Por Guilherme Boneto
Coloque-se no lugar da Paula, lá no Rio Grande do Sul. Ou ponha-se, em vez disso, no papel do Gabriel, que daqui a alguns anos terá idade suficiente para discernir algumas coisas.
Imagine o que é para a Paula ler comentários no Facebook no qual sua própria mãe é chamada de “vaca”, “vagabunda”, “bandida”. Reflita a respeito do que ela sente ao saber que algum imbecil criou um adesivo a ser encaixado no tanque de combustível dos automóveis, e no local onde se encaixa a bomba para abastecer, encontra-se o órgão genital de uma mulher, num “protesto” (?) contra a alta do preço dos combustíveis. No lugar da cabeça da mesma montagem grosseira, está o rosto da mãe da Paula. É engraçado?
Já o Gabriel, felizmente, ainda não é capaz de assimilar o quanto as pessoas podem ser horríveis, mas será dentro em breve. O que é para uma criança saber que a vovó era chamada dos mesmos nomes que citei acima? O que isso provoca na cabeça de um menino que ainda não viu nada do mundo? Como fará a Paula para proteger o Gabriel dessa imbecilidade? Tenho a mais absoluta certeza de que ela reflete sobre isso com absurda frequência.
Nenhum dos dois é um personagem fictício, e como eu gostaria que fosse…
A Paula, como você já percebeu, é a filha da presidenta Dilma Rousseff. O Gabriel tem 5 anos, é seu único neto e espera um irmãozinho. Ambos são a família que resta à chefa do poder executivo. Você é capaz de imaginá-la como uma senhora de 67 anos? Consegue restringir suas justas críticas ao campo político?
Dilma pode ser uma péssima presidenta. Ou pode ser ótima, a depender de quem julga. Nada disso tira dela a condição de ser humano, de mulher. Estou convencido de que a maioria das pessoas não sai xingando a presidenta em público dos nomes que citei aqui, nem de outros equivalentes, justamente porque ainda temos dentro de nós um mínimo de humanidade. A minoria que o faz, porém, é barulhenta e se faz ouvir nos quatro cantos do país. Certamente que suas palavras, seus vídeos, suas montagens chegam à Paula e ao Gabriel de alguma maneira. Eu não quero pensar o que eu sentiria se visse uma grosseria qualquer que envolvesse a minha mãe, vinda de pessoas que eu nem conheço, movidas pelo ódio e pela ignorância.
O governo da presidenta Dilma merece as análises mais ácidas. Nós, brasileiros, devemos nos aprofundar em cada medida, cada ação tomada pelo Palácio do Planalto e fazer críticas não apenas públicas, como enviar e-mails, cartas, telefonemas cobrando mudanças nos rumos tomados. Devemos estar atentos às alianças e ao que o governo pretende fazer no futuro próximo. A minha proposta, que fique claro, não é apoio incondicional e irrestrito a Dilma ou a qualquer membro do governo, que dirá do PT. Rogo apenas para que nos lembremos: a presidenta da República não é uma máquina de governar, é uma mulher, uma senhora com uma trajetória brilhante e admirável, e a sua vida pessoal não é da conta de ninguém para que nós tenhamos a petulância de levantar hipóteses a respeito.
Se a figura da presidenta lhe deixa cego de ódio, pense na Paula e no Gabriel. Você os atinge com igual ou maior intensidade quando passa dos limites. Quando perdemos o respeito pelo próximo em virtude de discordâncias, creio que tenhamos de separar um momento para refletir a respeito de nós mesmos.
Guilherme, concordo absolutamente que não deveriam se utilizar de meios tão “chulos” quanto aos utilizados ao se referirem a presidente do país, porém, posso compreender a revolta popular das pessoas que votaram nela e que agora perceberam que houve um verdadeiro estelionato eleitoral.
As palavras e adesivos que foram feitos para atacar a presidente, são, sem dúvidas, uma falta de respeito a qualquer pessoa, mesmo que não fosse a chefe do executivo do país, porém, não podemos negar que uma grande parte da população encontra-se muito revoltada com todas as mentiras que ela contou para se eleger presidente pela segunda vez. Tudo o que ela nos disse que a oposição faria, foi exatamente o que ela fez, realmente é possível entender a revolta da população…
Esse ódio nasce do medo de quem acredita que pode perder alguns privilégios com a redução (ainda que mínima) de nossa imensa desigualdade social.
Gui, você falou muito bem.
Também sou a favor desse argumento e de olhar as coisas por esse ponto de vista.
Não importa o nível da revolta social. Enquanto as pessoas não puderem ser capazes de enxergar as coisas com um olhar um pouco mais “elevado”, continuarão perdendo, protestando nas ruas sem nem ao menos saber o porquê de gritarem, que dirá a melhor forma de fazer isso… 🙁
Sr. Guilherme, parabenizo-o, apesar de saber que seus lúcidos argumentos (e/ou todos os EDUCADORES deste mundo, reunidos) não serão capazes de corrigir pessoas que agem da forma como descreveu: não lhes falta apenas senso humanitário, mas educação de berço (já pensou em QUE “BERÇO” DEVEM TER TIDO?): falta-lhes respeito, consciência, senso de responsabilidade, noção de que “o plantio é livre, mas a colheita tem efeito inevitável”.