem um emprego fixo e vivem com seus pais, além de não possuir uma situação financeira que seja capaz de suprir as necessidades básicas da própria família. Mas imagina, nenhum pai iria abandonar um filho assim! Pois bem, adivinhem o que aconteceu? Em Pernambuco, homens abandonaram mães de bebês com microcefalia, e muito provavelmente, não somente em Pernambuco e por este motivo.

Algumas mulheres denominam o abandono pelos homens como “aborto masculino”, no entanto, comparar o aborto com algo tão desprezível quanto a falta de caráter de um homem que abandona seu filho, prejudica, ainda mais, a descriminalização de um direito.

Thais Aparecida Dibbern é graduanda em Gestão de Políticas Públicas pela Unicamp