Arlei participou no último final de semana do 5º Congresso do PSOL, em Brasília, em que se discutiu a atual crise política do Brasil e se definiu posições em relação ao impeachment de Dilma Rousseff (PT). Nessa entrevista, ele também falou sobre os erros que levaram o PT a passar de um dos governos mais bem avaliados para uma das mais baixas avaliações em tão pouco tempo, assim como o avanço conservador que se assistiu durante o ano de 2015.
Carta Campinas: O sr. participou no final de semana passado do 5º Congresso do PSOL, em Brasília, o mais importante do partido e em um momento crucial para o país. Qual a posição do partido sobre o impeachment de Dilma Rousseff (PT)?
Arlei Medeiros: Uma das grandes discussões foi realmente sobre impeachment e a conjuntura política atual. O PSOL é oposição ao governo Dilma, mas uma oposição de esquerda. Não concordamos com o governo, mas avaliamos que o impeachment não é a solução e entregar o governo para Michel Temer e Eduardo Cunha só vai piorar a situação da população. Além disso, não há elementos concretos que liguem Dilma à corrupção. Por isso, o partido não apoia o impeachment e essa decisão foi tomada durante o Congresso.
Quais foram os principais erros do PT no governo e que levaram o partido a esta situação?
Existem vários erros e situações que levaram a isso. Mas o PT ficou dependente do capital, do financiamento empresarial de campanha. O partido se distanciou das bases sociais e passou a ser dirigido por quem tem mandato. Tudo virou uma disputa institucional. Além disso, houve um crescimento desenfreado da legenda. Pessoas que nada tem a ver com o PT, não tem o perfil de esquerda, entraram no partido porque era uma máquina eleitoral. O PT também mirou o governo federal, a presidência da República, como um fim em si mesmo, e fez inúmeras concessões para chegar ao governo.
E essa situação do PT atual não atinge todos os partidos de esquerda?
O PSOL já ocupa um espaço na política de esquerda. E o PT está desgastado por 12 anos de governo; quem vai para o governo sempre sofre desgaste. Com a crise internacional, não tem a fartura de antes. A juventude olha para o PT e o vê como de centro, de direita. Quem tem 20 anos hoje entrou na política vendo o PT como governo, aplicando ajuste fiscal, etc. O PSOL é uma alternativa de esquerda, uma opção de vanguarda que dialoga com a sociedade, diferente de outros partidos de esquerda.
E em Campinas? Qual sua avaliação sobre o governo de Jonas Donizette (PSB)?
É a montanha que pariu um rato. A expectativa era grande, mas se resumiu à velha política clientelista. Saúde e educação pioraram, com o agravante da dengue, doença da pobreza, da desorganização, da falta de planejamento sanitário. E continua com nível baixo da avaliação das escolas. É inexplicável. O transporte coletivo piorou, com retirada de cobradores, passagens caras e subsídios altos para as empresas. A mobilidade urbana passa a cada dia a ter mais relevância. Saúde, educação e transporte são as coisas principais que precisam de mudanças e que só pioraram. O resumo da ópera do governo Jonas é um governo clientelista, que se sustenta nas autarquias, é a velha política.
E como sr. vê esse avanço conservador de 2015 em todos os níveis? Na esfera municipal, lei que tenta impedir a discussão de gênero na cidade; no âmbito estadual a proposta de fechamento de escolas mantendo 40 alunos por sala de aula e na esfera federal a ascensão de Eduardo Cunha e os projetos conservadores?
Acredito que seja um processo cíclico esse avanço conservador. Durante uma década e meia, a América Latina promoveu avanços e agora há um recuo. Os governos foram bem sucedidos no início, mas foram constantemente atacados pelas elites e pela mídia. E agora não estão respondendo aos anseios da população. Há uma disputa ideológica entre esquerda e direita que não é só econômica, é uma disputa cultural, social, de comportamento, de consumo etc. A situação de crise leva ao questionamento de que existe uma saída à direita e os conservadores vão ganhando confiança. Mas logo a população vai perceber que é uma enganação. O que precisamos é de mais liberdade e de mais democracia. (Carta Campinas)